O inquérito que apura a denúncia que atribui a morte do barbeiro Chris Wallace da Silva, de 24 anos, a agressões cometidas por policiais militares de Goiânia conta com depoimento de testemunha que diz ter presenciado a ação. O relato, obtido com exclusividade pelo POPULAR, aponta que a série de agressões ocorreu após militares questionarem horário em que jovem estava na rua: por volta das 19 horas.No depoimento dado à Polícia Civil, a testemunha diz que caminhava pela Rua VF 36, no Residencial Fidélis, no dia 10 deste mês, quando viu policiais militares saírem de uma viatura e abordarem dois indivíduos. Pelo relato, os abordados eram Chris e um amigo dele, identificado apenas como Marcos. A testemunha diz que permaneceu em local com pouca iluminação observando a abordagem.Conforme relata a família, Chris lutava contra um câncer nos osso há dez anos. No dia da abordagem havia saído de casa com o amigo para ir a uma distribuidora de bebidas. O barbeiro teria voltado cerca de 20 minutos depois, vomitando sangue e com lesões pelo corpo. Antes de ser levado ao Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), disse à família que havia sido agredido durante abordagem policial. No Hugo, onde morreu após seis dias, o jovem deu entrada com descrição médica de espancamento, mesma razão apontada no certificado de óbito.Os registros de uma câmera de segurança comprovam que uma viatura passou pela rua pouco tempo depois de Chris e Marcos serem registrados pelo aparelho. De acordo com a testemunha ouvida pelos investigadores, ela própria não teria visualizado posse de armas de fogo, drogas ou qualquer outro objeto no início da ação dos policiais, que teriam apenas solicitado a documentação dos dois abordados e os repreendido pelo horário que estavam em via pública. O local da suposta ação policial fica a cerca de 200 metros da casa de Chris, na Região Oeste, periferia da capital.A testemunha diz no depoimento que decidiu ir embora do local, mas antes que fosse foi surpreendida com o início da série de agressões contra um dos abordados. Na descrição da cena que indica que o agredido era Chris, o depoimento detalha golpes de cassetete, tapas no rosto e batidas da cabeça do jovem contra a parede. A testemunha afirma ter escutado o agredido alertando aos policiais que tinha câncer nos ossos. “Não obstante, as agressões não foram cessadas”, traz um dos trechos do depoimento.Após a série de agressões, Chris teria sido liberado pelos policiais e Marcos permanecido sob controle dos PMs, também sofrendo agressões. Em determinado momento, a testemunha diz ter escutado de um dos policiais que atiraria na perna de Marcos caso ele saísse do local, mas que mesmo assim ele teria corrido. Foi só depois deste momento que os militares entraram na viatura e deixaram o lugar.Silêncio é mantidoQuase 72 horas após o registro da denúncia junto à PC e com o andamento das investigações, que nesta sexta (19) direcionou agentes à região em busca de imagens de câmera de segurança, ainda não há qualquer posicionamento público da Polícia Militar do Estado de Goiás (PM-GO) sobre o caso. A Secretaria de Segurança Pública (SSP) também não se posiciona e diz que a responsabilidade pela manifestação é da PM.Emanuel Rodrigues, um dos advogados da família, reclama do silêncio. “Nós continuamos aguardando posicionamento da SSP, do governo e da Corregedoria da Polícia Militar, que até agora não se manifestaram sobre o caso, não identificaram os policiais e não deram nenhuma satisfação à sociedade do que está acontecendo. Onde está o registro da abordagem, que até agora não foi apresentado?”, cobra o advogado.A reportagem procurou a assessoria de comunicação do Governo de Goiás para perguntar se há algum posicionamento do Executivo estadual com relação às denúncias. A solicitação não foi respondida até o fechamento desta reportagem, na noite desta sexta-feira (19).Medo da famíliaA irmã de Chris, Aline da Silva, diz que a família está com medo de possíveis intimidações. Ela e a mãe haviam decidido que mudariam do bairro, mas adiaram o plano pela rotina cheia de depoimentos. “Estamos com medo, trancadas em casa o tempo todo. Se sai é só de carro. Todo canto que olho me lembra dele, mas por agora temos que continuar aqui”, relata Aline.