Os servidores e pacientes do Centro de Saúde da Família (CSF) Leste Universitário, em Goiânia, têm visto aumentar, dia após dia, o risco de desabamento do teto da unidade. Do lado de fora é possível ver o telhado curvado. Dentro do prédio, o forro de gesso tomado por mofo já tem vários pedaços que caíram e outros estão dependurados. A situação, conforme relatos, é amplamente conhecida, mas não recebe atenção da gestão municipal. “Quando chove vai todo mundo para o refeitório, porque é o único cômodo que tem laje. A gente sabe que em algum momento vai cair”, conta servidora.A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) diz que uma vistoria realizada no local apontou a necessidade de intervenções imediatas, mas descarta o risco de desabamento. “Uma ordem de serviço já foi emitida para que a empresa contratada, por licitação, faça os reparos necessários”, aponta a SMS sem dar data para o início dos trabalhos. A pasta também diz que a construção de um novo prédio para abrigar o CSF é uma prioridade, porém não informa quando isso deve ocorrer.A situação precária da unidade do Leste Universitário não é exceção. Em relatório apresentado na semana passada, a Comissão de Saúde e Assistência Social da Câmara Municipal disse que das 104 unidades visitadas em julho, 65 apresentaram situação estrutural precária; “Condições físicas incompatíveis com a atividade de saúde: paredes rachadas, infiltradas e mofadas, consultórios sem ar-condicionado, salas sem ventilação nem iluminação, banheiros interditados”, destaca trecho do relatório.O Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde no Estado de Goiás (Sindsaúde) cita que o quadro já conhecido tem inclusive piorado nos últimos meses. “O que nos causa espanto, já que na prestação de contas da Prefeitura, realizada na semana passada, falou-se de superávit. Se o dinheiro está sobrando, então resta concluir que o problema é de má gestão”, diz Néia Vieira, presidente em exercício do Sindsaúde.Após os servidores comunicarem o receio de desabamento do teto do CSF Leste Universitário, a equipe teria recebido um treinamento para encarar situações de emergência. É o que conta uma enfermeira do local que pediu para não ser identificada. “Uma semana depois chegaram com um treinamento, mostrando o que devíamos fazer caso algo caísse na cabeça de um colega, por exemplo”, denuncia a servidora, que reclama: “A nossa expectativa era de solução do problema e não de um treinamento para tragédias.”Leia também:- Santa Casa de Anápolis pode fechar ao menos 50 leitos de UTI por falta de verba, diz deputado- Pedidos de leitos Covid para internação crescem 50% em Goiás- Secretaria de Saúde diz não ter intenção de renovação automática de contratos com OSs em GoiásNa semana passada o Sindsaúde se reuniu com a coordenadora da área do Patrimônio Público do Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO), promotora Fabiana Zamalloa, para tratar sobre a situação estrutural de diversas unidades. “O que os servidores e pacientes do Leste Universitário estão descrevendo são denúncias recorrentes em outros locais: teto caindo, mofo, instalações elétricas aparentes, riscos de acidente com trabalhadores e usuários”, descreve a representante do Sindsaúde.A promotora Fabiana diz que a orientação para o Sindsaúde foi de formalizar denúncia ao MP, o que foi feito nessa quinta-feira (15). “Enquanto coordenadora, ainda não posso fazer juízo de valor da situação. A denúncia já foi recebida, será distribuída e então analisada pelos promotores”, diz a promotora.DiálogoA presidente do Sindsaúde afirma que a busca pelo diálogo sobre o tema tem se arrastado nos últimos anos. “A sensação é de que há intencionalidade em manter da forma que está para justificar uma possível terceirização. É a única justificativa que conseguimos encontrar, já que tem dinheiro sobrando”, diz Néia.Como representante dos servidores, a presidente em exercício diz que, apesar da descrença com a inação mesmo diante dos problemas em evidência, a categoria segue acreditando na possibilidade de melhorias. “O que nos mantém é a esperança de que nossas ações possam ser transformadas em mudanças”, diz.O presidente da Comissão de Saúde da Câmara, vereador Mauro Rubem (PT), diz que a Prefeitura informou que contratou uma empresa para centralizar os reparos. Essa medida foi anunciada em outubro do ano passado. Na época, a SMS reconheceu ao POPULAR os problemas generalizados, indicando que a solução passaria pela contratação da empresa terceirizada. Para Mauro Rubem, no entanto, o ritmo de ações é incompatível com a necessidade da rede.“Entre começar os reparos em uma e alcançar todas, levaremos anos”, diz o vereador. Em sua avaliação, a solução do problema passa pela descentralização de recursos, possibilitando aos gestores das unidades contratarem pequenos reparos. “Na semana passada aprovamos um projeto para que isso seja efetivado, agora depende do prefeito”, diz o parlamentar.Violência nas unidades também teria piorado Outro ponto de reclamação dos servidores da Saúde de Goiânia segue sendo a segurança pessoal nas unidades. De acordo com o Sindsaúde, funcionários estão sofrendo com ameaças, furtos e até agressões em razão da falta de agentes de seguranças nos postos. O serviço de segurança patrimonial é feito por agentes da Guarda Civil Metropolitana (GCM), mas deixou de ser fixo. “A presença deles inibia a violência”, considera Néia Vieira, presidente em exercício do Sindsaúde. A violência nas unidades de saúde foi tema de reunião entre a GCM e a SMS em janeiro deste ano. Na ocasião, representantes dos dois órgãos discutiram o aumento dos números de agressões e abordaram a elaboração e divulgação de um protocolo de condutas de segurança entre os gestores dos postos. De acordo com os dados da GCM, entre dezembro de 2020 e dezembro de 2021, houve um aumento de 33% nas agressões aos profissionais da Saúde nas unidades. Na época, segundo o levantamento, os Centros de Atenção Integrada à Saúde (Cais) Cândida de Morais, Campinas, Vila Nova, Finsocial, Bairro Goiá e Amendoeiras foram os que mais registraram agressões nos últimos anos. A região Noroeste liderava a lista de unidades com o maior número de agressões, seguida por Central, Leste, Oeste, Sudoeste, Norte e Sul.Segundo Néia, a situação entre janeiro e dezembro não melhorou. “Temos sido notificados de que a unidade de Campinas, por exemplo, tem sofrido com violência de forma recorrente”, diz a representante. Como exemplo da insegurança nas unidades, a presidente contou ao POPULAR em reportagem publicada no último mês que, durante uma visita do sindicato e da Comissão de Saúde da Câmara ao Centro de Referência em Diagnóstico Terapêutico (CRDT), eles tiveram acesso às áreas internas sem se apresentarem e sem nenhum impedimento. “Passamos pelo refeitório e pela farmácia, onde há medicamentos, inclusive de controle especial”, afirma Néia.Essa situação, segundo ela, tem sido apresentada tanto para o Ministério Público como para o Ministério Público do Trabalho (MPT). “É uma realidade concreta e que precisa da intervenção. Temos corrido atrás e mostrado que os problemas são sérios”, diz.