Menos de uma semana após o crime, a autônoma Kelly Brito, de 38 anos, ainda não consegue conter as lágrimas ao falar sobre o marido, Erceli Miguel Pinto, de 49. O homem foi morto com um tiro no pescoço na porta de casa no último sábado (16), em Aparecida de Goiânia, quando saía para comprar pão. O principal suspeito, que chegou a confessar o crime, é um coronel reformado da Polícia Militar, de 62 anos.Erceli e Kelly eram casados há 16 anos. Ao POPULAR, a mulher conta que a situação que culminou na morte do marido teve início ainda em 2020, quando ele decidiu pegar, mesmo contra sua vontade, a demanda da construção de uma casa para o coronel.“Ele estava tendo pouco serviço, por causa da pandemia. Daí teve um dia em que ele orou e pediu pra Deus mandar trabalho. Então ele encontro o coronel na pista de caminhada”, que fez a proposta da construção de uma casa para o filho, que também é policial.De acordo com a autônoma, o receio de Erceli decorria da fama de personalidade difícil do militar reformado, que teria o costume de judicializar as obras que contratava. “Ele tinha fama de brigão. Muito engenheiro recusava pegar serviço com ele.“Sei quem é sua esposa”Kelly relata que o serviço contratado era a construção de uma casa popular. No entanto, ao longo dos procedimentos de aquisição de material e construção do imóvel, exigências que estariam além do combinado começaram a surgir.Segundo a mulher, os contratantes da obra teriam começado a pedir itens usados normalmente em casas de alto padrão. Diante da recusa do engenheiro de sair fora do contratado, conforme a autônoma, as ameaças tiveram início.O coronel teria recebido, inclusive, uma foto de Kelly e dito a Erceli: “Já sei quem é sua esposa”. “Nada ele ficava satisfeito, ele nunca estava satisfeito. Ele processou o Erceli e o ameaçou na frente dos advogados”, recorda Kelly.Leia também:Coronel da PM confessa homicídio de engenheiro após discussão em Aparecida, diz políciaFilhos encontraram pai agonizando, ainda vivoÀ reportagem, Kelly relata que o imóvel contratado foi entregue e inclusive vistoriado por um advogado, que teria atestado que a casa estava em plenas condições.No entanto, ainda de acordo com a mulher, o fato de a construção não ter seguido suas exigências teria deixado o coronel da PM inconformado. Ela narra que o homem teria dito a Erceli que “sabia o horário em que ele descia para comprar pão” e que “ia pegá-lo”. “Ele escolheu o dia certo, um feriado, para não ser pego em flagrante”, afirma.O crime foi consumado na manhã do dia 16 de abril, sábado. Erceli havia descido para ir à padaria, quando foi alvejado com um tiro no pescoço. Segundo Kelly, os filhos do casal, um casal de gêmeos de 16 anos, encontraram o pai agonizando.“Eles encontraram o pai vivo ainda. Os bombeiros chegaram, mas ele morreu ainda lá no local”, diz Kelly, em prantos. “Estamos acabados. Ele não sabe o homem que ele tocou. Meu marido era um homem de Deus. Mas a justiça de Deus vai vir”.A mulher se refere a Erceli como um “ser humano difícil de se encontrar nessa terra”. “Foi a melhor pessoa que já conheci na vida, de um coração maravilhoso”.Liberado após depoimentoO coronel se apresentou espontaneamente e prestou depoimento junto à Polícia Civil na segunda-feira, dia 18 de abril. Conforme o delegado Rogério Bicalho, o militar alegou que teria encontrado com Erceli por acaso no sábado, enquanto fazia caminhada, e cobrado o serviço na casa.Os dois teriam se desentendido, e foi quando o PM reformado sacou a arma. Porém, ele disse à polícia que atirou para cima, mas acabou acertando o engenheiro no pescoço. Após o crime, ele revelou ter jogado a arma fora.O caso segue em investigação. Como não houve flagrante, o coronel da PM não foi preso.A reportagem do POPULAR entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública (SSP) no dia 18 de abril e, novamente, nesta quinta-feira (21), mas ainda não obteve retorno.A reportagem também tenta localizar a defesa do coronel. O espaço fica aberto.