O pesquisador Celso Moretti, confirmado na sexta-feira (20) na presidência da Embrapa, diz que a prioridade agora é dar sequência ao processo de mudança da empresa, com a descentralização de ações hoje concentradas na sede, em Brasília. Há 25 anos na Embrapa, Moretti iniciou a carreira como pesquisador, foi chefe da Embrapa Hortaliças, chefe do Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento (DPD) e diretor executivo de Pesquisa & Desenvolvimento. Qual é a prioridade, agora que o sr. foi oficializado no comando da Embrapa?Precisamos descentralizar algumas ações que estão centralizadas aqui na sede. Também temos de rever uma série de processos na empresa, como o número de cargos comissionados. Aí há toda uma agenda externa: queremos seguir nos aproximando do setor produtivo. Queremos também revisitar a agenda das nossas unidades, para que elas trabalhem de forma mais próxima e responsiva ao agro brasileiro. Como fica o processo de “repotencialização” da Embrapa defendido pelo presidente Jair Bolsonaro?Nós tivemos três vitórias no Congresso junto com o apoio dos parlamentares e da própria ministra. Conseguimos aumentar o nosso orçamento para as despesas discricionárias (não obrigatórias) na ordem de R$ 80 milhões para 2020. A gente teria um orçamento de algo em torno de R$ 200 milhões e agora teremos algo ao redor de R$ 280 milhões. Isso é parte dessa trajetória de fortalecer o trabalho da Embrapa. Com a proximidade maior com o setor privado, queremos aumentar nossa capacidade de captação de recursos. Então vamos sentar com o setor privado, discutir a formação de fundos de financiamento de pesquisa, similares aos que existem nos EUA. Pretendemos também desmobilizar terras. A Embrapa tem uma quantidade enorme de terras, da ordem de 106 mil hectares, que não faz sentido mais manter no nosso patrimônio. Em termos de pesquisa, qual é o direcionamento para 2020?Há algumas frentes. Precisamos focar realmente nos problemas da agricultura e do produtor brasileiro. Em 2020, vai estar na nossa agenda a questão da edição genômica para, por exemplo, editar o genoma da soja para dar resistência a nematoides e adaptação à seca. Nisso estamos trabalhando em parceria com duas empresas privadas. Nós vamos seguir avançando com a intensificação sustentável, a integração lavoura-pecuária-floresta, que hoje já tem 15 milhões de hectares no Brasil. Vamos avançar muito na questão da bioeconomia, essa economia de base biológica. Tem ainda a questão da agricultura digital. Só 65% do nosso território está conectado à internet, enquanto a China tem 95% do território conectado. A Embrapa tem trabalhado com novas tendências, como proteínas vegetais?Sim. A Embrapa assinou um contrato com a Marfrig para desenvolvimento de alimentos à base de proteína vegetal. A Minerva também nos procurou. Desenvolvemos um hambúrguer a partir da fibra do caju, e o Brasil produz hoje 60 mil toneladas de fibra de caju que não tinham destinação. Uma parceria com uma empresa do Rio, a Sottile Alimentos, permitiu que produzíssemos hambúrguer a partir de fibra de caju. O negócio de proteína vegetal representa algo em torno de US$ 5 bilhões, mas até 2030 nós vamos ter algo em torno de US$ 120 bilhões nesse mercado. E na área internacional?O Brasil é líder em tecnologia para agricultura tropical. Precisamos voltar a trabalhar fortemente na África, porque ela está no meio do caminho entre o Brasil e o nosso maior cliente, que é a China. E as savanas africanas são muito parecidas com o Cerrado brasileiro.