As recentes altas na taxa básica de juros da economia, a Selic, que já chegou aos 13,25% ao ano na tentativa de conter a inflação, também deixaram os recursos do Fundo de Financiamento do Centro-Oeste (FCO) mais caros para o tomador. As taxas subiram até 4,73 pontos porcentuais para o FCO Rural desde o início deste mês, por determinação do Conselho Monetário Nacional (CMN), do Banco Central do Brasil, o que eleva muito o custo dos empréstimos e pode levar produtores a adiarem seus projetos.O FCO é um fundo de crédito criado pela Constituição Federal de 1988 para promover o desenvolvimento econômico e social da região Centro-Oeste, voltado para empresas e produtores rurais que queiram iniciar, ampliar ou modernizar suas atividades produtivas. Uma das principais vantagens do financiamento com recursos do fundo sempre foi a baixa taxa de juros das operações, pelo fato de serem recursos destinados ao desenvolvimento regional.Agora, a maior alta de juros prefixados ocorreu a linha FCO Rural Custeio, cuja taxa integral (sem bônus de adimplência) passou de 7,27% para 12% para médios/grandes e grandes produtores. A linha que teve o menor impacto foi o FCO Verde e Inovação Tecnológica, que teve sua taxa integral elevada de 5,46% para 7,46%, uma alta de 2 pontos porcentuais.Para o secretário de Estado da Retomada, César Moura, que também preside o Conselho de Desenvolvimento do Estado (CDE), responsável pela gestão do FCO em Goiás, não justifica uma alta tão expressiva nas taxas, justamente por se tratar de um recurso destinado ao fomento, e não um fundo financeiro. “Seu objetivo é impulsionar a produção e gerar renda, mas querem que estes recursos de apoio tenham taxas alinhadas com o mercado”, alerta.De acordo com o secretário, a mudança nas taxas já provocou muitos protestos de representantes do setor agropecuário na última reunião do CDE para análise de cartas consulta do FCO, realizada na última semana. Um representante do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) defendeu uma política alinhada com juros de mercado para a manutenção do patrimônio do fundo e redução de perdas.“Temos a visão contrária de que se trata de um fundo de investimento, que precisa chegar aos empresários e produtores para isso. O MDR tinha que defender o aumento dos investimentos para aumentarmos o desenvolvimento regional”, avalia César. Ele informa que, na última reunião, foram aprovados R$ 320 milhões em projetos, mas que a informação sobre as novas taxas ainda não está difundida e muitos produtores só devem perceber isso na hora da contratação no banco.Planilha de custos Por isso, os reflexos na demanda pelos recursos ainda devem vir nos próximos meses. Para o presidente da Cooperativa Agropecuária de Catalão (Coacal), Wender Antônio Ferreira, a alta nas taxas deve desestimular a busca pelo crédito, principalmente pelos pecuaristas, que já sentem uma forte pressão pela alta de custos e estão desestimulados. “Nossos cooperados estão preocupados com esta mudança, pois isso se reflete na planilha de custos”, ressalta.Wender lembra que o País já enfrenta o problema da redução da oferta de leite no mercado, depois que muitos produtores deixaram a atividade ou reduziram a produção. Juros mais altos desestimularão ainda mais os investimentos. “Precisamos de juros subsidiados para a pecuária leiteira neste momento de crise para a atividade. O governo deveria fazer justamente o inverso: oferecer taxas mais baixas porque a expectativa é de uma crise de longo prazo”, alerta.A pecuária de corte também vive período de baixa no preço da arroba e alta de custos. Para o presidente da Coacal, os pequenos sempre são mais afetados e, hoje, também estão enfrentando critérios mais rigorosos para concessão de crédito. “Antes, um filho ou esposa poderiam ser avalistas. Agora, querem garantias reais. O pessoal vai pensar duas vezes antes de buscar os recursos”, prevê Wender.Crédito mais caro vai impactar renda do setor, diz IfagA briga por menores taxas de juros do fundo por muito tempo ficou restrita ao FCO Empresarial. Mas, em março deste ano, os empresários conseguiram uma alteração nas regras, que possibilitou a escolha entre taxas pré e pós-fixadas, o que melhorou o acesso aos recursos, apesar das taxas continuarem elevadas. “Agora, com o aumento do custo do FCO Rural, os produtores vão analisar ainda mais o custo financeiro para se produzir”, prevê o diretor executivo do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag), Edson Alves Novaes.Segundo ele, não fechando as contas, com certeza eles buscarão novas alternativas para os seus investimentos e custeio. “O aumento das taxas do FCO seguiu as adequações feitas nas taxas do Plano Safra, em função do aumento da Selic e toda pressão inflacionária, o que levou o governo a tomar medidas de cunho monetário e aumentar os juros de programas e linhas, como o FCO”, destaca Edson.PequenosEle lembra que um aumento significativo ocorreu na taxa do FCO Desenvolvimento Rural, que subiu cerca de 3 pontos porcentuais para mini, pequenos e médios produtores. “Achávamos que isso deveria, pelo menos, seguir a linha do FCO Verde e aumentar apenas dois pontos porcentuais”, avalia. Para os médios/grandes e grandes, a alta passou dos 4 pontos. Porém, estes produtores têm mais condições de pegar outras fontes de crédito que os pequenos.O diretor executivo do Ifag acredita que o setor rural, por sua característica de produção de alimentos e geração de empregos, além de já estar sendo muito prejudicado pela alta nos custos de produção, não deveria ter um aumento tão expressivo de taxas de juros. “O crédito mais caro fará com que este custo de produção aumente ainda mais, impactando a renda do setor, que já está baixa”, destaca.O assunto deve ser tratado na próxima reunião do Conselho de Desenvolvimento do Estado com o Conselho Monetário Nacional e Ministério da Economia, quando gestores do fundo e representantes do setor agropecuário pretendem alertar os técnicos sobre os impactos dessas altas taxas, uma vez que o custo pra se produzir já está em patamares muito elevados. “Esperamos que, com a redução da inflação nos próximos meses, estas taxas possam ser readequadas à realidade do setor rural”, diz Edson Novaes.Leia também:- Lavouras avançam em áreas que eram somente de pastagens em Goiás- Conselho aprova R$ 113,5 milhões do FCO Rural para Goiás- Goiás pode ser terceiro maior produtor de grãos, estima IBGE-Imagem (1.2497024)