As incertezas na economia provocadas pelas medidas de combate ao coronavírus fazem as empresas do mercado imobiliário adiarem lançamentos de empreendimentos que estavam previstos, seguindo o comportamento do consumidor, que adia a compra de imóveis. Uma pesquisa feita pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e Senai, produzida pela Brain, mostrou que, em abril, as empresas do setor estimaram uma queda de 39% nas vendas e de 75% nos lançamentos de unidades previstas para o período.As obras que foram iniciadas, continuam. “Nos financiamentos garantidos, as obras vão acontecer como previsto”, acredita o presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Goiás (Ademi-GO), Roberto Elias Fernandes. Mas o lançamento de novos empreendimentos dependerá do mercado, que está adiando a compra ou troca do imóvel por medo dos reflexos da crise em suas finanças, como o desemprego.Para Roberto Elias, as pessoas estão adiando as compras para o segundo semestre ou primeiro semestre de 2021. “Depois de superarmos o pior momento da crise, a tendência é que os lançamentos e vendas voltem”, prevê. A dúvida atual é: quando. Mas ele acredita que, quando o pior passar, haverá aumento na demanda. “Com as pessoas mais em casa, muitas passaram a prestar mais atenção em seus imóveis e já estão pensando em trocá-lo por um apartamento com uma varanda maior, por exemplo”, explica.Por isso, ele acredita que é normal que as empresas segurem seus lançamentos neste período e até revejam seus projetos. O gestor comercial da Região Centro-Oeste da Brain, Anderson Gonçalves, explica que Goiânia está entre as regiões que mais chamaram atenção na pesquisa, feita em 118 municípios. Mas, segundo ele, tudo indica que os consumidores não estão cancelando, mas adiando a compra para depois dos próximos 60 ou 120 dias.“Todos estão esperando um pouco mais para ver o que vai acontecer, ou seja, como a situação vai ficar daqui a uns meses, com o risco de redução na renda e até de desemprego”, ressalta Anderson. Ele também concorda que, com o isolamento e o trabalho home office, muita gente está repensando a moradia atual, o que deve despertar o desejo por um imóvel maior e mais confortável, com uma varanda integrada, por exemplo.O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil em Goiás (Sinduscon), Eduardo Bilemjian, afirma que as obras já iniciadas continuam. Já os lançamentos aguardam o comportamento da economia. “Esse sentimento de espera acontece também com o consumidor, por isso quase todos os segmentos desaceleraram”, destaca. Segundo ele, hoje há uma grande interrogação sobre a duração, tamanho e os reflexos da crise, que é nova, sobre o mercado. Bilemjian garante que o setor tem tentado preservar os empregos, mas este adiamento dos lançamentos se refletirá no mercado de trabalho, reduzindo o número de novas vagas abertas.Para o especialista em mercado imobiliário, Ricardo Teixeira, por mais que as empresas estejam preparadas para vendas online, muita gente faz questão de visitar o imóvel ou o decorado antes de fechar o negócio, o que não é possível no momento. Porém, ele lembra que a demanda no mercado imobiliário é grande, apesar da insegurança e das dúvidas do momento, a expectativa é de uma retomada rápida. Ricardo acredita que a baixa taxa de juros atual será a grande locomotiva do mercado imobiliário depois da crise. Apesar dos bancos estarem mais restritivos no crédito, pelo maior risco de inadimplência, ele prevê que o financiamento do imóvel seja menos afetado por causa da garantia da alienação fiduciária. Roberto Elias também acredita que, com os juros baixos, a tendência seja de migração de investidores do mercado financeiro para o imobiliário.