A maior parte dos municípios goianos tem uma situação fiscal difícil ou crítica. Isso é o que apontou levantamento da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) divulgado em outubro. Foram avaliadas 5.239 cidades, sendo 225 em Goiás, com base em dados do ano passado. O Índice Firjan de Gestão Fiscal (IFGF) varia de zero a um, sendo que quanto maior o valor alcançado melhor a gestão. A média no Estado ficou em 0,5847, o que representa uma situação de dificuldade.Ao todo, 121 municípios, 53,78% do total, tiveram notas que revelam a situação difícil ou crítica. No País, 3.024 estão neste mesmo cenário, o que representa um porcentual ainda maior, 57,72%. De acordo com a análise da Federação, o quadro é preocupante e a dificuldade de geração de receita pelos municípios é o principal entrave para a melhora das contas públicas. Prefeito de Água Limpa, no Sul do Estado, José Carlos Guimarães (Podemos) concorda. A cidade ficou em última posição no ranking estadual.Como exemplo da insustentabilidade que assombra as prefeituras, ele está no primeiro mandato e explica que assumiu a situação difícil, com salários atrasados, maquinário com defeito e série de barreiras para o desenvolvimento com equilíbrio. “Estamos pelejando, sem fazer coisas erradas, para conseguir pagar os compromissos antes de vencer o mês.” O problema, como descreve, é a dependência de repasses.“Aqui não tem empresa, emprego é na prefeitura mesmo. Hoje tenho mais de 300 funcionários e só a folha dos professores é mais de R$ 200 mil. Fora que a economia está custosa, o litro da gasolina aqui está quase R$ 7,20, aumenta os custos”, expõe. Para 32,5% das cidades brasileiras a receita gerada não é suficiente nem para custear a Câmara Municipal e a estrutura administrativa municipal.“Além disso, 34,7% gastam mais de 54% da receita com despesa de pessoal, 41,6% têm planejamento financeiro ineficiente e 51% investem, em média, apenas 4,6% do orçamento”, ressalta o gerente de Estudos Econômicos da Firjan, Jonathas Goulart. O IFGF é composto por indicadores de autonomia, gastos com pessoal, liquidez e investimentos. É com base na análise de cada um deles que ocorre a classificação.Com nota máxima em quase todos esses indicadores, Paraúna, no Sudoeste, é a melhor colocada entre as goianas. O prefeito Paulo José Martins (Republicanos) afirma que o segredo é gestão técnica para conseguir enxugar a máquina pública e ter equilíbrio fiscal. “Quando assumimos, em 2017, estava um caos, sem certidão, com prestação de conta atrasada. Hoje, mais de 50% das obras são feitas com recurso próprio.”Ele cita uma garagem para transporte escolar e reforma de escola entre as conquistas. “Mas, primeiro, tem de estancar as sangrias, os gastos desnecessários. Fechamos fronteiras para não ter evasão, somos uma das poucas com georreferenciamento urbano para garantir arrecadação do IPTU e trocamos lâmpadas por LED.” Para o prefeito, sem redução de custos é difícil alcançar o equilíbrio.Recomendação Presidente da Federação Goiana de Municípios (FGM), Haroldo Naves (MDB) avalia que na situação da economia brasileira há recomendação de reduzir número de secretarias e cargos comissionados, bem como estimular o desenvolvimento econômico baseado na vocação local para ter geração de emprego e renda. “Muitos (prefeitos) herdaram essa situação difícil e alertamos para redução de tamanho da máquina, pois o Brasil está em crise desde 2014.”De outro lado, ele discorda do conceito de autonomia do Índice Firjan. “Consideram apenas IPTU, ITU, ISS, mas impostos gerados para o Estado, o Imposto de Renda, têm parte do município”, pontua ele que é prefeito de Campos Verdes, no Norte, que ficou em 40ª posição no Estado, zerou esse quesito e tirou nota máxima nos outros. Porém, o indicador considera também as transferências devolutivas de ICMS, IPVA, ITR e IPI-Exportação, que estão diretamente ligadas à economia local. Goiânia é 6ª capital com melhor gestão fiscal do PaísGoiânia é a sexta capital com melhor gestão fiscal do País, segundo o Índice Firjan (IFGF), divulgado em outubro pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). No topo do ranking estão Salvador (BA) e Manaus (AM), que apresentaram nota máxima em três dos indicadores considerados (autonomia, gastos com pessoal, liquidez e investimentos). A cidade goiana só tirou nota máxima no quesito autonomia. Apesar de estar entre os poucos municípios brasileiros com nível de excelência – apenas 11,7% alcançaram essa avaliação –, no item investimentos a nota aponta para uma dificuldade. Como é baseado em dados do ano passado, o secretário de Finanças da capital, Geraldo Lourenço, defende que foi um ano atípico para investir. Lembra que ocorreu aporte federal para o suporte aos casos e ao enfrentamento da Covid-19. “Isso atrapalha os indicadores e para 2021 não há essa expectativa de aporte, que chegou a ordem de R$ 200 milhões. No entanto, Goiânia fez um bom investimento em 2020”, pontua ao citar obras de recapeamento. Ele considera que manter a cidade bem colocada é um desafio e a aposta é de que com a venda da folha do município amplie recursos próprios para aumentar também os investimentos. “Estimamos vender por mais de R$ 200 milhões, que é o valor que queremos investir na cidade e manter nosso patamar no ranking, entre as melhores. Já temos êxito de ter boa nota no Tesouro Nacional, alto nível de capacidade de pagamento, um cenário favorável. Por isso, vamos trabalhar para manter e evoluir. A cidade precisa de muita coisa ainda e o prefeito está indo atrás de investimento em Brasília”, reforça. Ao todo, nove capitais registraram excelência na gestão fiscal, foram elas Salvador (0,9401 ponto), Manaus (0,9140 ponto), Vitória (0,8827 ponto), Boa Vista (0,8650 ponto), Rio Branco (0,8336 ponto), Goiânia (0,8293 ponto), São Paulo (0,8206 ponto), Curitiba (0,8176 ponto) e Fortaleza (0,8109 ponto).Foram avaliadas no IFGF 2021 apenas as cidades que declararam suas contas de 2020 de forma consistente até o dia 10 de agosto de 2021.-Imagem (1.2355082)