De uma situação difícil, surgiu ideia inovadora. Weiky Ferreira acompanhou a mãe Eleuza Carniello durante tratamento contra leucemia. Foi quando ouviu o médico recomendar o uso de produtos com formulação o mais natural possível à mãe, que sempre usou muita maquiagem, e notou que tinham de recorrer a importados ou a marcas do Sul do Brasil. Isso foi há dois anos.Hoje, Weiky, 40 anos, supervisiona as obras de acabamento na pequena fábrica construída em Anápolis, a 60 quilômetros de Goiânia, onde serão fabricados biocosméticos sustentáveis feitos à base de óleos vegetais de frutos e extratos de plantas do Cerrado. Ela planeja que até o fim do ano a indústria esteja em atividade, com lançamento das primeiras linhas de produtos.O negócio deve começar com o batom de baru, em várias cores e com óleo antioxidante. “Dá uma proteção a mais. Tiramos os químicos nocivos, como óleo mineral e conservantes como parabeno”, explica a empreendedora. De início, a capacidade será de 2 mil unidades/dia de cada produto. Além do batom, serão fabricados uma base facial feita com extrato de carobinha e um desodorante sem alumínio.A matéria-prima virá de fornecedores em Goiás que trabalham com extrativismo, o que pressupõe sazonalidade. Baru de Formosa e pequi de Mineiros, informa Weiky. Já a carobinha, explica ela, será proveniente de plantação feita em Anápolis mesmo por uma professora de agronomia, que buscou mudas no campo.“Trata-se de microempresa, mas terá tudo como manda o figurino”, ressalta, mencionando o cumprimento das normas da Anvisa e parcerias com Senai e Sebrae. No momento, ela diz aguardar licenciamento pela Vigilância Sanitária.O investimento até agora de cerca de R$ 100 mil foi com capital próprio, enquanto tenta aprovação em programa de fomento do governo do Estado e financiamento pelo BNDES, calculando que ainda será preciso investir mais R$ 200 mil em equipamentos e matéria-prima. “O layout da fábrica já prevê o que vai ser instalado”, comenta, observando que como será fabricação própria, terá controle de todo o processo, em cada etapa de toda a cadeia produtiva. “Desde quem planta, colhe, até a gente, que faz virar cosmético.”A distribuição, num primeiro momento, será apenas por e-commerce. “Nossa plataforma será virtual, são produtos ainda de difíceis de encontrar em Goiás, então o foco será no mercado local mesmo. Até para ver se vai ser aceito.” Todas as embalagens serão de bambu, biodegradáveis, diz ainda. O plano é de vir a usar o selo Eu reciclo.As vendas inaugurais serão a conclusão de um processo que envolveu estudos e dedicação. “Só o batom, foram quase dois anos para desenvolver a formulação”, conta a empreendedora que é também pesquisadora. “Depois que tem um problema que a gente vê a necessidade”, fala sobre o que desencadeou o projeto, a doença da mãe, que é quem hoje testa os produtos 100% veganos. “Nada de origem animal”, enfatiza Weiky.Graduada em administração de empresas, com mestrado na Inglaterra, onde morou durante oito anos, Weiky voltou a morar em Anápolis há seis anos. Há dois, criou a startup, que diz ter sido vista como ótima proposta pelo Sebrae, que lhe indicou procurar uma incubadora. Aí entra a Universidade Evangélica de Goiás (UniEvangélica), com o Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT), um espaço para incubar empresas.“Fiz edital, foi aprovado e fui colocada na incubadora. Começamos a reunir os profissionais para formulação, gestão, a incubadora deu diretrizes”, relata. Agora, está concluindo o mestrado em biotecnologia, sob orientação do professor Wesley Brito, que participa do desenvolvimento dos produtos, em breve disponíveis no mercado.Núcleo serve de incubadora a startups O Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT), da Universidade Evangélica de Goiás (UniEvangélica), tem favorecido a atração de empresas e processos de parcerias com o setor produtivo para que as pesquisas tenham apelo também para o mercado, principalmente do setor farmoquímico, que tem forte polo em Anápolis, explica Sandro Dutra e Silva, pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UniEvangélica. Entre propostas desenvolvidas que surgem das demandas empresariais, o pró-reitor cita trabalhos em proximidade com grupos como Teuto, Geolab, Goialli, Jalles Machado e Anglo American.“Damos suporte de professores, pesquisadores, infraestrutura, contábil e jurídico, para o desenvolvimento de projetos e startups.”Sandro lembra que o fortalecimento do NIT foi fundamental para que o centro universitário em Anápolis alcançasse credenciamento no Ministério da Educação para se tornar universidade, há um ano. Como diferencial, ele cita o mestrado profissional em ciência farmacêutica, “o único cuja finalidade é atender a demanda do setor produtivo no Centro-Oeste, e não só formar acadêmicos”.O foco principal, portanto, conforme o pró-reitor, é nesse ecossistema de inovação voltado para a área de saúde, elaborando projetos para atender não só Anápolis, “mas se tornar referência em Goiás e no Centro-Oeste”. O NIT acolhe desde projetos de iniciação científica que tenham potencial para se transformar em empresa como se associa a projetos de mestrado e doutorado que já estão sendo desenvolvidos em parceria com outras empresas para a criação de startups e para que se revertam em patentes e produtos. “O objetivo é dar todo o apoio necessário para o desenvolvimento de projetos que se tornem negócios.”Nutracêutico auxilia no tratamento de leucemiaA fórmula é patenteada e o produto já tem nome, ImmuneRecov, com a efetividade dos resultados atestada por vários estudos. Trata-se de um nutracêutico - suplemento alimentar que tem funções específicas no organismo, nesse caso, com proteínas que podem prevenir ou auxiliar no tratamento de leucemia. Quem informa é Rodolfo de Paula Vieira, 42 anos, pesquisador, professor e um dos coordenadores do Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT), da Universidade Evangélica de Goiás (UniEvangélica).Criador da fórmula, Rodolfo diz estar em negociação com indústrias farmacêuticas que demonstraram interesse em fabricar o nutracêutico em maior escala. Além de indicado para auxiliar no tratamento de leucemia, ele diz que o produto, que tem como um dos componentes proteína isolada do soro do leite e um dos grandes diferenciais extraído de algas marinhas, também mostrou ser eficaz na recuperação de idosos que apresentam perda de massa muscular e de força, com risco aumentado de queda.O pesquisador conta que já tinha desenvolvido a fórmula com a Gap Biotech, de São Paulo, onde nasceu e morava antes de se mudar para Anápolis, em janeiro deste ano. Decidiu vir para a cidade goiana em busca de mais tranquilidade e qualidade de vida, relata, e atraído também pelo fato de a UniEvangélica contar com curso de medicina e hospital próprio, o que favorece as pesquisas.No NIT, um dos objetivos de Rodolfo é começar a desenvolver projetos na área de farmacologia com produtos do Cerrado. Está em fase de coleta de diferentes tipos de plantas e minerais para estudar as possíveis propriedades terapêuticas.Ao mesmo tempo, dedica-se a concluir trabalhos que já tinha em andamento. Um deles para uma empresa de Israel, com bons resultados de recuperação de pós-covid, conforme explica. “Contribui para melhora da infecção e da lesão no tecido pulmonar”, descreve, acrescentando que em Israel já é comercializado como fitoterápico indicado também para outras infecções virais e asma. Ainda não disponível no Brasil, o produto é à base de extratos de minerais extraídos do Mar Morto.Rodolfo tem graduação em Educação Física, mestrado em fisiologia e farmacologia pela Univap, doutorado em imunopatologia e pós-doutorado pela USP, e dois pós-doutorados na Alemanha.Leia também:- Caminhada Ecológica volta à estrada em defesa da vida e da natureza- Pequenos negócios precisam de mais produtividade e crédito- Confira as tendências de maquiagem e cabelo para o inverno