A vacinação contra a Covid-19 de crianças com idade de 5 e 11 anos começará na próxima semana em Goiás. A expectativa da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO) é que caso o calendário de distribuição de remessas da vacina seja seguido à risca pelo Ministério da Saúde, o grupo, que conta com cerca de 726 mil crianças, complete o esquema vacinal até o fim de maio. Pais e mães se dizem ansiosos para imunizar os filhos. Especialistas explicam que a vacinação de crianças é sinônimo de proteção individual e também coletiva.A expectativa é de que a primeira remessa com 44,3 mil doses de imunizantes pediátricos chegasse a Goiás nesta sexta-feira (14) se confirmou. As doses devem ser distribuídas para os municípios goianos ao longo do fim de semana para que a vacinação possa começar na próxima segunda-feira (17). “Esperamos receber mais três remessas com mais ou menos esta quantidade de doses até o fim de janeiro”, diz Cristina Vatal, superintendente substituta de Vigilância em Saúde da SES-GO.Apesar de existir uma recomendação do Ministério da Saúde para que seja dada prioridade para a vacinação de crianças com comorbidades e deficiências permanentes, a SES-GO optou por orientar os municípios goianos a vacinarem as crianças por faixa etária decrescente. “Se desse prioridade para esses grupos, estaríamos obrigando esses pais e responsáveis a procurar o serviço de saúde para conseguir um relatório dessa condição de saúde”, diz Cristina. Mesmo com a recomendação estadual, os municípios têm autonomia para definir como ocorrerá a vacinação.Ela destaca ainda que a pasta tem feito de tudo para evitar qualquer tipo de confusão no momento da aplicação da vacina infantil com a vacina destinada para adultos e adolescentes. “Além dos frascos terem cores diferentes, estamos orientando que, se possível, a vacinação das crianças ocorra em saladas diferentes ou, pelo menos, em horários ou dias diferentes”, explica. Além disso, ela recomenda que a vacinação não seja feita no modelo drive-thru. “Muitas vezes, é preciso segurá-las. Por isso, é melhor que a imunização ocorra em salas de vacina.”ProteçãoA superintendente substituta de Vigilância em Saúde de Goiás aponta que a vacinação de crianças é uma estratégia individual e coletiva. “Já temos evidências robustas de que a vacina é segura e eficaz. Várias agências reguladoras ao redor do mundo aprovaram e ela está sendo usada em vários países”, aponta Cristina. Tanto a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) quanto a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomendam a vacinação contra a Covid-19.Além disso, Cristina afirma que a vacinação de crianças ajudará a aumentar a cobertura vacinal da população como um todo e diminuir a circulação do vírus.” Precisamos avançar. Com este grupo vacinado, também estaremos protegendo as crianças com menos de cinco anos que ainda não podem se imunizar”, enfatiza. Atualmente, de acordo com o Painel da Covid-19, Goiás possui apenas 60% da população com o esquema vacinal completo.“Muitas dessas crianças convivem com idosos. Além disso, para muitas delas é difícil adotar outras medidas de proteção como o uso de máscaras e o distanciamento social. É preciso lembrar ainda que as pessoas vacinadas que se infectam possuem uma carga viral menor”, explica Flávia Bravo, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).A vacina infantil possui um terço da dose usada em adolescentes e adultos. “Eles constaram que ela tem a mesma eficácia nas crianças, mas com uma dose menor. Com isto, a tendência é que existam menos efeitos colaterais”, explica a diretora da SBIm (confira quadro).GravidadeAté o momento, o estado soma 35,2 mil casos e 40 óbitos de crianças com menos de 10 anos relacionados à Covid-19. No Brasil, 1,4 mil crianças com idade de 0 a 11 anos morreram por conta da doença em 2020 e 2021, sendo que 301 tinham de 5 a 11 anos. “Quando colocamos isso em comparação com os 621 mil mortos pela doença no País, pode parecer pouco, mas não é. Não dá para saber se uma dessas crianças será um dos nossos filhos.”Flávia pontua ainda que a Covid-19 causa mais mortes que outras doenças imunopreveníveis como, por exemplo, o sarampo. “Por isso, não há argumento para escolher não vacinar as crianças”, finaliza.Risco de miocardite é maior para não vacinados A chance de uma criança desenvolver miocardite por conta de casos graves da Covid-19 ou pela Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P) chega a ser quase 20 vezes maior do que se ela tomar a vacina contra a doença e desenvolver o efeito colateral. É o que afirma uma nota de alerta da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). A miocardite é uma inflamação do músculo cardíaco ligada principalmente a ação viral. A SIM-P é conjunto de sintomas graves que podem levar à morte.Nos Estados Unidos, até o início de dezembro, houve o relato de apenas oito casos de miocardite entre mais de 7 milhões de doses administradas (dois casos após a primeira dose e seis após a segunda dose).A cardiopediatra e membro da Sociedade Goiana de Pediatria (SGP), Mirna de Sousa, explica que os casos de miocardite associados à vacinação costumam ter uma evolução tranquila e com a recuperação rápida “Por isso, não tem porque temer mais a vacina do que a doença”, destaca. O infectologista pediátrico Fernando Mateus aponta ainda que, normalmente, os casos de miocardite associados aos casos graves da Covid-19 e a SIM-P evoluem de maneira grave. “Costumam precisar de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e têm uma recuperação mais prolongada”, aponta.Além disso, Mateus esclarece que estudos recentes têm indicado que a vacinação pode colaborar para evitar que, caso as crianças se infectem, elas desenvolvam a SIM-P. “Até o momento, parece que reduz sim, considerando que parte dos vacinados não desenvolve a infecção e sem a infecção não tem como ter a SIM-P, que é um quadro pós-infeccioso. Alguns dados internacionais apontam que as crianças que desenvolvem SIM-P são predominante crianças não vacinadas”, diz o infectologista pediátrico.“Vai ser nosso momento de alívio”Há dois anos, o filho da advogada Martha Camargo, de 50 anos, não frequenta as aulas presenciais da escola que ele estuda. Yhan Camargo, de 11 anos, nasceu com Hipoplasia do Coração Esquerdo (SHCE), conhecida vulgarmente como “síndrome do meio coração”. Por isso, a mãe tem medo dele se infectar com a Covid-19 e desenvolver complicações.“Ele passou 2021 sem conhecer nenhum colega. Ele veio me pedir para ir ao cinema assistir ao novo filme do Homem Aranha, mas não tive coragem de levá-lo. No caso do Yhan, a Covid-19 pode ser grave por conta das complicações pulmonares. A vacina será muito importante para meu filho volte a ter qualidade de vida”, explica Martha. A advogada, que é fundadora da Associação Amigos do Coração de Goiás, conta que a grande quantidade de informações falsas relacionadas à vacinação das crianças tem feito muitos pais de crianças com comorbidade ficarem com medo de levar os filhos para receber as doses. “Muitos pais não têm condição de ir ao serviço público para ouvir do médico que precisam se vacinar. Eu fiquei tranquila, pois consultei os profissionais que acompanham o Yhan e todos deram o aval. Esperamos tanto para que este momento chegasse para nossos filhos. O justo seria a gente ter esta vacina com paz”, relata.A servidora pública Daiane Beledelli, de 45 anos, conta que está ansiosa para o filho Pedro, de 6 anos, se vacinar contra a Covid-19. “Ele também está esperando muito por isso. Quando eu e meu esposo nos vacinamos, ele ficou perguntando quando chegaria a vez dele”, relata. Pedro também é cardiopata. Ele tem estenose valvar aórtica, um estreitamento da válvula do vaso sanguíneo principal que se ramifica do coração, que reduz o fluxo de sangue para o corpo e dificultando o funcionamento do coração. Em dezembro de 2021, Daiane, o esposo e os dois filhos, contraíram a Covid-19. “Fiquei preocupada. Liguei para os médicos dele na hora. Fizemos um acompanhamento e todos tivemos apenas sintomas leves. Ele teve febre. Porém, depois iremos fazer mais um eletrocardiograma nele para ter certeza de que não ficou nenhuma sequela no coração”, relata.Depois de um ano e meio no ensino remoto, Daiane permitiu que Pedro voltasse às aulas presenciais no segundo semestre de 2021. “Continuei com medo, mas ele precisava. Ir à escola também é importante para a saúde dele”, conta. Entretanto, além da escola, o garoto não frequenta outros locais. “Não participamos de festinhas, não vou ao shopping com ele ou qualquer outro local do tipo. Em 2021, ele não visitou o papai noel. Esta vacina será sinônimo de liberdade. Vai ser nosso momento de alívio.”A filha da jornalista Julianna Adornelas, de 35 anos, teve 15% de comprometimento pulmonar quando contraiu a Covid-19 na metade de 2021. Beatriz Adornelas, de 6 anos, teve de ir até o hospital três vezes tomar soro por conta de desidratação. “Foi quando o médico pediu a tomografia e constatamos o comprometimento. Depois, fizemos um raio-x e vimos que não teve evolução”, relata.Julianna, que também contraiu a Covid-19, diz que os 15 dias em que Beatriz ficou doente foram difíceis para toda a família. “Ela vomitava muito e chegou a perder peso. Eu me senti muito culpada porque eu e meu marido já estávamos vacinados. Eu não tive sintomas. Mãe sempre quer puxar a dor do filho para ela”, conta. Depois que Beatriz se recuperou, Julianna a levou até uma consulta pediátrica. “Ela fez exames e, graças a Deus, ela estava totalmente bem. Hoje ela está totalmente bem e não teve nenhum sintoma pós-covid. Ela está super ansiosa. Todos os dias me pergunta quando vai poder se vacinar. Eu, meu esposo e todo mundo da minha família também estamos na expectativa”, relata.Julianna conta que também está tentando conscientizar o maior número de pais e mães possível sobre a importância da vacinação. “Estamos fazendo campanha. Covid-19 não é brincadeira. Não é só uma gripezinha que a criança não sente nada. A criança pode sim desenvolver sintomas graves”, alerta a jornalista. Entrega de doses atrasouO primeiro lote de vacinas pediátricas enfim chegou a Goiás na noite desta sexta-feira (14). Originalmente, a previsão era que o carregamento estivesse no estado durante a madrugada, mas houve uma série de adiamentos.A carga foi recebida na Central Estadual de Rede de Frio, no Almoxarifado da Secretaria Estadual de Saúde (SES), por volta das 19h20.De acordo com a SES, o atraso não afetará a distribuição das vacinas a partir deste domingo (15). As doses devem começar a ser aplicadas em todos os 246 municípios na segunda-feira (17), em crianças de 5 a 11 anos.Na quinta-feira (13), o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), anunciou a chegada das 44.300 doses de vacina pediátrica na madrugada desta sexta-feira (14). Contudo, ainda na noite de quinta (13), a SES-GO informou que o envio havia sido adiado pelo Ministério da Saúde.Nesta sexta, em novo adiamento, foi informado que a previsão era que os imunizantes da Pfizer chegassem durante a manhã. Depois, houve novo adiamento para entre 16h e 17h, e um último, para as 18h.De acordo com estimativa do IBGE, Goiás tem 726 mil crianças na faixa etária de 5 a 11 anos.-Imagem (1.2387245)-Imagem (1.2387249)