O início do ano é época tradicional de planejamento financeiro para quem quer traçar planos para o futuro. Para além de organizar as contas, os investimentos passam a ser mais observados, ainda mais no cenário que reserva incertezas, tanto pelas eleições como pela persistência de fatores como inflação, taxa de juros, risco fiscal e a pandemia de Covid-19. Especialistas ouvidos pelo POPULAR avaliam que será preciso ter mais conhecimento para chegar a ter bons retornos.Diversificação, inclusive com parte das apostas em ativos internacionais, é uma forte indicação para o ano. Analista de soluções financeiras da Ativa Investimentos, Rodrigo Beresca diz que devido ao cenário macro de alta da inflação por mais alguns meses e continuidade da elevação das taxas de juros básica, títulos atrelados a índices flutuantes como CDI, IPCA e Selic passam a ser investimentos interessantes para o momento.“Esses investimentos podem ser títulos do governo indexados à Selic e ao IPCA, papéis de renda fixa como CDB, LCI, LCA, CRA, CRI, dentre outros, e debêntures. Fundos de investimento de renda fixa e crédito privado também são excelentes opções, pois neles os investidores terão a gestão de equipe profissional especializada em investimentos para gestão da posição investida. Também é interessante o investidor ter uma parte da sua carteira em ativos internacionais para diversificação do risco País e cambial.”Para todos os perfis de investidores, Rodrigo Beresca indica ativos descorrelacionados com os ativos locais, como a bolsa, para redução de risco e volatilidade. Entre eles, indica commodities, moeda, investimento no exterior, cripto e imóveis.Observar alternativas para além do Brasil é também a defesa do economista e coordenador de pós-graduação em Finanças e Investimentos da UniAraguaia, Heverton Eustáquio.“Temos muitos problemas internos e ao não conhecer e observar essas alternativas muitos perdem oportunidades lá fora, onde há cenário mais previsível”, pontua. Ele acredita que investimentos em criptoativos e até mesmo no metaverso – tecnologia que promete “dominar o mundo” nos próximos anos – estão mais acessíveis e devem ganhar destaque em 2022. “São os digitais que vão ampliar a presença nos portfólios. Há grande espaço para isso e a cada ano se ganha mais confiança.”Essa maior atratividade ele avalia que está na resiliência e na própria aposta de grandes investidores. “Primeiro, é preciso observar os objetivos para o seu dinheiro. Dito isso, os investimentos estão hoje mais acessíveis tanto no País como no exterior e isso inclui as novas opções.” Ainda assim, lembra que o bom e velho ouro em momento de volatilidade se mantém no radar de quem quer se proteger.“É refúgio quando as coisas estão incertas para reserva de valor mais segura. Muitos falam na expectativa pela substituição por criptomoedas, mas os modelos estatísticos mostram que isso não é plausível. Para ser alternativa ao ouro ainda precisa provar mais.” Enquanto isso, ainda voltado aos mais conservadores, defende que as moedas estrangeiras se mostram como interessantes ainda que o dólar esteja em patamar elevado.“Nada impede que o câmbio suba e, independente de questões internas, podem surgir tensões geopolíticas e, por isso, é sempre importante ter um pouco da carteira, mesmo os mais conservados, em opções diferentes”, afirma o professor.Sócio da V Corp Capital, Marcelo Estrela acrescenta que é esperada visão de longo prazo e para iniciar o ano é preciso que o investidor saiba por quanto tempo quer guardar e fazer render.O especialista pontua que as eleições presidenciais têm características para chacoalhar o mercado, mas as pesquisas eleitorais não trazem novatos e sim pessoas conhecidas pelo mercado, o que pode tornar 2022 diferente. “Há tendência de supervalorizar nossos problemas, mas pela primeira vez temos um cenário que não traz surpresa para quem tem visão a longo prazo. Em análise micro, os resultados das empresas na bolsa nunca foram tão bons”, ressalta ao defender que é preciso olhar os objetivos e seguir de acordo com isso. “Como no futebol, você considera 2022 como cinco minutos de jogo ou como jogo de dois tempos de 45 minutos para tudo acontecer ?”Investidor deve observar perfil de risco e se planejarCom confiança na renda variável, em dezembro de 2021, a B3 registrou investimento de R$ 6,61 bilhões somente de investidores pessoa física de Goiás. Um valor que mostra o interesse crescente no planejamento financeiro. Para o analista de soluções financeiras da Ativa Investimentos Rodrigo Beresca, as pessoas precisam conhecer o perfil de risco e o atual estágio do horizonte de investimentos. “Quando se é mais jovem, o investidor se encontra nas fases de fundação e acumulação de capital e pode se arriscar em investimentos mais arrojados, visando altos retornos no longo prazo ou alocações táticas para movimentos específicos no curto prazo. Quando ele tem uma idade mais avançada, estará na fase de manutenção e distribuição de renda, neste caso, investimentos de perfis mais moderados ou conservadores são mais apropriados”, indica ao citar que entre os cuidados ao escolher assessores é preciso checar se são devidamente credenciados aos órgãos reguladores para ter de fato auxílio profissional. Sócio da V Corp Capital, Marcelo Estrela explica que a diversificação se torna importante para jogar com todas as possibilidades de cenário, especialmente no longo prazo. “Como um time de futebol, não se pode ter só atacante, por mais que uma pessoa seja jovem. Até para o arrojado há indicação de investimentos conservadores. A recomendação é investigar o momento de vida da pessoa, o que experimentou de investimentos, o tempo disponível.”Para ele, não há melhor investimento, mas uma composição para cada pessoa e, por isso, não existe uma receita pronta. “Por exemplo, aplicar em ouro. Por qual motivo? Porque acredita que no longo prazo tem valorização e vai estudar sobre isso e ver as possibilidades. É preciso diferenciar especulação de investimento bem feito.”Economista e professor da UniAraguaia, Heverton Eustáquio diz que conhecer as instituições e regulações também se torna neste cenário um ponto importante para evitar até golpes. “Os brasileiros têm procurado se educar financeiramente e isso contribui, mas há a questão de golpes envolvendo outras alternativas de investimento. Não tem como prometer rendimento, nem título público consegue isso, porque varia.”Em ano de oscilações, como promete 2022, o alerta é para atenção às ofertas. Por outro lado, lembra que há oportunidades. “Para quem gosta de emoção, investir em ações é prato cheio”, exemplifica. -Imagem (1.2387247)