Depois que o ginecologista e obstetra Nicodemos Júnior Estanislau de Morais, de 41 anos, foi solto na segunda-feira (4), mais de dez mulheres desistiram de prestar depoimento na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Anápolis. O médico é suspeito de cometer abusos sexuais durante consultas com pacientes.A titular da Deam Anápolis, Isabella Joy, relata que 53 mulheres já foram ouvidas formalmente desde quando o médico foi preso, na quarta-feira da semana passada (29/9). “De segunda para terça-feira (5) eu tinha alguns depoimentos agendados que foram desmarcados ou que as mulheres simplesmente não apareceram. Ligamos e mandamos mensagem para elas, mas não recebemos retorno”, explica a delegada.A delegada afirma ainda que muitas mulheres que já denunciaram enviaram mensagens para ela e entraram em contato com a delegacia dizendo que estão amedrontadas depois que o médico foi solto. O POPULAR conversou com uma das vítimas. Ela conta que está receosa. “Dormi mal essa noite. Tive pesadelos”, relata a mulher, de 26 anos.Isabella conta que nos últimos depoimentos mulheres narraram que o médico tirava fotos das partes íntimas das pacientes durante as consultas. “Nós tivemos relatos de vítimas que disseram que ele tirava foto dos seus órgãos genitais”, afirma a delegada. As vítimas pediam para que o médico apagasse as fotos, mas não tinham certeza se teriam sido atendidas. Outras mulheres também afirmaram à polícia que Nicodemos Júnior teria abusado delas durante o parto e até oferecido pornografia para uma adolescente consumir.Ministério PúblicoO Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) entrou com recurso nesta terça para revogar a decisão do juiz Adriano Linhares, da 2ª Vara Criminal de Anápolis, que mandou soltar o suspeito. A promotora de Justiça responsável, Camila Fernandes Mendonça, acredita que a liberdade do médico inibirá mulheres a fazerem novas denúncias, além de deixar inseguras aquelas que já o denunciaram.A promotora explica que, ao tomar a decisão de soltar o médico, o juiz levou em conta apenas as três primeiras denúncias usadas pela Polícia Civil para pedir a prisão preventiva de Nicodemos Júnior. Levando em consideração apesar esses casos, a revogação da prisão se tornou cabível, pois, mesmo que ele fosse condenado pelos crimes, a pena final seria mais branda do que a detenção em regime fechado.Entretanto, conforme a promotora, o juiz não teria levado em consideração os outros 53 relatos que descrevem até o crime de estupro de vulnerável. “Se ele (o juiz) tivesse levado em conta essas denúncias, sem dúvidas a prisão seria mantida. É nesse sentido que estou entrando com o recurso”, pontua Camila.Para soltar o médico, a Justiça também levou em conta o fato de que ele tem residência fixa e é considerado réu primário, tendo em vista que, embora tenha sido condenado em Brasília por violação sexual mediante fraude, o processo ainda não foi transitado em julgado.De acordo com a decisão judicial, Nicodemos Júnior não pode entrar em contato com as vítimas ou atender nos consultórios em que teria cometido os crimes, mas pode exercer a função de médico em outros locais. “A decisão acabou dando muita liberdade para ele”, avalia a promotora Camila Fernandes.DefesaEm entrevista à TV Anhanguera, Nicodemos Júnior negou que tenha abusado de pacientes. “Eu brinco com algumas coisas. Um erro meu, concordo. Nisso, eu estou errado. Mas, nunca, em nenhum momento, eu toquei em uma paciente com objeto de ter prazer sexual ou dar prazer sexual porque o objetivo ali é o exame físico”, disse. Prazo de inquérito é ampliadoO inquérito sobre da operação Sex Fraud, deflagrada na última quarta-feira (29), e que prendeu o ginecologista e obstetra Nicodemos Júnior Estanislau de Morais, de 41 anos, suspeito de abusar sexualmente de pacientes dentro do consultório, ainda não foi entregue ao Ministério Púbico do Estado de Goiás (MP-GO).Quando Nicodemos ainda estava preso preventivamente, a titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Anápolis, Isabella Joy, tinha até esta terça=feira (5) para finalizar o inquérito e indicar o médico. Entretanto, após a soltura de Nicodemos na segunda-feira (4), o prazo foi estendido para 30 dias.Isabella afirma que o inquérito deve ser concluído e entregue antes do prazo final. “Ainda estamos coletando algumas informações e fazendo algumas diligências. Além disso, temos um material com a Inteligência da Polícia Civil”, explica.Até o momento, Nicodemos deve ser indiciado por três crimes diferentes: estupro de vulnerável, importunação sexual e violação sexual mediante fraude. O crime de estupro de vulnerável tem pena de até 15 anos em regime fechado e cada crime de violação sexual mediante fraude tem pena de até 6 anos de prisão. O Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego), por meio de nota, informou que está apurando a conduta do médico e que a apuração tramita em sigilo, conforme “o artigo 1º do Código de Processo Ético-Profissional Médico”.