Apesar de ter tido aumento de 45% no número de cooperativas de transporte em Goiás entre 2010 e 2020, a quantidade de cooperados caiu 15% no mesmo intervalo de 10 anos. O bom cenário do transporte de cargas em contraste com a pandemia da Covid-19, que afetou, por exemplo, o transporte escolar, explica o paradoxo. Os dados são do Sistema OCB/GO.Leia também:- Negócios em cooperativas de crédito crescem 50%- Geração solar cresce quase cinco vezes em 2 anosEm 2010 eram 35 unidades de cooperativas de transporte. Em 2020, segundo o levantamento, o número passou para 51. Por outro lado, houve queda significativa no número de cooperados, que passou de 4,5 mil em 2010 para 3,8 mil em 2020. A crise sanitária é tida como a principal motivadora dessa redução.Além disso, como dado positivo há o aumento de mais de 50% no total de ativos do segmento entre 2019 e 2020, que passou de R$ 25,6 milhões para R$ 57,1 milhões. Todavia, a pandemia fez com que a receita bruta das cooperativas caísse 30% em 2020, primeiro ano da pandemia, para R$ 116 milhões.Para o presidente da OCB/GO, Luís Alberto Pereira, os dados positivos levantados se devem ao desempenho do transporte de cargas, que não sofreu impactos da pandemia da Covid-19. “Esse crescimento está muito ligado ao agronegócio. Porque o nosso transporte de cargas leva muitos produtos primários, muitos grãos”, pontua.Pereira destaca o crescimento do agronegócio goiano. De acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Valor Bruto de Produção (VBP) goiano totalizou R$ 102,2 bilhões em 2021 e deve chegar a 105,6 bilhões neste ano. O índice é um dos principais indicadores de desempenho do setor agropecuário no País.“Naturalmente, o setor de transportes acompanha esse crescimento”, explica. Para ele, a pandemia não impactou o transporte de cargas porque o produtor continuou produzindo e o Brasil, exportando.Além de não ter sofrido perdas, o transporte de delivery acabou se beneficiando da crise sanitária, que gerou restrições a atividades presenciais. A Cooperativa dos Condutores de Motocicletas do Estado de Goiás (Coopmego) viu o número de cooperados subir de 260 para quase 390 nos últimos dois anos e os clientes fixos aumentarem em 28%.O diretor administrativo da Coopmego, Rubens Dias dos Santos, conta que viu muito comércio que não trabalhava com delivery sentir a necessidade de inserir o serviço por conta da pandemia da Covid-19. Segundo ele, não há concorrência com aplicativos de entrega, porque os cooperados são prestadores de serviço, enquanto os aplicativos vendem um produto.“A gente só lamenta porque nós temos muitos benefícios, nossos motociclistas têm direito a lanche, a banheiro”. Para ele, seria até mais lógico que os aplicativos só vendessem e os cooperados prestassem o serviço de entrega.Santos conta que antes da pandemia havia mais ou menos 140 clientes e hoje o número passou para 210. “Os principais clientes são empresas de autopeças, alimentação, farmácias de manipulação”, diz.PrejudicadosNa contramão desse crescimento está o transporte escolar, um dos setores mais impactados pela pandemia, devido aos quase dois anos de suspensão das aulas presenciais. “Agora que estamos tentando voltar, mas um retorno em que enfrentamos vários aumentos de combustível e nenhuma ajuda governamental, as parcerias que nós temos é com o sistema de cooperativas”, reclama o presidente da Cooperativa do Transporte Escolar e Turismo do Estado de Goiás (Cooperteg), Adilson Humberto Lellis.O presidente também relata dificuldades de regularização para a retomada, já que isso depende do pagamento de taxas que, muitas vezes, o cooperado não está em condições de bancar. Ele lembra que, para tentar resolver a crise no auge da pandemia, o setor tentou oferecer o serviço de transporte coletivo, mas não foi atendido pelos governos municipais e estadual. “O que nós tivemos aqui foram apenas três meses de cestas básicas do governo do estado”, cita.Segundo ele, esses fatores fizeram com que muitos cooperados decidissem não voltar ao ramo na retomada. “Teve uma queda significativa em torno de 30% a 40%. Uma desistência forçada de quem não deu conta de retomar”, lamenta. O presidente relata, porém, que cerca de 80% do serviço foi retomado em 2022.O presidente da OCB destaca a dificuldade sentida, durante a pandemia, pelo transporte de passageiros. “Parou tudo e esse pessoal precisou até de ajuda com cestas básicas. Esse setor sofreu com a pandemia”, diz.Pereira também alerta que o aumento significativo do preço dos combustíveis nos últimos anos impactou diretamente no rendimento da lucratividade do setor. “Porque o custo aumenta, então a lucratividade diminui e arrocha muito o transportador”, explica.Agora com o cenário de retomada, o presidente diz que a expectativa é de que o setor continue crescendo em uma faixa de 20% ao ano. “Isso se não tiver nenhum problema com safra, produção de grãos”, afirma.-Imagem (Image_1.2448038)