O reajuste nos preços dos combustíveis, anunciado pela Petrobras e que passou a vigorar ontem, fará com que 2022 já comece sob o impacto da inflação ainda no mês de janeiro. O litro da gasolina subiu para até R$ 7,49 e o diesel já era encontrado por até R$ 6,09 em alguns postos de Goiânia. O maior problema é que estes aumentos se refletirão imediatamente no preço do frete das mercadorias, provocando uma onda de reajustes nos preços dos produtos.Nas refinarias, o valor médio da gasolina vendida para as distribuidoras passou de R$ 3,09 para R$ 3,24 por litro, um reajuste de 4,85%. Já para o diesel, de R$ 3,34 para R$ 3,61 por litro, alta de 8,08%. Em 2021, os preços de gasolina e diesel já haviam subido quase 47% em Goiânia e a alta do etanol foi de 54%, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que fechou o ano em 10,31%.Na tarde de ontem, quando a maioria dos postos ainda não havia reajustado seus preços, o litro da gasolina variava de R$ 6,59 a R$ 7,49 e o do diesel oscilava entre R$ 5,14 a R$ 6,09. O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo em Goiás (Sindiposto), Márcio Andrade, explica que nem todos os revendedores receberam combustível ontem. “Alguns postos que já receberam produto novo também podem decidir aguardar mais um pouco por ainda terem estoques antigos. Quem repassa logo, geralmente trabalha com margens bem apertadas”, ressalta.Os novos preços chegam num momento de vendas em baixa. Márcio lembra que janeiro geralmente é mais fraco porque boa parte da população viaja. Mas, segundo ele, este ano está bem pior, tanto que os preços já haviam recuado nas semanas anteriores, mesmo sem redução nas distribuidoras. “Os postos abriram mão de parte de suas margens para tentar aquecer as vendas”, diz o presidente do Sindiposto.Para ele, os novos preços também chegam num momento de orçamento mais apertado para o consumidor, que está sem reajuste de salários, e no começo de ano. Por isso, a tendência é de queda nas vendas. Neste cenário, a forma como os preços irão se estabilizar nos próximos dias ainda dependerá do comportamento do consumo e da concorrência entre os postos.FreteO impacto dos novos preços sobre o custo do frete será imediato, avisa o presidente da Federação Interestadual das Empresas de Transporte de Cargas (Fenatac), Paulo Afonso Lustosa. “Ou o empresário repassa imediatamente ou não conseguirá manter seu negócio. É questão de sobrevivência”, diz.Segundo ele, as transportadoras não conseguiram repassar todos os reajustes e muitas já acumulam uma defasagem de mais de 15%. No caso das pequenas empresas, essa perda seria ainda maior. Para Paulo Afonso, falta sensibilidade do governo sobre esta pressão exercida sobre os preços dos combustíveis. “Não há outro caminho a não ser o repasse imediato, o que vai repercutir no preço final dos produtos, com mais aumentos”, ressalta Paulo Afonso. Ele lembra que o transporte representa cerca de 3% do valor das mercadorias.O economia Aurélio Troncoso, coordenador do Centro de Pesquisas Econômicas do Mestrado da Unialfa, lembra que esta alta nos preços dos combustíveis deve se refletir nos números da inflação de janeiro. E não apenas por conta das elevações nos valores da gasolina e diesel, mas também por conta da pressão que estes reajustes exercem sobre os preços dos demais produtos e serviços no mercado, num efeito cascata.Ele acredita que haverá impacto nos índices de preços IPCA e no IGPM. “Na verdade, este aumento dos combustíveis já estava programado para dezembro do ano passado e foi adiado para não elevar ainda mais a inflação de 2021, que fechou bem acima da meta”, explica Troncoso. Com isso, o ano já começa com pressão inflacionária de custos, o que já levou o Banco Central a sinalizar uma nova alta dos juros.“Estão cometendo o mesmo erro da Dilma Roussef em 2014. Dizem que é para conter a inflação, mas na verdade é uma tentativa de atrair capital especulativo para cá e derrubar o dólar”, avalia o economista. Para ele, o atual governo está fazendo exatamente igual a governos anteriores: usando as ferramentas inadequadas para combater o problema. “Inflação se combate com incentivo à produção para gerar mais concorrência de mercado”, completa.Os últimos aumentos ocorreram no final do último mês de outubro. Em dezembro, os preços praticados pela Petrobras para a gasolina foram reduzidos em R$ 0,10 litro e permaneceram estáveis para o diesel. Em comunicado, a Petrobras justificou que esses ajustes são importantes para garantir que o mercado siga sendo suprido em bases econômicas e sem riscos de desabastecimento pelos diferentes atores responsáveis pelo atendimento às diversas regiões brasileiras: distribuidores, importadores e outros produtores, além da Petrobras.