Pelo menos três árvores caem por dia em Goiânia, segundo dados da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg). Até o fim de novembro do ano passado, o órgão somou 1.011 espécimes arbóreos que morreram na capital, um número 89,3% maior do que foi registrado em todo o ano de 2020, com 534 árvores caídas. Além disso, a Comurg realizou nesse mesmo período um total de 5.679 extirpações, que ocorrem quando os técnicos da companhia retiram a árvore já condenada em processo iniciado por populares junto à Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma). Com isso, 6.690 árvores da capital morreram até novembro de 2021.Com relação a 2020, o número total é 53,37% maior, visto que naquela época, considerando todo o ano, foram 4.362 árvores mortas, sendo que 3.828 foram extirpadas. O número também é maior com relação a 2019, quando a Comurg contabilizou 4.465 extirpações e 1.000 árvores caídas. Para o engenheiro agrônomo e ambiental Antônio Pasqualetto, vários fatores contribuem para a perda de espécies arbóreas na capital. A primeira delas é a idade das árvores. “É provável que muitas delas estejam no ciclo final da vida mesmo, visto que a urbanização de Goiânia se deu ali por volta das décadas de 1940, 1950 e tivemos muitas árvores vindas de fora, especialmente espécies de Mongubas”, diz.O engenheiro conta que estas árvores são remanescentes do primeiro paisagismo da capital, e estariam de fato mais vulneráveis. “Mas não é só um fator. Temos uma maior impermeabilização do solo. Mesmo no entorno das árvores as pessoas cimentam, o que dificulta muito a entrada de água nas raízes das árvores e criam ainda uma espécie de telhado para proteger espécies, como de insetos, que se alimentam das raízes, dos caules e acabam matando as árvores ali”, explica. Pasqualetto considera ainda o fator climático como crucial no aumento das quedas de árvores na capital, já que cada vez mais os eventos como chuvas e ventanias se tornam mais fortes e drásticos.Para se ter uma ideia, após uma chuva no dia 27 de setembro de 2021, a Comurg contabilizou a retirada de 36 árvores caídas em setores como Jardim da Vitória II, Bairro Ipiranga, Residencial Porto Seguro, Centro, Parque Atheneu e Sudoeste. Além disso, houve queda de 25 galhos após as chuvas. No dia 31 de outubro do mesmo ano, mais 15 árvores caíram nas regiões Central e Leste de Goiânia. De acordo com Pasqualetto, se as árvores não recebem manutenção ou poda adequada pode prejudicar a sua saúde. “Além disso, o aumento da verticalização na cidade faz direcionar o vento, que fica mais forte e também prejudica a arborização. Eu percebo, observando a cidade, podas muito drásticas prejudicam muito manter as árvores em pé”, afirma.DiferençaSuperintendente de Gestão Ambiental e Licenciamento da Amma, Ormando Pires, ressalta que é preciso diferenciar as quedas das extirpações. “A extirpação é algo mais planejado, ocorre depois de um processo que foi configurada a necessidade de retirar as árvores. O aumento está mais ligado até a uma atuação mais constante e construtiva da própria Amma”, diz. Já sobre as quedas, Pires acredita que o aumento se dá a partir da falta de conscientização sobre os cuidados com as árvores. “Árvore é igual animal de estimação, tem que cuidar, buscar uma poda de equilíbrio, um biólogo para orientar.”Pires afirma ainda que no processo de extirpação a Amma determina que seja plantada outra árvore no local, o que não ocorre com as quedas. “Nós até indicamos qual árvore é a mais adequada para o local.” Pelos números da Amma, em todo 2021 foram realizadas 1.121 extirpações, sendo 198 na área interna dos imóveis e 590 na área externa. Há ainda 175 árvores que tiveram pedidos dos moradores para a retirada e que constam na Amma como nenhuma atividade realizada, ou seja, o processo não foi finalizado ainda. Para Pires, o trâmite é algo que dá parâmetros para evitar uma extirpação desnecessária.O engenheiro Pasqualetto ressalta que seria necessário fazer a substituição também das árvores que sofreram quedas. “A gente vê ações pontuais, como o ArborizaGyn (em que a Amma realizou o plantio de 50 mil árvores ao mesmo tempo), mas não vemos verificação nas ruas mesmo, na arborização urbana, para plantar, verificar como está”, acrescenta. Ele lembra ainda que é importante o uso de espécies do Cerrado na troca de árvores exóticas, mas que também seria fundamental pensar, no ambiente urbano, o uso de árvores que possuem uma copa com folhas também no tempo de seca, para ter sombra e transpiração atmosférica.Plano Diretor está com o PaçoO Plano Diretor de Arborização Urbana (PDAU) já está em tramitação pelo quinto mandato de prefeito consecutivo sem ser apreciado pela Câmara Municipal. No momento, o Paço Municipal pediu a retirada do projeto, que voltou para o Executivo para ser analisado. Os estudos foram feitos em 2007, com a gestão de Iris Rezende (MDB), mas demorou para ser enviado para a análise dos vereadores, o que ocorreu apenas em junho de 2016, pelo ex-prefeito Paulo Garcia (PT). No entanto, com a volta de Iris ao Paço em 2017, o projeto foi restituído para ser analisado pela nova gestão. Apenas em maio de 2020, depois de ser totalmente reformulado e sem atualização robusta do estudo feito em 2007, o novo projeto de lei chegou aos vereadores. No entanto, em fevereiro de 2021, também sob o argumento da troca de gestão, o projeto foi restituído e passa por nova análise. Não há uma data estimada para que o PDAU volte para a Câmara. Segundo o Superintendente de Gestão Ambiental e Licenciamento da Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma), Ormando Pires, a falta do plano prejudica a arborização urbana. “Não ter o PDAU atrapalha muito, pois reduz os dispositivos que teríamos para fiscalizar e regulamentar”, diz. O engenheiro Antônio Pasqualetto diz que a ausência de um direcionamento impede a política de arborização da cidade e até mesmo os benefícios que as árvores geram em ambiente urbano.