O Estado de Goiás voltou a apresentar crescimento na taxa de infecção (Re) de Covid-19, com índice acima de 1,0. Este número é o patamar para a avaliação da situação epidemiológica, já que uma taxa acima disso representa uma aceleração da pandemia, pois um paciente infectado consegue transmitir o coronavírus para mais de uma pessoa, enquanto que índice menor que 1,0 significa a desaceleração da curva. Desde o mês de setembro, a taxa em Goiás estava abaixo de 1,0, mas o novo cálculo da situação no Estado, feito pelo grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG), indica um Re de 1,13, com dados até o último dia 11.Em setembro, os mesmos pesquisadores calcularam um R em 1,04. Agora, eles apontam que o índice está em crescimento em Goiás desde o início de novembro, de acordo com a Nota Técnica 10 publicada pelos pesquisadores, ligados ao Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFG. No entanto, acreditava-se até o início deste mês que a taxa ainda estaria abaixo de 1,0. “Quando os dados começam a se consolidar, é possível ver um padrão. Estava abaixo de 1,0, mas estava aumentando e agora, que passou de 1,0, a infecção acelera”, explica o biólogo e professor José Alexandre Felizola Diniz Filho.A nova Nota Técnica reforça que o atraso para a apresentação dos dados também interfere na atualização dos cálculos. Diniz Filho ressalta que mesmo com a sensação de queda da curva epidemiológica havia receio dos pesquisadores em reforçar que isto ocorria. Para se ter uma ideia, na última Nota Técnica, de setembro, a Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO) publicava a existência de 198 mil casos confirmados de Covid-19. Os pesquisadores, no entanto, estimavam que haveria entre 220 mil e 260 mil positivos. Para fazer o novo cálculo e levando em consideração o período de ocorrência dos casos, foi possível verificar hoje que naquela mesma época o Estado tinha 243 mil casos confirmados, o que corrobora com o modelo estudado pela UFG. “A taxa caiu pelo uso dos protocolos sanitários, mas deixaram de usar e ela volta a subir. Hoje as autoridades saberiam como controlar, tem de ver se a população vai colaborar”, diz o professor.Para a realização do cálculo da taxa de infecção em dezembro, o grupo levou em consideração os dados publicados até o dia 11 de dezembro. Com isso, eles também calcularam a taxa para as cidades com mais de 100 mil habitantes do Estado, no que foi possível identificar situações preocupantes, especialmente na região do Entorno do Distrito Federal (DF) e também no Sul. Em Formosa, nas proximidades de Brasília, a taxa de infecção chega a 2,23, o que significa que 100 pessoas com o vírus transmitem para outras 223. Em Catalão, esse índice também passa de 2,0 e atinge o patamar de 2,07, números que eram vistos no começo da pandemia, ainda em março e abril.Também nas proximidades da capital federal, cada 100 contaminados em Águas Lindas estão transmitindo o coronavírus para outras 181 pessoas, e em Luziânia essa relação é de 100 pacientes para outros 127 novos positivos para Covid-19. O número é semelhante ao de Valparaíso, na mesma região, com índice de 1,24. Por outro lado, também no Entorno do DF, em Novo Gama, o estudo da UFG aponta uma taxa de infecção ainda abaixo de 1,0, com 0,73, valor que é semelhante ao que foi calculado para Jataí, no Sudoeste do Estado, com 0,74. Situação em Goiânia pode piorar a partir de janeiroDentre os índices de transmissão da Covid-19 calculados pelos pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG), o de Goiânia foi utilizado para uma projeção da curva epidemiológica para os primeiros dias de 2021. A taxa média de infecção na capital está em 1,27 e se “voltar a valores um pouco menores do que 1,0, a epidemia estaria sob controle até o fim de janeiro, sem um aumento significativo no número de óbitos”, indica o estudo.O professor José Alexandre Felizola Diniz Filho estima que se a capital manter o índice atual, no mês de janeiro haverá uma alta considerável de casos confirmados. “Manter isso entre 1,2, e 1,3 daqui a pouco estoura. Agora estamos com poucos casos ativos e, por isso, aumenta pouco o número de casos. Mas é uma progressão geométrica. Tem de voltar a abaixar esse R”, diz o pesquisador.O superintendente de Vigilância Sanitária da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Yves Mauro Ternes, ressalta que a taxa de infecção sofre várias influências e que, por isso, a curva epidemiológica não tem sido analisada apenas neste índice. “Tivemos este aumento, mas não é preocupante porque sabemos que ainda estamos em pandemia. Nós nos baseamos na quantidade de internações, de óbitos, de ocupação hospitalar. Essas oscilações do R acontecem pelo comportamento da população.”Para Ternes, a maior preocupação da SMS é em relação às aglomerações que têm ocorrido em bares, restaurantes e festas, até mesmo clandestinas. “Chama mais a atenção em função das festas de fim de ano. Tem alguns Estados que estão proibindo os encontros, mesmo familiares. Não chegamos nesse ponto. O que a gente orienta é que façam com menor número de pessoas e para não expor as pessoas que são do grupo de risco”, argumenta o superintendente. O município não deve proibir festas em hotéis e restaurantes, comuns nesta época do ano, mas Ternes lembra que os protocolos devem ser seguidos.A subida da taxa de infecção se deu ao mesmo tempo da reta final das eleições municipais, onde havia aglomerações. Para Ternes, não é possível fazer essa relação direta. “São pontos de aglomeração e um fator de risco, mas não dá para dizer que seria só isso, pois teve flexibilização para os bares também.” Secretaria estadual vai publicar nota informativa aos municípiosA Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO) informa que está “elaborando uma Nota Informativa direcionada aos gestores municipais alertando sobre esta previsão de aumento de casos, e solicitando aos municípios um planejamento para as ações e medidas de prevenção e controle que estão sendo adotadas”. O documento terá como base a Nota Técnica publicada pelos pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) que estima a atual taxa de infecção (R) da Covid-19 no Estado e nos municípios com mais de 100 mil habitantes. O documento feito pelos professores da universidade conclui que o R, “após uma queda contínua a partir de julho-agosto de 2020, voltou a subir a partir do início de novembro, estando atualmente acima de 1,0 e indicando potencial aceleração da pandemia no Estado”. Ele reforça ainda que há “a necessidade de monitorar continuamente o aumento de hospitalização por Covid em leitos convencionais, assim como casos graves requerendo internação em UTIs” (unidades de terapia intensiva).A taxa acima de 1,0, permanecendo de forma continuada, “pode levar a uma nova recrudescência de casos com surto no Estado a partir do início de 2021”, informa os pesquisadores. Para eles, esse aumento do R está “associado a flexibilizações progressivas e possivelmente um menor rigor quanto ao seguimento de protocolos de prevenção” e, por isso, recomendam a continuidade de ações “como diagnóstico e isolamento de casos, rastreamento e quarentena de contatos” e que a população mantenha as medidas de segurança em uso.-Imagem (1.2166638)