Os estudos científicos e arquivos históricos do Setor Sul, em Goiânia, vão passar a integrar um repositório digital que vai ao ar a partir de terça-feira (15), no site vivasetorsul.org. A iniciativa é de um grupo de professores e arquitetos e urbanistas que se juntaram para resguardar a história e a memória do bairro, que faz parte do desenho pioneiro da capital, feito por Attilio Correa Lima. Além disso, serão publicados vídeos de moradores do setor, contando histórias e sobre o cotidiano no local, que é marcado pelas áreas verdes dispostas entre as moradias, características das cidades-jardim.O professor da Faculdade de Artes Visuais (FAV) da Universidade Federal de Goiás (UFG) Braúlio Vinícius Ferreira explica que o Viva Setor Sul surge para que a cidade não corra o risco de errar pela ignorância. “A ideia surgiu em uma audiência pública sobre o novo Plano Diretor. Foi uma audiência desastrosa. Tinha um vídeo tratando o Setor Sul como um bairro problemático, mostrando áreas que estão abandonadas e propícias à marginalidade. Os moradores ficaram indignados.” Com isso, houve a intenção de juntar os trabalhos que falam da importância do local e toda a sua história.Na ocasião, o presidente da Câmara Municipal, Romário Policarpo (Patriota), abriu a discussão sobre a destinação das áreas verdes de meio de quadra no Setor Sul. A proposta era permitir o fechamento dos locais para o público em geral, fazendo com que se tornassem uma espécie de jardim ou quintal dos moradores e estes seriam os responsáveis pela manutenção. Havia ainda a discussão para que empresas pudessem usufruir do espaço, como no caso de restaurantes e bares, ficando voltadas às áreas verdes. Com a resistência dos moradores, a alteração não foi incluída na atualização do Plano Diretor de Goiânia, em discussão na época.O grupo inclui ainda Márcia Guerrante, moradora do Setor Sul e docente na UFG, Ana Isabel Ferreira e Daniele Severino, ambas da UniGoiás, e o arquiteto e urbanista Altillierme Carlo Pereira dos Santos, egresso da UFG. “Fizemos um ano de trabalho e nesse período a arquiteta Eline Caixeta, também professora da UFG, lançou um livro sobre o bairro. Veio a ideia de a gente fazer vídeos com as memórias dos moradores lá, que acho ser o grande diferencial.” O projeto participou e venceu um edital público e obteve apoio do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU-GO).Para o professor, o projeto tem o objetivo de mostrar a história e a vivência do Setor Sul, além de deixar demarcada e de fácil acesso a sua importância para a cidade, “para que não se tenha mais desconhecimento sobre ele”. “Como as pesquisas, histórias e os desenhos ficam limitados ao ciclo acadêmico, queremos disponibilizar isso para a cidade. O morador vai poder buscar os estudos sobre o bairro, sobre algum tema no bairro, tudo em um lugar só. Estamos pegando também todo o arquivo digital da Prefeitura de Goiânia e passando para o site e o arquivo físico sobre o bairro estamos digitalizando para lá”, afirma Ferreira.Existe ainda o compromisso de permanência e de atualização constante do projeto.“Com os relatos e estudos, o Setor Sul ganha uma voz para mostrar sua importância e não perder isso na história. Lá não é um bairro problema. Se as áreas verdes estão abandonadas não é porque o projeto foi feito errado ou as áreas devem ser modificadas. É uma questão de manutenção, de gestão da Prefeitura. O projeto serve também como um instrumento de cobrança para não deixar a história do bairro morrer. Juntar isso vai ter essa potência de transformação”, acredita o professor. Além disso, há a participação da Associação Pró Setor Sul (Aprosul), formada por moradores.O que deve ser reforçado, segundo Ferreira, é que a ideia de cidade-jardim proposta no desenho pioneiro de Goiânia, com valorização dos espaços verdes como de respiro e também lazer, de relação com a vizinhança, é algo único para a América Latina.“Essa situação em uma cidade latino-americana é muito diferente. O Setor Sul é um exemplo para diversos estudos de urbanismo e tem muita importância, por ter características que não se vê no continente”, avalia. A intenção é que mais instituições de ensino possam aderir ao projeto ao longo do tempo e também que ele seja aberto aos alunos para a formação deles como arquitetos e urbanistas.Arquiteto projeta trabalho semelhante para o Setor CentralArquiteto e urbanista, o professor Bráulio Vinícius Ferreira, da Faculdade de Artes Visuais (FAV) da Universidade Federal de Goiás (UFG), relata que o projeto de criar um repositório de estudos e memórias deve atingir em breve o Setor Central de Goiânia. A proposta, que começa a ser disponível na terça-feira (15) com relação ao Setor Sul, pode ganhar uma segunda versão para o primeiro e principal bairro da capital goiana. “A questão do Setor Sul foi de um grupo de professores e em razão da audiência pública que ocorreu no local. Mas eu mesmo não tenho uma relação afetiva com o bairro. Eu tenho com o Setor Central, trabalhei lá por muitos anos e temos o interesse de fazer esse projeto lá também”, conta Ferreira.No entanto, não há qualquer previsão de quando isso vai acontecer. “Ainda temos que entregar o projeto que estamos fazendo e o que propusemos no edital do CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo) antes de começar qualquer outro.” O lançamento do projeto sobre o Setor Sul ocorre nesta terça-feira (15), às 19 horas, no evento Viva Setor Sul ! Memórias, afetos e narrativas de um bairro, no YouTube da FAV/UFG.