Após o último reajuste de 16,1% no preço do gás de cozinha, o botijão de 13 quilos já está custando até R$ 140 na capital e R$ 145 no interior do Estado. Com valores tão altos, os clientes estão parcelando em até três vezes o pagamento no cartão de crédito. E as revendas que ainda não parcelavam a venda passaram a oferecer a uma possibilidade para atender a demanda do consumidor. É o caso da América Gás, onde o pagamento do botijão pode ser dividido em duas vezes. O proprietário, Wesley Luiz de Souza, lembra que os clientes passaram a solicitar o parcelamento tão logo o preço do gás começou a apertar o orçamento das famílias. Ele informa que as vendas parceladas já representam 25% do total. Hoje, o empresário vende o botijão por R$ 130 para retirada na revenda e por R$ 135 para entrega. Mesmo pagando este maior valor para fazer o parcelamento no cartão, muita gente está preferindo parcelar. Com os preços mais altos, o revendedor conta que os clientes também passaram a pedir mais descontos. “Mas não temos condições de dar descontos porque os custos subiram muito, principalmente com combustíveis, e as margens estão cada vez menores”, destaca.Na revenda Mais Gás, onde o cliente já pode parcelar o pagamento em até três vezes no cartão, as vendas parceladas cresceram muito nas últimas semanas e já representam quase metade do total comercializado, por causa dos preços mais altos. O empresário Diovani Mancini Costa informa que o produto já está R$ 14 mais caro nas companhias, após o último aumento. “Às vezes, o gás de cozinha da pessoa acaba e ela ainda está pagando o parcelamento do último botijão que comprou. Os clientes estão reclamando muito de dificuldade para comprar”, destaca. Mas Mancini também garante que, a cada reajuste, a margem da revenda fica menor e que qualquer desconto inviabilizaria o funcionamento da empresa. Como se não bastasse o problema do aumento no preço, ele conta também que está mais difícil comprar o gás. “Costumo ter um estoque médio de 500 botijões cheios, mas hoje só tenho 25 e não estou conseguindo encontrar para comprar”, diz.Menos VendasO revendedor Henrique Junqueira Cançado conta que suas vendas caíram 50% após o início da pandemia, já que ele atendia muitos restaurantes e lanchonetes, que foram obrigados a fechar as portas. Mesmo com a retomada das atividades, nos dois primeiros meses do ano, o volume vendido ainda estava entre 15% e 20% abaixo do normal de antes. Porém, ele lembra que na última sexta e sábado as vendas foram quase o dobro de um dia normal, com muita gente antecipando a compra para evitar o novo aumento.Mas, após esta última mudança no preço, quando o valor de venda na revenda chegou aos R$ 140, a expectativa é de uma nova queda nas vendas. Diovani Mancini, da Mais Gás, lembra que vendia cerca de 80 botijões todos os dias, mas, hoje, vende 35.O revendedor Wesley Luiz de Souza, da América Gás, lembra que muitos clientes mudaram hábitos para economizar. “Muita gente passou a usar mais a panela elétrica e o microondas e reduziu o uso do forno”, destaca. Ele conta que só do ano passado pra cá suas vendas já caíram 12%”, ressalta.A escalada de preços e a queda nas vendas obrigaram as empresas do ramo a cortar custos, O revendedor Diovani Mancini informa que precisou reduzir o número de entregadores de 5 para apenas 2. Wesley de Souza diz que também precisou dispensar um profissional.De acordo com o presidente do Sindicato dos Revendedores de Gás na Região Centro-Oeste (Sinergás), Zenildo Dias do Vale, as vendas já caíram 20% este ano e a estimativa de uma queda de pelo menos mais 10%, o que deve provocar o fechamento de muitos depósitos. “O preço subiu cerca de R$ 10 por botijão. Neste caso, quem comprar mil unidades, vai precisar de mais R$ 10 mil de capital de giro. Mas nem todo mundo tem isso”.Novo aumentoO revendedor Henrique Junqueira alerta que os preços devem subir ainda mais nas próximas semanas, já que a Petrobras só repassou 16% de um total de 25%. Ou seja, outros R$ 8 ainda podem vir da diferença que ainda não foi repassada pela Petrobras para atingir a paridade de 25%.Diovani Mancini também lembra que outra pressão deve vir do valor da pauta do gás (preço médio do mercado usado como referência para o cálculo do ICMS), que muda todo dia 1º, conforme os valores praticados no mercado. Com o gás mais caro, o imposto estadual também sobe. Ele estima que a alta deve ser de cerca de R$ 3. A esperança, segundo Junqueira, está no posicionamento do governo federal quanto à possibilidade de subsídio, e até mesmo no andamento da guerra na Ucrânia. “Ainda existem muitas dúvidas sobre como os preços devem se comportar de agora em diante”, diz.