A pandemia reverteu uma tendência no mercado imobiliário. Antes do coronavírus, as pessoas passavam pouco tempo em casa e, por isso, buscavam imóveis cada vez mais compactos e práticos. Após as medidas de isolamento social, as famílias passaram a ficar longos períodos em casa e a sentir necessidade de moradias mais amplas e com mais itens de conforto, como varandas e home office. Com isso, muita gente está antecipando o sonhado upgrade da residência.Quando comprou seu primeiro apartamento, o publicitário Frederico da Silva Alencar ficava pouco tempo em casa e optou por um imóvel mais perto do trabalho e prático, um flat com apenas 40 metros quadrados. “Mas, naquela época, eu não imaginava que chegaria a passar 24 horas dentro de casa como agora”, lembra. Com o isolamento social, ele improvisou um home office e tudo ficou pequeno para ele no apartamento. “Passei a sentir falta de uma varanda e já estou pesquisando um novo imóvel para comprar”, conta o publicitário.Histórias como a de Frederico se repetem. Uma pesquisa feita pela Brain Inteligência Estratégica já revelou esta influência do isolamento social na escolha por imóveis maiores e com varanda. “Ao passar mais tempo em casa, o consumidor percebeu que ela está pequena e que precisa de mais qualidade de vida, com uma varanda maior, pintura nova ou um quintal para os filhos brincarem”, ressalta o gestor comercial da Brain, Anderson Santos.As incorporadoras que trabalham com condomínios fechados já sentiram isso nos números. O diretor de Empreendimentos da Tropical Urbanismo, Paulo Roberto da Costa, conta que em 15 dias a empresa vendeu 40% da meta estipulada até o final do ano para os lotes da última etapa do Aldeia do Vale. Foram 47 lotes vendidos, com preços entre R$ 650 mil e R$ 1,5 milhão. “Os compradores falam da experiência de ficarem isolados dentro de um apartamento. Eles querem alternativas como um jardim e um espaço melhor para home office”, destaca. Segundo ele, também cresceu a procura por sítios de lazer para primeira ou segunda moradia.O gerente de Desenvolvimento Imobiliário do Grupo Toctao, responsável pelo projeto urbanístico Plateau D’Or, Rafael Roriz, informa que os meses de maio e junho foram os melhores deste ano. “Conversando com os clientes, observamos que eles estão ficando mais em casa e passaram a dar mais valor ao espaço e ao contato com a natureza, mais conforto para a família”, explica. Por isso, quem morava em apartamento e sonhava com uma casa, resolveu antecipar a realização deste sonho. “Hoje, a pessoa tem mais tempo até para analisar as opções oferecidas pelo mercado.”Esta nova tendência já está levando algumas empresas do mercado imobiliário a reverem seus projetos. O coordenador de Estratégia, Marketing e Comercial da GPL, Eloy Pinheiro, conta que a incorporadora remodelou a planta de um de seus empreendimentos, que antes tinha três quartos, e passou a ter duas suítes e um home office. A demanda por praticidade foi substituída pela necessidade de mais conforto e um espaço para trabalho em casa. “A pessoa agora busca mais qualidade de vida, com varandas mais amplas e plantas integradas. Quem já pensava em fazer um upgrade, está antecipando”, ressalta.Novo significadoPara Ademar Moura, gerente comercial e de marketing da EBM Desenvolvimento Imobiliário, o lar ganhou um novo significado, pois o isolamento social permitiu um olhar sobre os espaços e o conceito de morar bem. Recentemente, a empresa apresentou seu novo empreendimento aos corretores, com vista para o Parque Areião. Sentimos que é o momento certo para movimentar o mercado e aquecer a retomada para o cenário pós-pandemia, além de sentirmos que o produto atende a uma realidade que se formou diante dos nossos olhos”, diz.O coordenador comercial da Brasal Incorporações em Goiânia, Rodrigo Carneiro, também percebeu o aumento do interesse dos clientes em trocar seus imóveis por outros maiores em busca de conforto. “Além de salas e quartos maiores em suas áreas privativas, a área comum com lazer diversificado é outra grande solicitação”, diz. Com a quarentena, esse movimento se intensificou porque os usuários puderam avaliar melhor a qualidade do espaço onde vivem.Se antes a tendência entre os jovens era alugar um imóvel pequeno e bem localizado, a necessidade de ficar mais em casa já incentiva a compra de um apartamento melhor. Algumas tendências que já existiam, como a varanda gourmet, também se intensificaram com a pandemia. “Este é um espaço que se tornou multiuso, para lazer e trabalho”, avalia o presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário em Goiás (Ademi-GO), Roberto Elias Fernandes. Agora, o home office também caiu no gosto dos moradores, uma tendência que veio para ficar. Como estão trabalhando mais em casa, as pessoas também não se importarão mais de morar um pouco mais longe, o que aumenta o leque de regiões para instalação de novos empreendimentos. “Tudo isso, aliado a um momento de juros bem mais baixos, favorece o mercado imobiliário”, destaca Fernandes. Com a baixa rentabilidade no mercado financeiro, principalmente na renda fixa, muita gente deve preferir comprar um imóvel e ganhar mais com o aluguel e a sua valorização.