A transmissão intrafamiliar do novo coronavírus (Sars-CoV-2) tem preocupado as autoridades de Saúde e os especialistas da área devido ao aumento de casos de pessoas com parentesco infectadas pela doença. Prova disso é que em Goiânia, segundo o médico epidemiologista e membro do Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública para o Novo Coronavírus (COE), João Bosco Siqueira, no terceiro inquérito sorológico, feito no dia 20 de junho, a prevalência da doença nos familiares das pessoas que testaram positivo para a doença pelo exame rápido foi de 50%, enquanto para a população em geral o resultado deu 2%.Siqueira alerta que se os procedimentos corretos (veja quadro) não forem tomados dentro de casa, o isolamento social perde a eficácia. “É preciso que quem sai de casa, por qualquer motivo que seja, tome cuidado na hora de voltar. Se não, uma pessoa pode acabar infectando toda a família”, esclarece. Na capital, em uma família, 19 pessoas contraíram a doença e 11 são casos suspeitos, sendo que um membro morreu pela Covid-19 e outro está internado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI).A agente de viagem Helena Francesca, de 36 anos, acredita que a transmissão entre os membros da família ocorreu no velório da mãe dela, Carmem Gomes, de 63, que faleceu no dia 19 de junho. “Ela tinha câncer e precisou ser internada. Dois dias antes de morrer ela recebeu alta e já estava com alguns sintomas. Acredito que ela tenha contraído a doença”, diz. Cerca de 30 pessoas da família participaram do velório e do enterro de Carmem. “A causa do óbito foi insuficiência respiratória. Por isso, mesmo usando máscara e álcool o tempo todo, velório não seguiu nenhum protocolo de Covid-19.” Helena relata que depois do sepultamento de Carmem, diversas pessoas da família foram adoecendo, inclusive ela, o irmão, o esposo e os três filhos.Das cinco tias e um tio de Helena, apenas uma, que não esteve presente no velório, não contraiu a doença. Outras três foram infectadas e uma está com suspeita da doença. O tio da agente de viagem está hospitalizado. “Infelizmente, uma das minhas tias veio a falecer no último domingo (5)”, lamenta.Duas tias, um tio e a avó de Helena precisaram ser internados, sendo que o tio segue hospitalizado em uma UTI no Pará. “Ele veio para o velório da minha mãe e depois voltou para o Estado onde mora. Lá, ele começou a apresentar sintomas.”A avó da agente de viagem, que já tem 88 anos, recebeu alta nesta quarta-feira (8). “Como estamos todos contaminados, estamos tendo contato”, diz. Nesta quarta, a família se reuniu para contar para a avó de Helena sobre o falecimento da tia Estela Gomes, de 47 anos. “Foi um momento difícil”, enfatiza. A agente de viagem admite que parte da família foi negligente com os cuidados contra a Covid-19. “Os meus tios e tias mais velhos não estavam acreditando muito na doença. Quando minha tia faleceu e meu tio foi internado, eles levaram um susto. Agora todo mundo está sendo mais cuidadoso” , relata.O titular da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Aparecida de Goiânia, Alessandro Magalhães, diz que muitas pessoas estão fazendo o isolamento social de forma errada dentro de casa. Tanto que também notou um aumento nos casos de transmissão intradomiciliar na cidade.“Algumas pessoas não entenderam a gravidade da situação e acham que em casa podem relaxar. Não se isola da família, mas apenas dos outros. Temos percebido um aumento no número de casos de transmissão dentro de casa”, comentou.DificuldadesProprietária de uma escola de inglês, Daniela Silva, de 42 anos, e o esposo também se contaminaram com a Covid-19. Eles estão em isolamento social há 16 dias e Daniela acredita que os dois filhos, de 7 e 4 anos, também estão infectados. “Eu e meu esposo fizemos o exame, mas eles ainda não, pois precisamos levar no pediatra. Entretanto, eles estão com sintomas”, explica. Daniela e os filhos estão cumprindo o isolamento desde o início da pandemia, mas o esposo dela sai diariamente para trabalhar. Ela conta que desde de o momento em que soube que estava infectada, sabia que os filhos também acabariam se contaminando.O epidemiologista João Bosco Siqueira reconhece que para determinadas famílias é mais complicado cumprir o isolamento em casa. “Tem famílias que não têm muito espaço, são grandes, dividem o mesmo banheiro, etc. São muitas variáveis que afetam a questão”, pontua. Vigilância em Saúde faz alerta sobre cuidadosPara o superintendente de Vigilância em Saúde de Goiânia, Yves Ternes, as pessoas tendem a se cuidar menos em casa. Yves ressalta a importância de se lavar as mãos imediatamente após entrar em casa e evitar contato com os outros moradores antes da higienização correta. Há casos, segundo ele, de pessoas que se mantêm em casa, mas que acabam contraindo a doença por causa de outros moradores da residência que têm uma rotina que exige se deslocar externamente. Desde meados de junho, ele tem alertado para um aumento no relato de pacientes com Covid-19 que contraíram a doença após outra pessoa na mesma residência ter se infectado como é o caso da tia da agente de viagem Helena Francesca, de 36 anos. Estela Gomes, de 47 anos. Ela se infectou com a Covid-19 no seio familiar e faleceu no último dia 5. -Imagem (1.2082280)