Somente 60 dos 236 equipamentos eletrônicos de fiscalização previstos para as rodovias federais operadas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) em Goiás estão instalados, o que corresponde a 25,4%. Ao todo, mais de 3 mil equipamentos foram retirados das vias em todo o Brasil no começo de 2019 e seriam trocados por novos em um processo licitatório iniciado em 2018, mas o governo federal passou a praticar política de redução da quantidade de equipamentos.Entre questionamentos à licitação e a nova política de trânsito para as rodovias, a União fez a homologação de um acordo com o Ministério Público Federal (MPF) para a instalação de 1.140 equipamentos em julho de 2019. O Dnit não informa quantos seriam para as rodovias federais em Goiás, apenas garante que tem cumprido o acordo e que os radares são instalados após estudos técnicos. Das 21 BRs do Estado, apenas dez possuem fiscalização eletrônica, sendo que três destas estão sob concessão e não entram na conta dos radares.Na BR-050, de responsabilidade da Eco050, há seis equipamentos e mais quatro na BR-040, da Via040. A Triunfo Concebra, que detém a concessão de trechos das BRs 060, 153 e 262 possui 101 radares, mas não apenas em território goiano. No momento, os equipamentos fixos da empresa passam por manutenção e estão sendo trocados. A previsão da concessionária é que a situação seja normalizada até o início de dezembro. Não foram informados quais equipamentos e em quais locais estão sem operação. Válido lembrar que o trecho da Triunfo passa também pelo Distrito Federal e por Minas Gerais.A quantidade de equipamentos de fiscalização nas vias em concessão é a mesma desde 2018, não sofrendo alteração por licitação ou política nacional. Por outro lado, ainda no caminho da redução de equipamentos, outros 12 radares foram instalados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) na BR-364, restando apenas 48 que são, de fato, responsabilidade do Dnit e constariam no processo licitatório de 2018. Além disso, desde 2019, houve restrição no uso dos radares móveis, por parte da PRF.À época, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmava que haveria uma indústria da multa no Brasil, chegando a dizer ser impossível viajar pelo País sem receber alguma notificação. Desde então, o uso dos radares móveis se tornou restrito a determinados locais que devem ser divulgados após estudos técnicos. Para este mês, são 41 pontos em que os equipamentos podem ser usados em Goiás, a maior parte na BR-153 (14) e BR-060 (11), sendo as vias com maior fiscalização eletrônica. A PRF afirma que usa os radares móveis diariamente.Para o professor do curso de Engenharia de Transportes da Universidade Federal de Goiás (UFG), Cristiano Farias, os radares são instrumentos importantes para a segurança viária. “Vários estudos mostram a importância para garantir a segurança dos condutores e reduzir o número de acidentes”, diz. Ele complementa que a fiscalização eletrônica, seja de qual tipo for, funciona como uma barreira em que os motoristas reduzem a velocidade e, por consequência, há um menor risco de ocorrer acidentes. Acidentes têm alta em relação a fluxoEm 2019, primeiro ano com um número menor de radares para efetuar a fiscalização eletrônica, foram registrados 3.358 acidentes nas rodovias federais em Goiás, uma média de 9,2 ocorrências por dia. Em 2020, foram 3.228 acidentes, com média diária de 8,81, uma redução de 4,24%. No entanto, a expectativa era de que essa diminuição nos números fosse no patamar de 20% para considerar que os índices se mantiveram estáveis, visto que esta é a estimativa de redução no volume de tráfego nas rodovias nacionais em razão da pandemia de Covid-19, com as medidas de contenção.Neste ano, até o dia 22 de novembro, a média diária de acidentes é de 8,18, uma redução de cerca de 11% em relação a 2019. O professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) Cristiano Farias aponta que são anos atípicos e por isso não seria possível a comparação, visto que os dados estariam mascarados. Para se ter uma ideia, com relação às multas, entre 2018 e 2019, ainda em época pré-pandemia, a redução na quantidade de multas registradas foi de 57,72%. Número que é ainda mais elevado se levar em consideração as infrações registradas apenas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), com queda de 89,97%.O professor do Instituto Federal de Goiás (IFG) e engenheiro de trânsito Marcos Rothen lembra que a legislação sobre a fiscalização no trânsito não foi modificada. “O problema é que as pessoas que têm responsabilidade se omitem. Sempre foi necessário fazer estudo técnico que comprove a necessidade de um radar, mas não faz”, diz. Segundo ele, os estudos deveriam ser feitos de modo preventivo e técnico, a partir das características das vias, mas que normalmente são feitos apenas levantamentos de acidentes nos locais. “O certo era prevenir, não esperar ocorrer o acidente para ver que é perigoso”, afirma.Rothen acredita que as rodovias federais em Goiás estão mais inseguras no momento, tanto pela falta de fiscalização eletrônica quanto pela manutenção de equipamentos nas rodovias em concessão, como na BR-153/060. “A fiscalização diminuiu mesmo, não se vê mais viaturas. O motorista tem que dirigir defensivamente, mas mesmo fazendo tudo certo ainda é perigoso, paga por alguma ultrapassagem proibida de outro condutor”, acrescenta. Para ele a situação ocorre também porque os motoristas já conhecem as vias e a situação, sabendo não haver a fiscalização.Já Cristiano Farias entende que não é possível saber qual a interferência na sensação do motorista o fato de saber não ter fiscalização eletrônica nas rodovias. “De fato, os radares diminuem a velocidade e reduzem o risco de acidentes, mas não vi estudos sobre o comportamento do motoristas por saberem que não estão sendo fiscalizados, se vão correr mais ou como vão agir”, diz. Ele reforça que mais de 95% dos acidentes ocorrem por influência dos condutores.-Imagem (1.2359763)