Ao longo dos últimos anos, as ruas de Goiânia têm recebido cada vez menos a visita de trabalhadores da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg). Isso porque, nos últimos dez anos, os funcionários que atuam no serviço de varrição e capina estão em menor número. Enquanto que em 2013 a cidade, com então 625 bairros asfaltados, tinha suas ruas sendo varridas com 2.732 servidores, neste ano, com 41 setores a mais recebendo o benefício, apenas 1.239 trabalhadores atuam no ofício, segundo a própria companhia.A situação faz com que a frequência de limpeza das ruas na capital esteja cada vez mais reduzida. Um trabalhador da varrição, que preferiu não se identificar com medo de represálias, conta que há uma década as ruas de parte da região Sul de Goiânia, entre a Avenida 85, no Setor Bela Vista, e a Marginal Cascavel, no Jardim América, recebia pelo menos nove varredores por três vezes a cada semana. Agora, o mesmo trecho é varrido a cada dois ou três meses, e por uma equipe de somente dois trabalhadores.“A gente faz o possível, mas reduziu muito a equipe que tinha. Antes vinha muita gente para fazer o serviço, agora é só nós dois para limpar quase o bairro inteiro”, afirmou o trabalhador enquanto estava na Rua C-155 do Jardim América no final de junho. No bairro, moradores contam que já era costume realizar a varrição das calçadas e juntar os resíduos nos meios-fios para que os trabalhadores da Comurg limpassem a rua e finalizassem a coleta, mas que, com a ausência do serviço na frequência de outrora, o lixo vai se acumulando nas vias.AvenidasMoradora do Setor Novo Horizonte, na região Sudoeste da capital, Raquel Chaves, de 48 anos, afirma que há tempos não percebe a presença de varredores nas ruas do bairro. “A gente só vê na Avenida César Lattes mesmo e de vez em quando, nas ruas pequenas não passam mais”, diz. A Rua B-23, localizada entre as avenidas Engenheiro José Martins e Maurício Gomes Ribeiro, segundo conta, fica constantemente suja com papéis e folhas, e sem receber qualquer serviço de varrição.O mesmo ocorre no Parque das Laranjeiras, localizado já na região Leste de Goiânia. Por lá, moradores afirmam que para ter uma rua limpa atualmente é preciso fazer o serviço com as próprias mãos, já que não recebem a visita dos varredores.Presidente do 31º Conselho de Segurança (Conseg) do Setor Jaó, Adriana Garcia Reis Dourado conta que os moradores reclamam que não veem mais os varredores. “Porém, o bairro não está sujo pois os próprios moradores acabam varrendo a calçada e arredores. Eu os vejo vez ou outra, mas era mais frequente mesmo”, relata.Um dos problemas da falta de varrição, segundo Adriana, é que os servidores que atuam nas podas de árvores de praças e canteiros fazem o serviço e o resíduo fica parado em um local, sem o recolhimento que era feito pelo serviço dos varredores. “A poda fica dias, às vezes meses, juntada em um canto sem catar. Fica um bom tempo esperando”, afirma Adriana.Leia também:- Comurg tira 90 toneladas de lixo por dia dos córregos de Goiânia- Rios e córregos de Goiânia estão 77% menores- Plástico representa 48,5% do lixo descartado no marA moradora do Jaó diz ainda que em outras épocas o serviço de varrição das ruas no bairro era semanal. “Agora os vemos de meses em meses. Já recebi várias reclamações.” A reportagem verificou relatos semelhantes também em bairros como Setor Central, especialmente nos arredores do perímetro conhecido como Bairro Popular, Vila Nova, Urias Magalhães, Pedro Ludovico, Goiânia 2, Nova Vila, Bueno, Oeste, Marista, Cidade Jardim, Vila Santa Helena, Vila Irany e Campinas.Serviço teve de ser remodelado em 2018O método de varrição das vias em Goiânia foi alterado a partir de 2018, pela redução do número de trabalhadores no serviço, de modo que a comparação entre as frequências de anos anteriores e a atual não pode ser exatamente feita. Até então, as equipes do serviço eram divididas por rotas que seguiam as frequências de todos os dias, três vezes por semana ou duas vezes por semana, a depender do bairro e das ruas. Ou seja, as grandes avenidas da cidade recebiam o serviço diário, assim como locais do Setor Central e do Setor Campinas. Regiões mais adensadas, como os setores Bueno, Marista e Oeste, tinham a visita dos varredores por três vezes semanais e os demais bairros recebiam o serviço duas vezes a cada semana. Com a redução das equipes, no entanto, a Comurg passou a adotar um novo modelo de varrição que os trabalhadores chamam de individualizado, em que a atuação se dá em locais específicos e que apresentam um maior volume de sujeira acumulada.Os trabalhadores contam que a varrição tem ficado por conta das atuações nas frentes de limpeza que a Prefeitura de Goiânia está realizando neste ano. Para se ter uma ideia, na última quinta-feira (7), o Paço anunciou a presença de 400 trabalhadores, sendo 200 do serviço de roçagem de mato, remoção de entulhos, capina, rastelação e varrição, na limpeza urbana de 50 setores. O comunicado afirmava ainda que além desta frente a Comurg “cumpre atividades em toda a cidade, com limpeza nas feiras, coleta orgânica, varrição, manutenção nas praças, coleta seletiva, Cata-treco, dentre outras ações”Oficialmente, no entanto, a Comurg informa que “mantém a metodologia de varrição e higienização diárias, sendo 3 vezes na semana (segunda, quarta e sexta ou terça, quinta e sábado) ou 2 vezes na semana (segunda e quinta, terça e sexta ou quarta e sábado). Os horários são diurno e noturno, com exceção de duas áreas na Região Central, onde o serviço é feito em horários diurno e noturno”. Um servidor da companhia, por outro lado e sob a condição de anonimato, explicou à reportagem que há sim a redução do serviço e que se dá pela falta de reposição dos funcionários.Entre 2013 e 2018, a empresa já passava pela diminuição dos trabalhadores no setor de varrição. Para se ter uma ideia, até aquele ano, a varrição já tinha perdido cerca de 500 trabalhadores. A gestão Iris Rezende (MDB) elaborou um programa de demissão dos servidores que eram aposentados, na tentativa de enxugar a folha de pagamento da companhia, e cerca de 300 trabalhadores deixaram a empresa. “Muita gente saiu e não teve reposição. O serviço está menor mesmo, e não é só da varrição não, são todos os serviços da Comurg. Nos bairros mais periféricos da cidade, o pessoal percebe mais a situação”, disse o servidor.Comurg contesta situação e afirma ter limpeza em diaA Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) contesta a redução da frequência da varrição das ruas em Goiânia em decorrência da diminuição do número de profissionais lotados para a realização do serviço na empresa. Perguntada sobre a quantidade de servidores na varrição nos últimos cinco anos, a companhia informou apenas que no momento existem 1.239, sem citar a quantidade nos períodos anteriores. Ao ser informada pela reportagem que havia esses dados a partir de informações de gestões passadas, a companhia confirmou que os números batem com os registros, o que confirma a redução de trabalhadores na varrição (ver quadro).No entanto, a Comurg considera que “não ocorreram diminuições nas frequências dos bairros atendidos”. Informa ainda que “a gestão do prefeito Rogério Cruz, por meio da Comurg, repaginou o circuito e mantém o atual plano em vigor com as devidas atualizações. É importante destacar o acréscimo de novos bairros que foram asfaltados até o momento, o que foi necessário realocação de pessoal”. Para se ter uma ideia, enquanto o serviço de varrição teve uma queda de 54,65% quanto ao número de servidores entre 2013 e 2022, a capital teve um aumento de 162 mil habitantes no mesmo período, o que significa uma alta de 11,63%.Ô número de trabalhadores de 2013 se encontra, por exemplo, no Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos do Município de Goiânia, realizado para a Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma), em 2014. Em 2013, a capital tinha um índice de 1,96 varredor para cada mil habitantes. Atualmente, esse número é de 0,79, semelhante com o que se tem no geral do estado do Rio de Janeiro (0,80). No geral, de acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), Goiás possui, com base nos dados informados pelas prefeituras em 2020, um índice de 2,35 varredores a cada mil habitantes dos municípios. Por outro lado, no Centro-Oeste o índice é de 0,38 e no País é de 0,59.Para justificar a afirmação de que a redução dos trabalhadores não significou uma menor frequência do serviço, mesmo que essa seja a impressão de moradores da capital em diversos bairros, a Comurg considera que houve um aumento na quilometragem percorrida pelos varredores. Pelos números da companhia, entre 2019 e 2021, a média ficou de 1.600.000 quilômetros de ruas e vias varridas a cada ano. Esse índice tem sido observado até maio deste ano, segundo informa a empresa. A comparação de melhora no atendimento se dá em relação ao ano de 2018, quando a Comurg afirma que a varrição foi feita em apenas 705.056,80 quilômetros da cidade.Ainda de acordo com o SNIS, em 2013 os varredores na capital atuaram em cerca de 600 mil quilômetros da cidade, ou seja, uma média de um milhão de quilômetros a menos do que o informado pela Comurg no último ano e 100 mil a menos do que em 2018, de acordo com o informado pela companhia. Válido ressaltar que o SNIS é um sistema do Ministério de Desenvolvimento Regional (MDR) formado com base nas informações das companhias municipais.Com relação à impressão da população goianiense de que as ruas de Goiânia têm ficado mais sujas em razão da falta do serviço de varrição, a Comurg considera que “os moradores têm aprovado os serviços de limpeza e higienização das vias”. Mas que é necessário verificar que serviço pode estar sendo analisado de forma equivocada, já que “uma rua onde é feita a varrição no início da manhã, no período da tarde pode estar cheia de folhas, novamente”, o que daria a impressão de que o serviço não foi realizado naquele local, segundo argumento da Comurg. “Outra questão importante a ser destacada é que, em 2021, a pandemia de Covid-19 afetou drasticamente muitos setores públicos e privados. No entanto, a Comurg não deixou de executar os circuitos de higienização e limpeza das vias, seguindo estritamente as recomendações gerais de segurança sanitária dos órgãos da Saúde”, informa a companhia.Volume de lixo nas ruas pode variar de acordo com estações A Companhia de Urbanização de Goiânia (Comrug) considera que a população da cidade pode ter a impressão de que algumas ruas não estão sendo varridas em algumas épocas do ano, “sobretudo em meses em que há mais queda de folhas e/ou ainda em locais específicos onde há eventos grandes”. A reportagem do POPULAR percorreu as vias de alguns bairros e falou com moradores sobre a redução da quantidade de varredores na cidade na última década e verificou que a população não tem percebido a presença do serviço de varrição e nem mesmo a passagem dos varredores. Segundo a Comurg, “nas estações de outono e de inverno, no bioma Cerrado há grande incidência de quedas de folhas de espécies arbóreas decíduas e semidecíduas (exemplos: cega machado, ipês, sete-copas), contribuindo drasticamente para o aumento da quantidade de resíduos vegetais nas vias públicas arborizadas”. No entanto, o que foi verificado pela reportagem é a presença de resíduos deixados pelas pessoas, como embalagens de comidas e bebidas, papéis e sacos plásticos, além das folhas e flores que caem das espécies arbóreas. Os relatos são de que há uma redução na frequência do serviço na capital, que não estaria sendo realizado semanalmente ou até por mais vezes a cada semana como ocorria em anos passados. Há locais que os varredores passariam a cada dois meses. A Comurg, por outro lado, nega esta situação.-Imagem (1.2487645)