No sexto dia seguido de desvalorização, o dólar encerrou esta quarta-feira (23) com a menor cotação desde o início da pandemia de Covid-19. A moeda americana cedeu 1,44%, a R$ 4,8430. Em 13 de março de 2020, dois dias após a OMS (Organização Mundial da Saúde) ter declarado a disseminação global do novo coronavírus, o dólar terminou o pregão cotado a R$ 4,8280.A desvalorização do dólar se acentua à medida que investidores continuam a enxergar ambiente doméstico atraente para investimentos.Por outro lado, aumentou a procura por pessoas que planejam viajar. Em Goiânia, o dólar turismo se esgotou em casas de câmbio devido ao crescimento expressivo da demanda.Na Glamour e Cambio Tur, as vendas começaram nesta quarta-feira (23) a R$ 5,18, com o dólar chegando a até R$ 5,10, antes de faltar, por volta das 13 horas.Na Day Câmbio, no Buena Vista Shopping, a queda acentuada desde segunda-feira fez com que faltasse dólar turismo para venda ainda na terça-feira. “Não temos previsão de quando vamos ter dólar. Muita gente está aproveitando a baixa da moeda para comprar, por isso se esgotou”, comenta a operadora Gabriela Borges Gonçalves, informando que o preço de venda era de R$ 5,15.Bolsa sobeO Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira, subiu 0,16%, a 117.457 pontos, renovando o maior nível de fechamento desde 6 de setembro.Ações excessivamente desvalorizadas na Bolsa, a possibilidade de ganhos no setor de commodities devido a ameaças de escassez do petróleo provocadas pela guerra na Ucrânia, além de juros domésticos altos, criam uma combinação que favorece a entrada de dólares no país. O resultado é a queda da taxa de câmbio.Neste ano, o real apresenta a maior valorização frente à divisa americana, quando o comparado a outras 23 moedas de países emergentes.O retorno à vista da divisa brasileira está em 15,2% no acumulado de 2022, segundo dados compilados pela Bloomberg.Pedro Galdi, analista da Mirae Asset Corretora, diz que fluxo de recursos de investidores estrangeiros para a Bolsa é um dos principais motivos para a queda do dólar. “O Brasil continua atrativo para eles”, afirma.Entre janeiro e a última segunda-feira (22), o saldo da movimentação de valores realizada por investidores estrangeiros na Bolsa do Brasil estava em R$ 84 bilhões. A quantia representa 82% do saldo de R$ 102,3 bilhões de todo o ano de 2021, que registrou o recorde da série histórica.O Brasil possui hoje um dos diferenciais de juros mais vantajosos do mundo. Investidores fazem essa classificação ao comparar os juros reais oferecidos por cada país. Essa relação diz respeito à diferença entre a taxa de referência para o crédito e a expectativa de inflação, estimada em 6,59% para este ano, segundo consulta do Banco Central.Marco Mecchi, gestor de macro e renda fixa da AZ Quest, afirma que são os juros reais o principal atrativo do Brasil para os dólares de estrangeiros.“Não é só a taxa de juros nominal, que são esses cerca de 12,75% que o país irá buscar, mas principalmente por conta desse diferencial de juros reais, considerando uma inflação em torno de 7%”, comentou.“Vamos ter juros reais em torno de 6%, enquanto os Estados Unidos vão continuar com juros negativos, mesmo subindo a taxa deles”, disse.