Caso o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2021 do Governo Federal seja aprovado com os valores atuais, a Universidade Federal de Goiás (UFG) não terá condições de se manter funcionando até o final de 2021. “Vamos ter que parar”, afirma o reitor da instituição, Edward Madureira. A universidade perderia, neste ano, depois de cinco anos sem reajustes, 18% do orçamento discricionário, destinado para o pagamento de despesas como energia elétrica, água, limpeza e segurança. Cortes já foram feitos nessas áreas e em bolsas de assistência estudantil.No ano passado, o Ministério da Educação (MEC) transferiu cerca de R$ 59 milhões para a UFG. Neste ano, a previsão é de cerca de R$ 48 milhões. “Não tivemos reajuste e agora houve uma redução. Entretanto, os contratos que temos com as empresas não deixam de ter os valores reajustados e a universidade não para de crescer. Assim, a conta não fecha”, diz o reitor.Madureira aponta que, com a escassez de dinheiro, a UFG tem priorizado compromissos com as áreas fins, como as bolsas - que sofreram cortes -, em detrimento das áreas meio, como, por exemplo, a prestação de serviços terceirizados. “Não tem onde cortar. A verdade nua e crua é essa”, destaca.O reitor diz ainda que teme que as prestadoras de serviço comecem a executar os contratos. “Quando uma delas interromper as atividades e entrar com um mandado de segurança a universidade vai ter que parar e só vai poder voltar a funcionar quando tudo for pago. Não é isso que queremos. Sabemos que a UFG é extremamente frutífera em Goiás”, explica.A UFG tem sido parceira de Goiás e dos municípios no combate a Covid-19. Além de ter um grupo de modelagem que estuda o avanço da doença no Estado e ajuda as autoridades na tomada de decisões, a instituição também empresta equipamentos e força de trabalho para o poder público. Além disso, a universidade presta atendimento diretamente à população no Hospital das Clínicas (HC).Com a pandemia do coronavírus (Sars-CoV-2), algumas contas da universidade tiveram redução. A de energia elétrica, que ficava em torno de R$ 1,5 milhão por mês quando a universidade estava funcionando normalmente, teve uma queda de 30%. Os gastos com viagens de professores para atividades acadêmicas também caiu. Entretanto, Madureira explica que isso não é suficiente para sustentar o impacto causado pela redução do orçamento.OrçamentoO PLOA será votado pelo Congresso neste mês. Madureira, que é presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), afirma que os reitores de todo o Brasil têm conversado com os deputados de seus Estados e que ele tem mantido diálogo constante com os parlamentares para tentar fazer com que o valor do orçamento não sofra corte e o texto, enviado pelo Ministério da Economia, seja alterado.A UFG já iniciou 2021 devendo R$ 7,8 milhões. A conta tem aumentado nos primeiros meses deste ano por causa do atraso na análise e aprovação do PLOA no Congresso. Por conta disso, a UFG tem recebido mensalmente apenas o equivalente a 2,2% do orçamento anual previsto. O valor corresponde à liberação de 1/18 por mês de 40% do total do orçamento discricionário previsto no PLOA.Isso porque 60% do recurso das universidades e institutos foram definidos no projeto como programações condicionadas a aprovação legislativa, ou seja, dependem ao longo do ano de aprovação pelo Congresso. Comumente, enquanto o Orçamento Geral da União (OGU) não é aprovado, a liberação mensal era equivalente a 1/12 do valor anual do orçamento.Bolsas tiveram mudançasA assistência estudantil dos universitários da Universidade Federal de Goiás (UFG) também enfrentou cortes e remodelações por conta de cortes orçamentários. Para 2021 está programada uma redução de R$ 4 milhões do valor de cerca de R$ 20 milhões que era enviado pelo Programa de Assistência Estudantil (PNAES) anualmente. “Tivemos que nos adequar. Se não fizéssemos isso, não teríamos dinheiro para pagar as bolsas de novembro e dezembro deste ano”, afirma o reitor da UFG, Edward Madureira.Para evitar cortes severos, a universidade mudou algumas coisas. Um mesmo estudante não pode mais acumular diversas bolsas. “Demos prioridade para moradia e alimentação. Quem recebe essas bolsas, não vai poder receber outras”, diz Madureira. A Bolsa Permanência, no valor de R$ 400, foi extinta. No lugar, a instituição passou a oferecer a Bolsa de Apoio Pedagógico, de R$ 300. Ela atenderá até 800 estudantes. Madureira afirma que inicialmente, por enquanto, a universidade receberia apenas 1/18 do PNAES, mas depois de negociações com o Congresso, o valor liberado mensalmente passou a ser o equivalente a 1/12 do valor total previsto para o ano no Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2021. “Se conseguirmos mais dinheiro, queremos ampliar a assistência”, destaca.O dirigente da assistência estudantil do Diretório Central dos Estudantes (DCE), da Universidade Federal de Goiás (UFG), Walex dos Santos, diz que os estudantes entendem que o corte é de iniciativa federal, mas afirma que é preciso que a UFG se posicione de forma mais incisiva. “A maioria das pessoas que recebem a bolsa é de baixa renda, vem de outra cidade e estuda em tempo integral e não tem como trabalhar”, explica.Walex conta que os estudantes têm organizado entre si uma rede de apoio. “A verdade é que tem gente passando muita dificuldade e estamos tendo que nos ajudar.-Imagem (1.2209580)