A redução na oferta mundial de matérias-primas para a fabricação de fertilizantes e defensivos agrícolas já assombra a agricultura goiana. A curto prazo, o problema já ameaça o desempenho da safrinha de milho, a ser plantada no início do próximo ano.A escassez dos insumos fez os preços dispararem no mercado, o que elevou significativamente os custos de produção nas lavouras. Sem a quantidade certa, a produtividade é reduzida e a produção fica menor, gerando um efeito dominó que pode resultar em alimentos mais caros para o consumidor.O Brasil importa 76% dos ingredientes ativos e dos produtos formulados. Destes, 32% são da China, onde uma crise energética está reduzindo a produção industrial e comprometendo o abastecimento mundial. Um exemplo é a menor oferta do fósforo amarelo, matéria-prima do glifosato. Outro problema foi a disparada no custo do frete, com a escassez de contêineres e navios.Produtores brasileiros já começam a ter dificuldades para encontrar fertilizantes e defensivos no mercado. “Nesta safra que acaba de ser plantada, já tivemos casos esporádicos de produtores que receberam menos do que haviam comprado”, conta o coordenador institucional do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag), Leonardo Machado.Mas, segundo ele, a maior preocupação é com a safrinha de milho, que começa a ser plantada em fevereiro. Apesar do plantio da safra 2021-2022 ainda estar bem distante, ela também pode ser afetada se os problemas não forem resolvidos. “Os produtores fazem a comercialização antecipada, aproveitando os bons preços, e já começam a sentir uma menor disponibilidade dos insumos no mercado”, informa Leonardo.Existe a perspectiva de que as empresas do ramo façam vendas mais fracionadas por conta da escassez, mas os preços já foram inflacionados. Um levantamento do Ifag revelou reajustes de 160% nos insumos entre janeiro e setembro deste ano, como foi o caso do cloreto de potássio. “O litro do glifosato, que custava entre R$ 25 e R$ 30 no ano passado, hoje já sai por R$ 80”, destaca o coordenador do instituto. A preocupação atual, segundo ele, é que os preços dos produtos não consigam acompanhar os custos, prejudicando a rentabilidade do produtor.Com menos defensivos e fertilizantes disponíveis no mercado, os países adotaram uma prática protecionista, priorizando o fornecimento para seus próprios mercados, antes de enviá-los para compradores como o Brasil. Para o presidente da Comissão de Grãos da Federação da Agricultura do Estado (Faeg) e consultor da Terra Agronegócios, Enio Fernandes, a cadeia de suprimentos está desorganizada, principalmente após a crise energética na China. Ele ainda não vê uma falta generalizada de insumos, mas sim preços bem mais altos no mercado. “Quem tem, já está valorizando muito seu produto”, destaca. Por isso, o produtor reconhece que há uma grande preocupação com a safrinha de milho, muito dependente do fertilizante nitrogenado, composto por ureia e sulfato de amônia, oriundos do petróleo, que está em trajetória de alta.AntecipaçãoEnio prevê que os agricultores também usem menos adubação por causa dos preços elevados. Para ele, ainda é muito precipitado dizer que vai faltar fertilizante para o plantio da safra 2021-2022. “Geralmente, se compra antecipado para aproveitar os preços, que agora estão os mais altos da história. Então, não há motivo para antecipar”, diz. Além disso, produtores que compraram no início deste ano para usar em setembro e outubro tiveram pedidos cancelados. “Sem garantia de recebimento, não compensa antecipar a compra. Já quem ainda não comprou para a safrinha, vai pagar bem mais caro que antes”, ressalta. O Brasil deve ficar de olho no desempenho da safra nos países do hemisfério norte para ver como o mercado de insumos irá se comportar. ‘Pode significar produtividade menor’, diz especialistaOs fertilizantes são os grandes construtores da produtividade nas lavouras, pois fornecem os nutrientes necessário para o bom desenvolvimento das plantas. Já os defensivos agrícolas, usados no controle de pragas e doenças, como o próprio nome já diz, são os protetores das lavouras. “A falta deles significa produtividade menor”, ressalta Leonardo Machado, do Ifag.O Brasil importa 92% do potássio usado na agricultura e 51% do fósforo vêm de fora, lembra o professor adjunto do Setor de Solos da Escola de Agronomia da UFG Rilner Alves Flores. Segundo ele, já há informações de que produtores estariam iniciando a safra com menos adubo que a quantidade necessária para o plantio da safra. Ele conta que já há problemas com o fornecimento de glifosato. O professor concorda que o maior impacto do problema deve ser sentido para o plantio da safrinha. “Uma menor quantidade de fertilizantes que o necessário reduz a produtividade das lavouras e o volume total de grãos que será colhido ao final.”O atraso na aplicação de insumos também afeta o rendimento. Com uma oferta menor de produtos no mercado, os preços tendem a subir por conta da lei da oferta e procura. “Uma hora ou outra, esta conta vai chegar para o consumidor final”, diz. Por isso, ele acredita que os preços dos alimentos tendem a subir a partir do segundo trimestre de 2022. Vale lembrar que o milho mais caro significa ração mais cara para a pecuária, o que reflete nos preços das carnes bovina, suína e de aves. Mas a China, grande compradora de produtos agropecuários brasileiros, também deve ser prejudicada com a baixa oferta de insumos para o Brasil.-Imagem (1.2354595)