Com 21 anos e cursando graduação em ciências biológicas na Universidade Federal de Goiás (UFG), Carolina Kurotusch Canettieri é uma das dezenas de voluntários que se colocaram à disposição da instituição para trabalhar nos laboratórios que fazem exames para diagnóstico da Covid-19. Assim como ela, esses voluntários tem separado tempo e disposição para o trabalho e já realizaram cerca de seis mil exames até agora. E não há previsão para parar.Carolina diz que quando a universidade informou o interesse em dar início ao Projeto Tenda, já se colocou à disposição. Ela precisou passar por seleção e, depois de escolhida, disse que tem se sentido realizada. “É um momento muito importante para a saúde mundial e estar dentro do laboratório, podendo aprender e contribuir é realmente uma experiência que não tem preço.” Ela vai ao local duas vezes nas semana, onde fica por quatro horas fazendo estágio.Mas antes de dar início ao processo seletivo, ela conta que conversou com toda a família. “Durante o treinamento nos disseram que o risco seria baixo porque eu não atuaria diretamente com a coleta ou com as amostras, mesmo assim tivemos orientação sobre como nos proteger, como atuar dentro de um laboratóprio.” Apesar disso ela disse que teve receio no início, mas garante que a responsabilidade e as orientações foram importantes. A estudante de ciências biológicas conta que os pais apoiaram a decisão de participar do programa de voluntariado do laboratório. “Eles me deram muita força, mas sempre reforçando a necessidade do cuidado. O que eles mais destacavam era que essa seria uma boa oportunidade pessoal e profissional e eu acredito nisso. Tem sido um momento muito importante para aprendizado, mas o melhor de tudo é poder ajudar as pessoas e isso é uma inspiração para o trabalho.”Bióloga formada pela UFG, com mestrado, doutorado e cursando pós-doutorado na instituição na área de genética e biologia molecular, Vanessa Rafaela Milhomem, de 36 anos, também se apresentou como voluntária para atuar no Laboratório de Análises Clínicas e Ensino em Saúde (Laces). Ela, que também é professora, tem se desdobrado para poder contribuir com o trabalho. “Fácil não é, mas é muito gratificante poder ajudar as pessoas e a sociedade neste momento.”A professora diz que desde que a doença chegou ao Brasil colocou seu nome à disposição da universidade para qualquer atividade que pudesse ser realizada na área em que ela atua. “Fiquei preocupada com o avanço do contágio no início, mas pensei que pudesse ser um bom momento para retribuir tudo que foi investido em mim e na minha formação. Eu sempre pensei em ajudar, poder contribuir e desde que os casos chegaram pensei em colaborar e me sinto feliz ajudando.”Ela conta que também precisou conversar com a família antes de começar a atuar no laboratório. “Todos sabem da minha vontade de ajudar e não houve reclamação, mas a gente está no laboratório rodeado de amostras de pessoas que estão esperando o resultado, seja para se tranquilizarem ou para iniciarem algum tipo de tratamento, isolamento. É meu papel trabalhar nestes momento como forma de devolver tudo que me foi ensinado nesses anos todos de estudo público.”Vanessa ainda diz que se sente honrada em participar dessa história. “Eu ainda poderei contar para as pessoas no futuro que atuei durante esta pandemia, que afetou o mundo todo. Com certeza teremos muitas histórias interessantes.” Ela ressalta que não pretende deixar o voluntariado. “Mesmo sendo cansativo e não tendo pagamento pelo serviço, é maravilhoso. Não tem preço que pague tudo que estamos vivendo nestes papeis.EquipesEla destaca que além dela e de Carolina, cerca de 100 pessoas trabalham nos três laboratórios da instituição. Além do Laces existem laboratórios no instituto de patologia e na faculdade de farmácia. A biomédica Juliana Alves Parente Rocha é coordenadora do trabalho que tem sido realizado no Laces e destaca a importância dos voluntários. “Já foram realizados cerca de seis mil testes até agora, sendo 3,5 mil só no Laces. Se não fossem os voluntários, isso não seria possível.Ela conta que as equipes de voluntários contam com digitadores, que cadastram os pedidos e os resultados, extratores de material para análise, equipe que manipula as amostras, pessoal para fazer a limpeza e coleta adequada do lixo biológico e equipe de desinfecção. “A vontade de ajudar é o que mais motiva essas pessoas e não tem como agradecer tudo que eles têm feito. Apesar de todas as dificuldades, vemos que eles trabalham muito felizes.”Os laboratórios tem funcionado cerca de 12 horas por dia. Neste período as equipes se revezam para tentar atender à todos que procuram a instituição. Inicialmente a UFG havia aberto possibilidade de testes sem custo apenas para profissionais da saúde e da área da segurança pública. Mas agora, com parceria com algumas prefeituras, esse atendimento foi ampliado. Mas, neste caso, os parceiros fornecem os kits para que os profissionais da universidade façam a manipulação.A UFG informou que o objetivo desse projeto é fazer nas tendas a triagem e o diagnóstico nos laboratórios para que as pastas da saúde dos municípios possam traçar suas estratégias de enfrentamento à doença. O projeto é uma parceria entre a Faculdade de Enfermagem (FEN), Faculdade de Medicina (FM), a Faculdade de Farmácia (FF), o Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP), o Instituto de Ciências Biológicas (ICB) e o Hospital das Clínicas (HC/UFG).RedeO reitor da UFG, Edward Madureira diz que o projeto deverá ser ampliado com a aquisição de mais testes pela prefeitura de Goiânia. “Temos o Projeto Tenda, que é onde os profissionais da saúde e da segurança passam pelo exame PCR em sistema drive thru, temos a Tendinha, que só atende crianças e temos o Cuidar Sempre, que testas a população que está à margem, que estão em situação de vulnerabilidade social ou econômica e que precisam fazer os testes.”Esses exames são encaminhados para os laboratórios da rede, que entregam os resultados dentro dos prazos marcados. Em alguns casos, pode ser entregue em até 48 horas. “A participação dos voluntários é fundamental para o funcionamento disso tudo. Não existiria esse projeto se não fosse o engajamento e o empenho dessas dezenas de profissionais que estão doando o tempo deles para esse projeto. É de emocionar qualquer pessoa vê-los ali”, diz o reitor.A Rede de Laboratórios da UFG para o diagnóstico da Covid-19 é formada pelo Laboratório Rômulo Rocha da Faculdade de Farmácia (LRR/FF), Laboratório Margarida Dobler Komma do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (LMDK/IPTSP), e o Laboratório de Análises Clínicas e Ensino em Saúde do Instituto de Ciências Biológicas (Laces/ICB). A rede conta com a participação da Escola de Agronomia (EA), da Escola de Veterinária e Zootecnia (EVZ) e da Faculdade de Odontologia (FO). A equipe de pesquisadores e voluntários tem como meta a realização de 7 mil diagnósticos por mês, mas isso depende do apoio de outras instituições.-Imagem (1.2091762)-Imagem (1.2091760)-Imagem (1.2091759)