A inflação oficial do país surpreendeu mais uma vez analistas do mercado financeiro, com uma alta acima da esperada em outubro. No mês passado, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) subiu 1,25%, maior variação para o período desde 2002.O resultado foi divulgado nesta quarta-feira (10) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Analistas de mercado consultados pela agência Bloomberg projetavam variação de 1,06%.A gasolina foi a principal responsável por puxar para cima a inflação de outubro.O combustível teve alta de 3,10% e, assim, respondeu pelo maior impacto individual sobre o índice do mês: 0,19 ponto percentual.A gasolina vem sendo pressionada pela recuperação do petróleo no mercado internacional e pelo dólar alto. Os dois fatores são levados em consideração pela Petrobras na hora de definir os preços dos combustíveis em suas refinarias.Segundo o IBGE, a gasolina acumula disparada de 38,29% no ano e de 42,72% nos últimos 12 meses.O segundo maior impacto individual no IPCA de outubro veio das passagens aéreas: 0,15 ponto percentual. O item subiu 33,86% no mês passado.Conforme o instituto, a alta das passagens reflete uma combinação de fatores. Tradicionalmente, os preços costumam subir em outubro, com a maior procura por viagens.Neste ano, o avanço do querosene de aviação causa uma pressão adicional para os custos das companhias aéreas, que tentam retomar resultados positivos após o baque da Covid-19.Para completar a receita de aumentos, há ainda uma demanda mais aquecida por passagens após as restrições causadas pela pandemia.O terceiro impacto individual no índice de outubro foi do tomate (0,07 ponto percentual). Os preços subiram 26,01%.Condições climáticas adversas abalaram a produção de alimentos como o tomate nos últimos meses.Além da seca, o Brasil atravessou ondas de frio intenso em julho, com o registro de geadas. Perdas em plantações e a redução na oferta pressionam os preços para cima.O quarto maior impacto no IPCA de outubro veio da energia elétrica: 0,06 ponto percentual. A luz subiu 1,16% no mês.O aumento, apesar de robusto, foi menor do que o verificado em setembro (6,47%).Neste ano, a energia ficou mais cara devido à crise hídrica. A escassez de chuva forçou o acionamento de usinas térmicas, elevando os custos da geração de eletricidade.O reflexo é a luz mais cara nos lares brasileiros."Em outubro, foi mantida a bandeira de escassez hídrica, que acrescenta R$ 14,20 na conta de luz a cada 100 kWh consumidos. Houve ainda reajustes tarifários em regiões com peso significativo no IPCA, como Goiânia, São Paulo e em Brasília", apontou Pedro Kislanov, gerente da pesquisa do IBGE.Com o resultado de outubro, a inflação acumulada pelo IPCA permanece acima de dois dígitos, com alta de 10,67% em 12 meses. É o maior acumulado desde janeiro de 2016 (10,71%).Kislanov mencionou que os custos maiores de empresas com itens como combustíveis e energia elétrica causam uma pressão ao longo da cadeia produtiva.Contudo, em 12 meses, os preços administrados, como gasolina e luz, ainda apresentam uma elevação mais forte do que os serviços livres, ponderou o analista do IBGE.No acumulado até outubro, a alta dos preços monitorados foi de 17,01%. Enquanto isso, a inflação de serviços foi de 4,92%.Em outubro, o índice de difusão do IPCA subiu de 65% para 67%. O indicador reflete o espalhamento da alta de preços entre os produtos e serviços pesquisados pelo IBGE.O índice de difusão esteve pela última vez abaixo de 50% em maio de 2020 (43%). À época, o contexto era diferente, com os preços do petróleo em patamar mais baixo, lembrou Kislanov.