A temperatura média anual em Goiânia subiu 1,2°C em 30 anos. A informação é do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), que divulgou a normal climatológica de 1991 a 2020. Nas últimas três décadas, no comparativo com o período de 1961 a 1990, houve queda na umidade relativa do ar, principalmente nos meses de inverno e primavera. As mudanças climáticas da capital são consequências do crescimento urbano acelerado.“Não é nem um pouco inesperado esse incremento da temperatura do ar em Goiânia. Afinal, é uma tendência global o aumento da temperatura”, explica Diego Tarley Nascimento, professor do Instituto de Estudos Socioambientais(Iesa), da Universidade Federal de Goiás (UFG).Nesta segunda-feira (28), O POPULAR mostrou que a temperatura média atual também aumentou em outras estações do Inmet em Goiás, variando de 0,6 °C a 1,3 °C de elevação quando comparadas as normais meteorológicas de 1961 a 1990 e de 1991 a 2020.Leia Também:- Temperatura média em Goiás está até 1,3°C mais altaPara se ter ideia do avanço urbano de Goiânia nos últimos 30 anos, em 1991, de acordo com o Censo, a capital tinha 920,8 mil moradores. Em 2021, a população gira em torno de 1,5 milhão. “É uma dinâmica que reflete em diminuição da cobertura vegetal para implantação de superfícies concretas e asfálticas, construções de casas, prédios e outras estruturas, além de maior fluxo de veículos automotores. Tal dinâmica de apropriação e ocupação do espaço ocasiona em mudança do fluxo de radiação, que resulta na elevação da temperatura do ar e redução da umidade relativa do ar”, diz Nascimento.O aumento da temperatura média da capital é semelhante ao apresentado pelo Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), que afirma que desde a Revolução Industrial houve um incremento de até 1,2º C na temperatura global. Em Goiânia, houve um aumento da temperatura média em todos os meses do ano (veja quadro). O mês com maior aumento da temperatura média foi setembro, que é justamente o período mais quente do ano e que marca o término do período de estiagem na região.Os meses de inverno também apresentaram um aumento da temperatura média. Junho, por exemplo, teve crescimento de 1,6°C, o que demonstra que essa estação está ficando mais quente. Os meses com menores elevações foram os do verão. Março teve um incremento de apenas 0,7°C. “A menor elevação neste período pode ser justificada pela presença das chuvas, que ameniza a temperatura”, afirma Nascimento.Quando consideradas as normais climatológicas de 1961 a 1990 e de 1991 a 2020, as temperaturas máximas tiveram um aumento médio anual de 1,5°C e as temperaturas mínimas de 0,9°C. “O que representa que as temperaturas mais elevadas registradas durante os dias estão aumentando ainda mais”, enfatiza o professor.Considerando os meses, o maior aumento da temperatura máxima foi registrado em de outubro, com elevação de 2,2°C. Em relação à temperatura mínima, o maior acréscimo ocorreu em julho e agosto, ambos com 1,6°C. “Ou seja, as noites frias do inverno estão se tornando cada vez mais quentes.”ChuvasO volume de chuvas da capital não apresentou uma tendência significativa para elevação ou redução. Entretanto, o gerente do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas do Estado de Goiás (Cihmego), André Amorim, aponta que isso não é necessariamente um sinal positivo para a capital. “Fechamos ano passado (2021) com 2 mil milímetros. Agora, eu pergunto: cadê essa água?”Amorim esclarece que apesar de as chuvas continuarem ocorrendo, o período de estiagem muitas vezes está sendo mais longo, o que provoca um risco de desabastecimento de água na capital. Todos os anos, o nível de criticidade da vazão do Rio Meia Ponte, responsável por levar água para Goiânia, precisa ser monitorado pela Secretaria de Estado de Meio-Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad). Em 2017, a situação chegou à iminência de um possível racionamento.O gerente do Cihmego explica ainda que, na capital, ocorrem muitos episódios de chuva extrema. Em fevereiro de 2021, por exemplo, em duas horas, foram registrados 132 milímetros(mm) de chuva, o equivalente a 60% do esperado para o mês inteiro.“Além dessa chuva não ser absorvida da maneira correta pelo solo e não ficar retida no lençol freático e nos rios, ela causa destruição na cidade”, explica.Nos últimos anos, a capital enfrenta problemas com alagamentos, inundações, erosões e até mesmo o abalo de estruturas físicas, causados por episódios de chuvas violentas. Em fevereiro deste ano, a Defesa Civil de Goiânia monitorava 99 áreas de alagamento na capital.Reportagem do POPULAR do dia 16 de março mostrou que os setores Residencial Vale do Araguaia e Jardim Califórnia, na região Leste de Goiânia, possuem duas pontes totalmente interditadas e, pelo menos, outras duas com a estrutura danificada. O grande volume de chuvas, combinado com o avanço urbano, propiciou o aumento do volume do córrego Água Branca e, consequentemente, a formação de erosões.-Imagem (1.2428028)