A EDP assumiu nesta segunda-feira (7) a Celg Transmissão, companhia que foi privatizada pelo governo de Ronaldo Caiado (DEM) e arrematada por R$ 1,977 bilhão em outubro do ano passado. Em cerimônia realizada no Palácio Pedro Ludovico, o contrato de venda foi assinado como um ato simbólico da transferência de comando do Estado para o grupo português, que já mudou o nome da companhia para EDP Goiás.Com discurso marcado por comparações com a venda da Celg Distribuição – hoje Enel Goiás –, o governo estadual anunciou que por correções monetárias o depósito pela privatização chegou a R$ 2,113 bilhões. Valor próximo ao pago em 2017 por todas as ações da distribuidora (R$ 2,187 bilhões), que rendeu ao Estado R$ 1,1 bilhão destinados a obras pelo ex-governador Marconi Perillo (PSDB) no programa Goiás na Frente.Desta vez, o aporte total vai para Goiás Previdência (GoiásPrev) para recomposição do Fundo Previdenciário estadual e deve permitir isentar da contribuição previdenciária aqueles que recebem até R$ 3 mil. Acima deste valor, há alíquotas progressivas. Antes, o limite para pagamento dos 14,25% era o salário mínimo (R$ 1.212).O objetivo é classificado por Caiado como “republicano”. “É algo inédito o governo fazer a venda de um ativo dele e colocar 100% na garantia de pagamento de aposentados e pensionistas. Normalmente, este dinheiro era para fazer programas políticos.” O destino do recurso também é valorizado pelo governador por amortizar déficit previdenciário em momento de renegociação de dívidas. Ao quitar débitos que eram “empurrados com a barriga”, o governador afirma que o Estado passa credibilidade.MultinacionalDe outro lado, o CEO da EDP Brasil, João Marques da Cruz, ressaltou durante o evento que economicamente há ambiente para crescimento acima da média brasileira, assim, estar presente em Goiás é estratégico para a multinacional. “Por isso, concorremos, ganhamos e pagamos preço justo. Todo dia que passa e conhecemos a empresa, mais contente ficamos em ter pago o preço que pagamos”, pontuou sobre ágio de 80,1%.A empresa assumirá 756 quilômetros de redes de transmissão e 14 subestações. De início, o investimento anunciado é de R$ 200 milhões somente para transmissão. A EDP Goiás possui 756 quilômetros de redes de transmissão e 14 subestações. “Mas nós gostaríamos de fazer bastante mais, nomeadamente através de investimento em solar”, pontuou o CEO durante entrevista coletiva para imprensa ao citar projeto de aposta em geração de energia através de usinas fotovoltaicas.Até o fim de 2023, conforme divulgou a EDP, estão previstas a execução de dez obras que envolvem desde a conclusão e reforma de subestações até a modernização de linhas de transmissão e equipamentos, para reforçar a confiabilidade e segurança do sistema elétrico. Para os próximos quatro anos, os investimentos podem chegar a R$ 400 milhões. O grupo toca grandes obras no segmento em outras regiões do País.O executivo explicou que há oportunidade no Estado com o crescimento acima da média nacional em termos de consumo de energia, por isso há investimentos na geração, área que a empresa também atua em outros Estados e está há mais de 20 anos no Brasil. Por outro lado, entre as expectativas, o governo goiano espera auxílio para enfrentar um dos gargalos para atração de empresas, a demanda reprimida por energia.Com a venda da Celg T, a Celg Participações (CelgPar) ficou com a parte de geração da antiga Celg GT – que sofreu a cisão para o leilão dos ativos de transmissão – e também aposta na geração solar. Com o Programa de Eficiência, a ideia é construir 23 usinas em diferentes regiões para economia na conta de luz de órgãos estaduais.Até 30% dos servidores podem ficar no EstadoCom a venda da Celg Transmissão (Celg T), agora chamada de EPD Goiás, quase 30% dos trabalhadores concursados podem migrar para órgãos do governo. Segundo o secretário-geral de Governo, Adriano da Rocha Lima, dos 175 servidores, 51 devem ser contemplados com essa possibilidade. “Fizemos um processo de identificação do perfil de cada um. Aqueles que precisavam continuar na EPD lá continuarão. Aqueles que tinham perfis que pudessem ser absorvidos por diversos órgãos do Estado assim foi feito e a partir deste mês começam a trabalhar no Estado. Porém, devido às limitações impostas pelo Regime de Recuperação Fiscal (RRF), a questão foi levada para consulta da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN). Pois é vedada a criação de cargos e funções que aumentem os gastos, mas a cessão não está prevista nas regras".De acordo com Adriano, houve compensação com alguns profissionais que viriam como temporários, por exemplo, de forma que se consiga manter o equilíbrio das contas mesmo com essa manobra. Apesar disso, o diretor presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas no Estado de Goiás (Stiueg), João Maria de Oliveira, avalia que parcela maior do que os 29,14% poderia ser absorvida. “Há muita informação restrita que é ruim para o processo de agonia que esses profissionais se encontram”, pontua.Já a EDP promete integração da equipe com direito a entrega de camiseta para criar um sentimento de pertencimento. Pelo edital, a multinacional tem de garantir pelo menos um ano de estabilidade e depois deve promover Plano de Demissão Voluntária (PDV).