A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), na segunda-feira (6), que zera os impostos estaduais sobre o diesel, gás de cozinha e transporte coletivo, pode reduzir o preço do combustível em apenas R$ 0,03 em Goiás.No estado, hoje, o ICMS cobrado sobre o diesel, de acordo com levantamento da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis), com referência a junho deste ano, é de R$ 0,8069.Ou seja, caso o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre o diesel seja zerado, o consumidor final deixaria de pagar R$ 0,80 no litro do combustível.A questão é que, de acordo com estimativa da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), o preço do diesel no Brasil está defasado. A média de defasagem é de 13% ou R$ 0,77, em dados publicados nesta terça-feira (7).Quer dizer que se a Petrobras decidir ajustar os preços do diesel no Brasil para adequar ao patamar internacional, o consumidor final pagaria R$ 0,77 a mais por litro em todo o país. Em Goiás, isso significa que, ao invés de economizar R$ 0,80, como sugere a PEC que ainda deve ser enviada ao Congresso, o goiano deixaria de pagar apenas R$ 0,03 no litro do combustível.Leia também:- Caiado diz que ICMS ‘não é assunto que o estado deva se meter’- Pressa em votar limite para ICMS dos combustíveis divide senadores goianosDe acordo com levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), feito do dia 29 de maio a 4 de junho, o preço médio do diesel em Goiânia é de R$ 6,77.Portanto, se o goianiense deixasse de pagar o ICMS sobre o diesel hoje, o preço médio do litro do diesel ficaria R$ 5,97, por conta da redução de R$ 0,80. Mas, se for considerada a defasagem apontada pela Abicom, o valor sobe para R$ 6,74 – só R$ 0,03 a menos que o preço médio praticado na capital atualmente.A proposta anunciada por Bolsonaro é de que, ao zerar esses impostos, o governo federal ofereça uma compensação financeira de cerca de R$ 25 bilhões aos estados (leia mais na pág.8). Entre as medidas, prevê também a isenção de PIS/Cofins e Cide sobre a gasolina e o etanol, em um pacote de até R$ 50 bilhões, com o objetivo de reduzir o preço do combustível para o consumidor final.Aumento futuroPara o economista Luiz Carlos Ongaratto, essa é mais uma medida que não resolve a raiz do problema. Na sua avaliação, o pequeno impacto no preço em Goiás, por exemplo, causado pela defasagem do valor do diesel, revela a baixa efetividade da proposta. “A defasagem tem a ver com a falta ou com o não ajuste no passado e aí existe uma margem de possível aumento no futuro”, explica. Segundo ele, esse pode ser o argumento dos empresários para aumentar o preço mais adiante.Para Ongaratto, zerar o ICMS significará trazer problemas para os estados. “Pode ser que haja um déficit fiscal ainda maior ou uma necessidade de tributar outros produtos, porque essa conta nós que vamos pagar e sem ter uma redução efetiva no preço do diesel”, sublinha.O presidente do Comitê Nacional dos Secretários de Fazenda dos Estados e do Distrito Federal (Comsefaz), Décio Padilha, que é secretário da Fazenda de Pernambuco, criticou a medida em áudio enviado à imprensa nesta terça-feira (7).Ele afirma que a PEC a ser proposta pelo governo federal não traz qualquer compensação aos prejuízos ocasionados nas finanças dos estados pelo projeto de lei complementar 18/2022, que traz impacto direto da ordem de R$ 100 bilhões no ano aos entes. A proposta, que tramita no Senado, limita para 17% o ICMS sobre combustíveis, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo.“Os serviços de educação, de saúde e o repasse às prefeituras ficarão bem comprometidos se esse projeto passar da forma como está”, diz. Ele lembra que 25% da arrecadação de ICMS é destinada à educação, 12% à saúde e 25% aos municípios.O prejuízo causado pelo projeto em tramitação, segundo ele, nessas áreas, é de mais de R$ 62 bilhões. O presidente também cita que os estados estão com o imposto congelado. “E mesmo assim não resolveu o problema da alta dos combustíveis”, destaca.Quanto à PEC anunciada na segunda, Padilha reforça a defasagem apontada pelo mercado. “Você zerar o ICMS não resolve, em nada, o problema da escalada de preço. Isso é muito importante explicar, porque, para melhorar essa situação, você tem que aprovar uma solução conjuntural”, diz.Para ele, a solução seria uma conta de equalização, que está prevista em outro projeto de lei no Congresso Nacional. “Para garantir que 40% dos dividendos pagos pela Petrobras à União fossem destinados para essa conta de equalização enquanto permanece a guerra (da Ucrânia)”, afirma.O governador Ronaldo Caiado (UB), que no início atuou junto à bancada goiana contra o projeto que limita o ICMS, disse recentemente que o estado não deve se meter no assunto.-Imagem (1.2469617)