Para fomentar sua economia, Goiás precisa incentivar mais sua produção industrial para elevar a agregação de valor à sua abundante oferta de matérias-primas e fazer com que seus produtos tenham mais competitividade. Assim, será possível atrair novos investimentos e reter empresas já instaladas no Estado. Representantes do setor produtivo e consultores indicam que o melhor atalho para produzir mais passa por políticas públicas que identifiquem e contemplem demandas por segmentos específicos.Para o presidente executivo da Associação Pró Desenvolvimento Industrial de Goiás (Adial), Edwal Portilho, o Tchequinho, o Estado parou de atrair novos grandes investimentos após a vilanização dos incentivos fiscais, que fizeram a participação do PIB industrial cair de 29% em 2010 para 21% em 2019. Também houve uma redução em nível nacional. “Houve uma piora no ambiente de negócios e há pelo menos 10 anos não recebemos novos investimentos âncora de uma cadeia longa, como o setor automobilístico”, destaca.Mas ele lembra que, nos últimos anos, estados como Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul adotaram políticas muito agressivas de atração de investimentos. Goiás, por sua vez, não investiu numa estrutura para atração de empresas, como um órgão para promoção de negócios. Isso começou a mudar com o programa Agrego, que está fazendo um completo diagnóstico de cadeias produtivas no Estado e já apresenta resultados, como projetos de lei de incentivo ao e-commerce, indústrias de equipamentos de energia fotovoltaica e de uso de crédito outorgado para industrialização da soja.“Com as perdas de arrecadação de ICMS sobre combustíveis e energia, o governo precisará incentivar mais produção e venda no mercado interno para gerar mais impostos”, alerta Tchequinho. Para isso, segundo ele, medidas lineares para todo setor industrial não resolvem. É preciso olhar para cada segmento como uma unidade de negócios do Estado para atender demandas específicas. Um exemplo são os problemas enfrentados pela cadeia de lácteos. “É o momento de voltar o farol para dentro de casa”, alerta.Para o representante da Adial, também será preciso criar uma estrutura organizada para atração de investimentos. Ele adverte que agências de promoção de investimentos de outros estados estão visitando as indústrias instaladas em Goiás e oferecendo condições mais favoráveis para migração ou expansão de negócios. “Precisamos atrair novas cadeias, como a de celulose, por exemplo, que está expandindo para outros estados. Temos que ir atrás, mostrar nosso potencial e adequar legislações”, ressalta. As adequações precisam ser constantes, identificando demandas através de diálogo com cada setor específico. “Precisamos criar condições para que nossa indústria que produz farelo, óleo e biodiesel fique mais competitiva que a de outros estados”, diz Tchequinho. Ele lembra que só melhores condições de industrialização farão com que a matéria-prima produzida aqui seja adquirida e beneficiada por indústrias do próprio Estado, ao invés de ser exportada. “Só precisamos tornar nosso produto mais competitivo.”EstratégicosPara o vice-presidente da Federação das Indústrias de Goiás (Fieg), André Rocha, Goiás precisa selecionar cadeias produtivas estratégicas, que ainda não estão no Estado e que atraem diversas indústrias de menor porte. Entre os vários exemplos, estão indústrias petroquímicas e de aviação. “É preciso avaliar as tendência de crescimento da economia mundial nos próximos anos e quais indústrias estratégicas Goiás tem condições de abrigar”, explica. Mais indústrias de fertilizantes, por exemplo, ajudariam a reduzir a grande dependência externa.Mas, segundo ele, também é preciso avaliar o que pode ser feito para elevar a competitividade das cadeias produtivas já presentes no Estado. André lembra que Goiás pode, por exemplo, estudar uma política diferenciada de tributação de energia para empresas que consomem muito este insumo para produzir. “É preciso um amplo diálogo com o setor produtivo para dar mais competitividade para os produtos goianos no mercado e reter empresas já instaladas”, alerta.Para ele, é preciso avaliar dentro das cadeias mais importantes, e que hoje têm capacidade ociosa de produção, como a de leite, o que é preciso fazer para incrementar sua produção. “É possível, por exemplo, criar programas de estímulo à irrigação que elevem a produtividade e políticas para estimular a industrialização do milho, ou seja, diferenciais tributários para estimular a industrialização em setores específicos”, explica.Essa melhor competitividade passa, por exemplo, pela redução de custos com frete. “Nosso modal é basicamente o rodoviário hoje. Mas o que parcerias poderiam ser feitas para incentivar o modal ferroviário e reduzir seus custos para as empresas”, sugere o representante da Fieg. Ele lembra que nada impede que indústrias que vieram de seus estados de origem para Goiás migrem para outros estados em busca de melhores condições de competitividade.Um forte indício de perda de investimentos pelo Estado seria o expressivo crescimento da produção de etanol de milho em Mato Grosso, que agora se expande para o Mato Grosso do Sul, apesar de Goiás ser um grande produtor da matéria-prima. “Temos vocações naturais que precisam ser melhor aproveitadas”, adverte. André também fala da possibilidade de criar uma política de mineração para que o Estado tenha indústrias do ramo de siderurgia, por exemplo, deixando de ser apenas extrativista e exportador de minérios.LiquidezO presidente da Comigo, Antônio Chaváglia, concorda que investimento só vem com incentivo e lembra que há mais de 15 anos nenhuma indústria de grande porte investe no Estado pelo aumento da insegurança jurídica e que muitas empresas até já saíram. “Precisamos fazer uma análise do que outros estados estão fazendo nesta linha, como Mato Grosso”, alerta. Este também seria um dos motivos do grande volume de exportação de grãos. “É muito mais fácil exportar do que industrializar, que exige investimentos muito elevados, enquanto a exportação tem liquidez imediata”, diz.Já a produção de óleo e farelo é vendida à prazo no mercado interno. Chaváglia lembra que manter a matéria-prima no mercado interno também exige dinheiro e estrutura para estocagem de grãos. “É preciso capital e o FCO tem um limite que não é compatível com um grande investimento numa indústria de esmagamento, de R$ 2,5 bilhões, que inclui também a armazenagem”, destaca. Enquanto isso, a soja pode ser exportada através de uma simples ligação telefônica. Daí a importância de incentivos para industrialização e armazenagem, de olho no que outros estados estão fazendo, além de resolver gargalos como a falta de energia.Mais demanda por grãos elevará liquidezA Lei Kandir, que desonerou as exportações de produtos primários, foi criada para garantir iguais condições de competitividade para estados exportadores mais distantes dos portos, mas sempre foi alvo de críticas. Por isso, o mestre em Agronegócios e consultor do programa Sebrae em Campo, Alexandre Câmara Bernardes, concorda que a melhor estratégia não é taxar as exportações e reduzir a competitividade do produtor rural, mas estimular a indústria de transformação para que ela tenha condições de investir mais.“O melhor caminho é o incentivo estatal e não a taxação. Isso depende de políticas públicas que devem partir do Estado, como uma desoneração fiscal com incentivos”, ressalta o consultor. Ele lembra que, com a desoneração e isonomia fiscal, o que difere os estados é só o custo logístico. Daí a importância de se investir mais em infraestrutura de transportes para incentivar as cadeias produtivas.Outro ponto importante é o crédito. Para Alexandre, o Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO) tem sido uma importante ferramenta de apoio ao setor rural, mas ainda é preciso aumentar a celeridade dos processos. Outro problema atual é a elevação das taxas, que dependem de decisão do Banco Central, o que requer uma pressão do Estado. “É uma boa ferramenta, mas que precisa de constantes adequações para garantir competitividade e motivar novos investimentos”, alerta.Outro problema é a discrepância entre o grau de tecnologia das propriedades rurais. “Temos produtores altamente tecnificados e outros muito atrasados no mesmo universo amostral de um único município”, adverte. Daí, a importância de uma política de renovação do corpo técnico da Emater Goiás, pois houve um desmantelamento das estruturas de assistência técnica e extensão rural nos últimos 20 anos.O coordenador institucional do Ifag, Leonardo Machado, reforça que uma maior demanda por matérias-primas por parte da indústria resultaria em mais liquidez de mercado e estimularia o aumento da produção agropecuária. O resultado seria a exportação de mais produtos acabados. “Isso só não pode ser feito com taxação sobre o setor rural, mas através de incentivos às cadeias produtivas”, destaca. Para Leonardo, hoje a infraestrutura é o maior gargalo para o setor, o que inclui energia, estradas, conectividade e falta de armazéns, essenciais para elevar a capacidade produtiva e melhorar o escoamento da produção.Leia também:- Sobras de tomate industrializado são foco de pesquisa- Rejeitos minerais viram insumos para novos produtos- Goiás está no terceiro lugar entre os maiores exportadores de carne bovina do País