Prefeituras de cidades próximas a Goiânia se organizam de forma diferente no enfrentamento ao novo coronavírus. Isso é um problema? Se sim, qual seria a melhor estratégia?O melhor seria uma ação coordenada. Os administradores ficaram vinculados a essa questão de fechar o comércio, mas não é esse o problema. A pessoa jurídica não transmite Covid-19. É preciso isolar pessoas físicas. Na verdade, o que precisa ser criado de maneira efetiva é um dispositivo para manter as pessoas em casa. Estes grandes centros urbanos precisam de medida coordenada por existir conurbação urbana (cidades dependentes umas das outras), e não apenas fechar um pedaço ou outro. A estratégia de Aparecida de Goiânia é semelhante a esta que o senhor citou, com escalonamento entre macrozonas. Como o senhor avalia? Não mostra nenhuma vantagem. Fecha uma macrorregião, mas é uma distância que dá para andar a pé. Essa vinculação, de que o objetivo é o comércio ou a pessoa jurídica, é errada. O foco é humano. Fecha o comércio de uma região, mas nada garante que aquelas pessoas vão ficar isoladas. Qualquer medida que visa ao aumento de isolamento social precisaria ser feita abarcando uma escala espacial grande para as pessoas não saírem de suas casas em busca de uma área que está aberta. Do ponto de vista epidemiológico, o benefício da estratégia de Aparecida é mínimo. O governador de Goiás havia publicado um decreto com base em um estudo feito pela UFG, com o isolamento 14x14. No entanto, é praticamente certo que as atividades serão retomadas na próxima semana em Goiânia sem data para fechar novamente. Como o senhor viu essa mudança?Vejo com muita preocupação. Por um lado, percebo boas intenções por parte do governador (Ronaldo Caiado, DEM), que realmente tentou. Fico na dúvida se esse recuo é causado por pressão política ou porque a população não está colaborando e não tem o que o governador possa fazer. Mas se for política, moralmente a questão fica mais séria. Quem faz este tipo de pressão são os menos afetados. Estudos de São Paulo e em escala nacional mostram que a Covid-19 não afeta todos de igual maneira. As pessoas que têm maior probabilidade de infecção são exatamente as que precisam de hospital público, as classes mais baixas, pretos, pardos e índios. O trágico dessa história toda é que se essa pressão estiver vindo do setor empresarial, com o argumento de preservar empregos, na verdade, estamos condenando uma parcela da população. Sacrificando, quase literalmente, quem não consegue se proteger. Empresários e políticos não andam de ônibus. Fica muito menos aceitável a abertura econômica quando falamos que o custo de vida segue desigualdades históricas. Não são os grandes empresários que vão pagar com a vida.