Jaraguá, município a 120 quilômetros de Goiânia, recebe nesta quinta-feira (27), um novo presídio com capacidade para cem presos. Depois de anos convivendo com fugas constantes da antiga unidade prisional construída na década de 1940, o Judiciário, o Ministério Público, o Conselho da Comunidade, a Prefeitura e a Câmara de Vereadores locais se uniram para retomar uma obra que foi abandonada pelo Estado de Goiás em 2005. Promotor afirma que unidade receberá criminosos de alta periculosidade.“A nossa expectativa é de que seja resolvido de uma vez por todas o problema da execução penal em Jaraguá”, afirma o promotor de Justiça, Everaldo Sebastião de Sousa. Ele lembra que em 2018 houve cinco fugas no antigo presídio e este ano até agora foram contabilizadas três. Embora tenha capacidade para 80 presos, o prédio abriga 150 reeducandos. “Rotularam nosso presídio de ‘cadeia de papelão’. Não digo que não haverá fugas agora, mas é quase impossível, porque foi um presídio planejado”, comemora o promotor de Justiça.O novo presídio, erguido numa área de 6 mil metros quadrados (m²) ao pé do Parque Estadual da Serra de Jaraguá, será entregue formalmente à Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP), que tem à frente o coronel Polícia Militar Wellington de Urzêda Mota, com 14 câmeras de monitoramento, muro com 4,5 metros de altura com concertina e cerca elétrica, além de consultórios odontológico e médico montados. O promotor de Justiça Everaldo Sebastião explica que o prédio vai receber presos condenados ou provisórios de alta periculosidade. Os demais, entre eles mulheres, vão permanecer na antiga unidade. “Vamos classificar os presos de acordo com a Lei de Execução Penal.”O juiz Liciomar Fernandes conta que ao assumir a 1ª Vara de Execução Penal de Jaraguá em 2017 ficou incomodado com a construção inacabada desde 2005, no meio do mato, que já tinha recebido investimento do Tesouro Estadual da ordem de R$ 1 milhão. “Eu resolvi que terminaria a construção com verbas de prestação pecuniária, transação penal e multa de suspensão condicional de processo.” A proposta foi apresentada ao representante do MP e ao Conselho da Comunidade e houve empenho conjunto para que a ideia prosperasse com o aval da Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO).Entre o início da construção e 2017 foi criado o Parque Estadual da Serra de Jaraguá e o novo presídio avançava cerca de 500 m² para a área de preservação ambiental. “Tivemos de fazer uma articulação junto à Assembleia Legislativa para que fosse criada uma lei para a retirada do presídio de dentro do parque”, detalha o magistrado. A retomada da construção ocorreu somente em janeiro do ano passado ao custo de mais R$ 1 milhão. O presídio fica a cerca de 800 metros da área urbana e a via de acesso já está asfaltada e iluminada graças a uma empresa que tinha pendências judiciais, conforme Termo de Ajustamento de Conduta.O presídio conta com duas alas e uma área de convivência. “Nosso objetivo é oferecer um atendimento humanizado. No espaço intramuros os presos poderão trabalhar numa horta e há espaço para atividades esportivas e para construção de um local de trabalho. A ideia é levar para lá uma confecção, seguindo o perfil da economia de Jaraguá”, afirma o Juiz Liciomar Fernandes. Para que a nova unidade tivesse agentes prisionais, o Estado exigiu o fechamento de um pequeno presídio regional. Foi escolhida a cadeia pública de Itaguaru, a 35 quilômetros, cujos presos e servidores serão transferidos para Jaraguá.A DGAP afirmou, em nota, que quando a obra foi paralisada, 65% da mesma já haviam sido realizados. A reportagem questionou a DGAP quantas vagas e quantos presos existem na unidade a ser desativada, entretanto, esta informação não foi repassada. Foi informado apenas o número geral de presos do Estado: 22.855. Eles estão em 118 unidades prisionais que têm capacidade para menos da metade do número de reeducandos: 11.248.Fugas Jaraguá já foi cenário de fugas emblemáticas de presos. Em dezembro de 2017 um grupo de 15 detentos conseguiu escapar do antigo presídio quando dois homens resgataram outros dois que tinham sido presos por tráfico de drogas. Na confusão, dois agentes prisionais ficaram feridos e seis armas - quatro revólveres e duas espingardas calibre 12 - foram levadas pelos bandidos. Um mês depois, em Caldas Novas, cinco integrantes do bando que resgatou os presos em Jaraguá foram mortos em uma ação da Polícia Militar que deixou três policiais feridos. Uma das espingardas foi recuperada.Em outubro do ano passado outra fuga do velho presídio chamou a atenção. Sete presos cavaram um túnel até o Estádio Municipal Amintas de Freitas, que fica do lado da antiga unidade prisional, e de lá desapareceram. Outras cidades repetem iniciativaEm outros municípios goianos a comunidade resolveu agir para que presídios com melhor estrutura fossem construídos. É o caso de Rio Verde, na região Sudoeste, que ganhou em maio um novo prédio da Casa de Prisão Provisória, erguido em parceria do MP, Judiciário, Conselho da Comunidade e Associação Comercial e Industrial de Rio Verde (Acirv). Com mais de 2 mil m² de área construída, a unidade possui 24 celas, com capacidade para 271 vagas. Nesta terça-feira (25), começou a transferência de presos para a nova unidade. Orizona, Israelândia, Caiapônia são exemplos de outras comarcas, cuja população, ao lado do MP e do Judiciário, preferiu agir para erguer novas estruturas prisionais.-Imagem (Image_1.1828728)