Depois de forte crescimento do número de lançamentos e das vendas em 2021, as construtoras e incorporadoras iniciaram 2022 com vários desafios de peso pela frente. O maior deles deve ser a escassez e a alta dos custos dos insumos e da mão de obra, que podem afetar diretamente a evolução das obras e os preços dos imóveis.A estimativa do Sindicato da Indústria da Construção em Goiás (Sinduscon-GO) é que Goiânia e Região Metropolitana abriguem cerca de 40 canteiros de obras simultâneas este ano, o que demandará um contingente adicional de 4 mil a 5 mil novos trabalhadores.O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), um indicador de inflação do setor, fechou 2020 com alta de 8,8% e encerrou 2021 em 14,03%. O diretor de Engenharia da Opus Incorporadora, Adriano Justino, lembra que a construção ainda está sob impacto de fortes altas nos custos dos materiais, pois instabilidades geopolíticas no mundo todo afetaram a disponibilidade e inflacionaram os preços de insumos como aço, alumínio, metais em geral, resinas e PVC.Além disso, a logística no mundo também ficou mais complexa, o que tem elevado custos e atrasado as entregas de materiais, afetando toda a cadeia de suprimentos. O resultado, segundo Adriano, são prazos de entrega mais longos, o que exige uma melhor programação e gestão.As exportações destas commodities também cresceram, aumentando o desequilíbrio no mercado interno, com reflexos na oferta de produtos como metais, revestimentos, esquadrias de alumínio e madeira.Outro desafio é que quando a indústria passa a operar com sua máxima capacidade de produção, fica mais suscetível a falhas de qualidade dos produtos.“O índice de reprovação de materiais aumentou muito e, quando eles são devolvidos, os fornecedores pedem mais prazo para entrega, gerando novos atrasos”, explica o incorporador. Com a demanda aquecida, os elos da cadeia procuram fazer reposições em suas margens, gerando uma forte pressão de custos.Para o presidente do Sindicato da Indústria da Construção no Estado (Sinduscon-GO), Cezar Mortari, os preços dos insumos ainda são motivo de apreensão do setor. Ele lembra que, depois de chegar a quase 20% em agosto de 2021, o INCC começou a perder força, mas há um temor de que a alta do IPCA ainda possa impactar os preços dos materiais, que antes haviam subido por conta de reflexos da pandemia. “Agora, a pressão pode vir da inflação geral mesmo.”Mão de obraA alta da inflação também vai impactar o custo da mão de obra. Cezar Mortari lembra que os trabalhadores do setor devem buscar uma reposição de perdas salariais na próxima data-base da categoria, em maio, o que deve resultar em reajustes de, pelo menos, 10%. “Em muitos produtos, o impacto da mão de obra no custo chega a 50%”, lembra. Isso logo após o reaquecimento do mercado imobiliário em 2021, quando as empresas lançaram e venderam bem mais.De acordo com o presidente do Sinduscon-GO, após tantos lançamentos simultâneos e vendas em 2021, a estimativa é de 40 canteiros de obras abertos este ano e uma demanda adicional de 4 mil a 5 mil trabalhadores, o equivalente a 10% da mão de obra que já atua na capital e Região Metropolitana de maneira formal. “A tendência agora é de várias obras construídas simultaneamente, o que deve deixar a mão de obra mais concorrida e cara”, prevê o incorporador Adriano Justino.Com tantas construções na mesma etapa, a rotatividade de trabalhadores entre elas fica mais difícil. “A fase de acabamento é a que demanda mais pessoas. Por isso, ainda vamos chegar ao pico deste problema”, alerta. Mais uma vez, o reflexo deve ser a alta de custos e na produtividade nos canteiros de obra, problema que não depende de gestão de estoque.A retomada das obras de infraestrutura no País também deve ser mais um fator de concorrência por trabalhadores para o setor, que ainda disputa pessoal com a informalidade. Estimativas da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) apontam que cerca de 50% da mão de obra do setor hoje trabalhe na informalidade.O incorporador e vice-presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Goiás (Ademi-GO), Marcelo Moreira, lembra que o setor responde por 10% de toda mão de obra assalariada no País e hoje possui vagas disponíveis em todas as áreas.Para tentar reduzir o problema, a saída tem sido investir em escolas de formação nos próprios canteiros de obra. “São profissões que pagam cada vez melhor, acima da média do mercado. A média dos salários nos canteiros é maior que a do escritório e dá para fazer uma boa carreira”, afirma.O presidente do Sinduscon-GO conta que o setor prepara uma grande mobilização para capacitação de pessoal em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-GO), numa espécie de força tarefa gigante de qualificação.“Este ano será um dos mais desafiadores para nosso setor, pois teremos que cumprir prazos de entrega, mesmo com esta escassez de mão de obra”, avalia Cezar Mortari. Para ele, o setor também terá que melhorar sua comunicação com o trabalhador, atuando mais nos bairros para conectá-los às oportunidades de emprego abertas. “Também vamos incentivar mais, a partir de agora, processos de industrialização de processos de construção, que reduzem a demanda por pessoal”.Eleições, terrenos caros e juros mais altos são entravesA gradativa escalada dos custos ao longo do ano passado já se refletiu nos preços dos imóveis e alguns tiveram uma valorização superior a 30%, segundo o vice-presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Goiás (Ademi-GO), Marcelo Moreira.Outra pressão vem do custo dos terrenos, cada vez mais escassos e caros. “Os bons terrenos estão ficando cada vez mais caros e escassos no mercado”, diz Ricardo Reis, sócio da GPL Incorporadora, que tem seis empreendimentos em construção hoje e mais lançamentos previstos para o primeiro e segundo semestres.Na visão do presidente do Sindicato da Indústria da Construção no Estado (Sinduscon-GO), Cezar Mortari, Goiânia começa a atingir sua “maturidade imobiliária”, quando quase todos os terrenos nas regiões mais centrais já estão ocupados, ficando cada vez mais caros e escassos.“Dentro de alguns anos, teremos que começar a demolir prédios mais antigos, que acabam desvalorizados por conta dos altos custos com manutenção, que se refletem em taxas de condomínios muito caras, para a construção de novos edifícios mais modernos e economicamente viáveis”, prevê.Mas, para Marcelo Moreira, as mudanças que estão sendo feitas no Plano Diretor da capital devem trazer novas oportunidades de áreas, pois, avalia, estão sendo baseadas em bons estudos técnicos, apesar de ter recebido muitas críticas.“É uma lei que está em discussão desde 2017, com a realização de várias audiências públicas e a participação de muita gente qualificada, e que veio para melhorar”, acredita.Ano de eleiçõesRicardo Reis, da GPL Incorporadora, lembra que anos de eleições são sempre mais desafiadores para várias atividades econômicas, como a construção civil. “O cliente sempre fica mais retraído sobre a decisão de compra pela maior volatilidade do mercado”, explica. O País acaba vivendo uma espécie de compasso de espera pelo resultado das eleições, que envolvem decisões econômicas e estratégias de mercado.O vice-presidente da Ademi-GO informa que, mesmo com juros mais altos agora, que oneram o custo final dos financiamentos imobiliário, as vendas de imóveis iniciaram o ano em alta. “A Selic ainda está abaixo da média histórica e taxa de dois dígitos não é nada surpreendente para o País. Mas a expectativa é de futuras reduções, após o tumulto de um ano eleitoral, que gera incertezas que se refletem na economia”, avalia.Na visão de Ricardo Reis, apesar da maior valorização em 2021, os preços de venda dos imóveis não conseguiram acompanhar a alta no custo dos insumos e da mão de obra. Por isso, comprar imóvel ainda é um bom negócio.O mercado se manteve aquecido durante a pandemia, por conta da demanda por moradias melhores, mas ele reconhece que os juros mais elevados para empreendedores e consumidores finais hoje podem funcionar como um freio de mão do mercado.“Os financiamentos passam a não caber mais no bolso de qualquer trabalhador”, adverte o incorporador. Com os juros em viés de alta, o contexto eleitoral e a previsão de mais impactos de custos ao longo do ano, a tendência é de um maior receio no segundo semestre. Portanto, Reis acredita que o melhor é comprar o quanto antes.Prazos de entregaPara o incorporador Adriano Justino, algumas empresas, principalmente as mais novas no mercado, ainda não estão relacionando sua velocidade de vendas com a estrutura disponível para a realização das obras.“Algumas ainda não têm maturidade suficiente para saber até onde podem vender para garantir uma entrega segura, com qualidade e dentro do prazo prometido”, alerta.Neste cenário, ele lembra que o consumidor também deve estar atento e escolher produtos que resultem numa decisão de compra mais assertiva e numa boa valorização para seu investimento.Rodrigo Lima, sócio da IN Inteligência Construtiva, acredita que 2022 será um ano de cautela. “Tivemos aumento de juros, que reflete na parcela final que o cliente vai pagar, e os incorporadores terão de revisar a viabilidade econômica de seus projetos. A velocidade de vendas deve diminuir”, prevê.Como o mercado imobiliário é cíclico, após um período de euforia, há uma acomodação. “Devemos ter uma diminuição de lançamentos no segundo semestre por conta do cenário político que vai se desenhando.”-Imagem (Image_1.2398000)