O embargo da China às exportações brasileiras de carne e a crise hídrica impactaram o desempenho da balança comercial de Goiás no último mês de outubro. As empresas goianas exportaram US$ 569,3 milhões em produtos no mês passado, uma queda de 25% na comparação com setembro. Com o crescimento de 45% nas importações, que somaram US$ 659,9 no período, o Estado fechou o mês com um saldo comercial negativo de US$ 90,6 milhões. De acordo com o Sindicato das Indústrias de Carne e Derivados no Estado (Sindicarne-GO), somente as exportações de carne bovina tiveram uma queda de 41% em outubro. Os motivos já não seriam mais apenas sanitários, mas diplomáticos.O saldo da balança comercial goiana em outubro foi 130% menor que o do mês anterior e ficou 136% abaixo do desempenho registrado em outubro de 2020, segundo uma análise dos resultados, divulgada ontem pelo Centro Internacional de Negócios (CIN) da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg). Além da queda nas exportações de carne bovina para a China, outro impacto negativo veio da crise hídrica, que teve desdobramentos no fornecimento de energia.A coordenadora do CIN, Johanna Guevara, explica que na análise do ranking de produtos exportados, percebe-se uma acentuada queda na negociação de carnes desossadas. Principal destino das exportações goianas, a China normalmente comprava entre 40% e 50% de todos os produtos vendidos por Goiás. Porém, com o embargo anunciado no dia 4 de setembro, por conta de problemas sanitários, e que já dura dois meses, esta participação caiu para 32% em setembro e 12,2% em outubro.Para o presidente do Sindicarne-GO, Leandro Stival, os motivos para o embargo à carne brasileira já ultrapassaram a esfera sanitária e chegaram ao nível diplomático. Ele lembra que o País vive um período delicado sob o ponto de vista de suas relações internacionais, diplomáticas e políticas. “A questão sanitária já não é mais preponderante, tanto que outros países já retornaram às compras, enquanto a China só fica nos pedindo documentos e mais documentos”, conta.Leandro lembra que o problema começou depois de alguns acontecimentos em que o Brasil se posicionou de maneira errada, com declarações mal colocadas, inclusive com farpas. Ele acredita que os chineses foram guardando tudo isso e agora estão revidando no jogo deles. “A China é, de longe, o maior cliente das commodities brasileiras, respondendo por 60% de nossas exportações. Como você não tem uma boa relação com seu maior cliente? Isso é resultado de uma onda de ineficiência diplomática”, avalia o presidente do Sindicarne.Outro problema foi o fato do País ter registrado exportações recordes em setembro, mesmo após o embargo. O problema é que os exportadores continuaram enviando produtos para a China, que acabaram rejeitados nos portos chineses, gerando um problema ainda maior, com a venda do produto a preços menores para outros países, custos de estadia de contêineres e novos fretes, já que a carga não pode mais retornar por ter um prazo de validade.“Vai sobrar uma conta grande para indústrias e produtores, com prejuízo nos preços”, alerta Leandro. Segundo ele, o prejuízo estimado já ultrapassa os US$ 1 bilhão para o Brasil. “O pior é o silêncio ensurdecedor deles, sem uma perspectiva de retorno das compras”, destaca. Outro problema é que os chineses já estariam habilitando outras plantas pelo mundo para a aquisição de carne, para não ficaram mais tão dependentes do Brasil. “É preciso ter consciência de que não existe outra China no mundo para substituir este cliente”, adverte.ImportaçõesJá no ranking de produtos importados, disparou o insumo energia elétrica, que respondeu por quase 30% do total de importações de Goiás. Além disso, também houve um recuo expressivo das exportações de soja, principalmente devido à antecipação da importação do produto pela China em meses anteriores.Para o presidente da Fieg, Sandro Mabel, os números confirmam a importância de diversificar os parceiros comerciais goianos e incentivar a industrialização do que é produzido em Goiás. “Temos batido nessa tecla e alertado sobre o risco de concentrar a metade das exportações goianas em um único parceiro comercial, no caso a China”, reafirmou.-Imagem (1.2351245)