A Universidade Evangélica de Anápolis (UniEvangélica) está em busca de voluntários, pessoas com deficiência visual, para participar de uma pesquisa sobre os efeitos da estimulação transcraniana de forma não invasiva para melhorar o equilíbrio e a marcha, resultando em mais autonomia e independência. O trabalho, que faz parte do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Movimento Humano e Reabilitação (PPGMHR) da instituição, é realizado em parceria com o Instituto Politécnico de Milão (Itália) e a Faculdade de Medicina da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.Conhecida como Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua, a técnica utilizada na pesquisa é indolor. Coordenadora do Centro de Pesquisa da UniEvangélica, que também está à frente do estudo, a professora doutora Cláudia Santos Oliveira explica que o participante recebe uma corrente elétrica baixa e contínua apenas na região cerebral de interesse, estímulo que pode potencializar os efeitos dos exercícios físicos, quando realizados juntos. “Isso ocorre porque as habilidades sensoriais são intensificadas. Em crianças com deficiências visuais, os resultados podem ser ainda mais promissores, prevenindo possíveis atrasos motores.”Embora ainda seja considerada uma técnica inovadora, a estimulação transcraniana, segundo a pesquisadora, vem sendo utilizada há alguns anos com bons resultados. “Começou com pacientes pós-Acidente Vascular Cerebral, também foi utilizada em casos de depressão e com crianças com paralisia cerebral. Em cada caso uma área específica do cérebro é estimulada, seja ela motora, visual, auditiva, cognitiva, de comportamento, etc. Nesse caso específico, estamos trabalhando o equilíbrio e a marcha de pessoas com deficiência visual”, detalha Claudia Santos Oliveira.O estudo, que é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Goiás (Fapeg), traz esperança para cerca de 7 milhões de pessoas que no Brasil convivem com algum tipo de deficiência visual, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), feita em 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Muitos desses indivíduos possuem problemas relacionados ao equilíbrio e à coordenação motora. Quando sofrem traumas ou quedas, podem ter lesões sérias”, explica a coordenadora científica da UniEvangélica.Antes de participar da pesquisa, os voluntários são submetidos a uma bateria de testes e avaliações. Um dos testes é a Análise Tridimensional do Movimento, também conhecida como avaliação da caminhada, utilizada para avaliar a locomoção humana. Ele é feito em um laboratório com câmeras e sensores que captam a locomoção e identificam possíveis anormalidades relacionadas ao equilíbrio. “Já contamos com a participação de vários pacientes, adultos e crianças, e até o primeiro semestre do ano que vem estamos abertos para triagem. Os participantes são acompanhados por três semanas consecutivas, este é o tempo deles no projeto”, salienta Cláudia Santos Oliveira.Biomédicas, as professoras Manuela Galli e Veronica Cimolin, que coordenam um laboratório de referência do Instituto Politécnico de Milão, são responsáveis pela avaliação do movimento - equilíbrio e marcha - dos pacientes. Elas são parceiras de pesquisa de Cláudia Oliveira desde 2010 e da UniEvangélica desde 2017. O doutorando Rodolfo Parreira Borges, da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, desenvolve seu projeto com adultos deficientes visuais na instituição anapolina. A doutoranda Roberta Carneiro de Toledo e a mestranda Deborah Carvalho da Silva Cardoso, ambas da UniEvangélica, reforçam a equipe na área da pediatria. O grupo de estudo científico ainda conta com outros cinco graduandos de Fisioterapia.Dificuldades pessoais em benefício do outro Pró-reitor de Pós-graduação, Pesquisa, Extensão e Ação Comunitária da UniEvangélica, o doutor Sandro Dutra e Silva elogia a dedicação de Cláudia Oliveira. Para ele, ao elaborar projetos de pesquisa envolvendo portadores de deficiência, a professora usa da própria experiência, das dificuldades que têm enfrentado em sua trajetória de vida e profissional, para beneficiar o outro. “Sinto que ela sente a obrigação de devolver isso à sociedade”, afirma Sandro Dutra.Portadora de deficiência auditiva, Cláudia Oliveira foi alijada das salas de aula de uma instituição universitária paulista por essa razão. “Ela se sente incluída aqui na UniEvangélica onde se tornou a nossa coordenadora de pesquisa. Ela faz um trabalho precioso com autistas e portadores de Síndrome de Down, de deficiência auditiva e visual”, enfatiza o pró-reitor. Um dos alunos doutorandos da professora é surdo-mudo.Sobre a pesquisa coordenada por Cláudia Oliveira, batizada de ‘Efeitos da estimulação transcraniana por corrente contínua associado ao treino proprioceptivo em pessoas com deficiência visual’, Sandro Dutra explica que o estudo integra um projeto maior de transformar a instituição em uma referência na área da tecnologia em saúde. “São ações multidisciplinares envolvendo diferentes áreas do conhecimento, que vão desde o uso tecnológico de equipamentos para melhorar a qualidade de vida até o desenvolvimento de novos procedimentos.”