Medicamentos muito procurados para dor e febre, como Novalgina e antigripais, além de antibióticos em suspensão, que costumam ser prescritos a crianças, estão em falta nas farmácias da Região Metropolitana de Goiânia. O problema começou ainda em janeiro, quando houve um surto de gripe. Além desses produtos, faltam também outros para controle de hipertensão e diabetes, e remédios para reposição hormonal após a menopausa.“Precisei de remédios para meu filho, de 6 anos, e foi difícil encontrar, não tinha Novalgina, nem Desalex, um antialérgico, além de antibiótico líquido”, atesta a artesã Monick Sthefany Farias Rosa, que mora em Trindade. Outras mães com quem Monick se encontra na escola onde o filho estuda também têm reclamado. “Uma delas disse que quando chegou o remédio na farmácia, ela fez até estoque”, conta.Presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Estado de Goiás (Sincofarma), João Aguiar Neto confirma que estão em falta medicamentos cujo princípio ativo é a dipirona, como Novalgina. Cita também remédios para hipertensão, controle de diabete, antibióticos e para problemas respiratórios, informando os princípios ativos de cada um: maleato de enalapril, cloridrato de metiformina, amoxicilina mais clavulanato e, nas síndromes respiratórias, salbutamol, allegra pediátrico. “Os principais são esses.”Oferta e demandaO presidente do Sincofarma atribui a falta desses remédios a um desequilíbrio entre oferta e demanda. “Houve assustador aumento de consumo, a indústria não estava preparada para produzir tanto”, analisa, mencionando problema também na importação de insumos. “Mas a indústria não se manifesta”, afirma.Segundo João, outros medicamentos já tiveram a oferta regularizada, caso do soro para preparação caseira, que sumiu das farmácias devido ao surto de dengue neste ano. “Estamos voltando à normalidade, mas o mercado ainda não está abastecido totalmente”, situa, observando que o problema vem desde o começo do ano. “O pior momento foi em final de fevereiro e início de março.”Além disso, casos de síndrome respiratória aguda grave (Srag) em adultos subiram pela primeira vez em quatro semanas, segundo informou o boletim Infogripe de 5 de maio. Os dados analisados pelo Observatório Covid-19 da Fiocruz são baseados em registros até o dia 30 de abril. Goiás e também Goiânia apresentaram tendência de crescimento apenas no curto prazo (três semanas).Leia também:- Veja a importância dos bons hábitos na combate à hipertensão- Falta de médicos compromete atendimento em domicílio da Rede Municipal de Saúde em GoiâniaDono da Drograria Estrela Dalva, no Setor Pedro Ludovico, em Goiânia, Jelvane Feitoza atesta que nos últimos dias se acentuou a falta de remédios como antibióticos e dipirona em suspensão, que vinha desde janeiro. Segundo ele, xaropes, pastilhas e spray para garganta, analgésicos como paracetamol e ibuprofeno começam a ter a entrega normalizada pelas distribuidoras.Jelvane também acusa falta do Natifa Pro, de reposição hormonal, cujo Preço Máximo ao Consumidor (PMC), determinado pelo governo federal, é de R$ 85,66. Antes vendido por R$ 62,50, agora o preço está em R$ 74, e quando o produto chega é em pequena quantidade e logo acaba. “O desconto que era de quase 20% caiu para 13% diante da grande procura”, explica ele, acrescentando que a informação na distribuidora é de que a oferta do produto aumente ainda neste mês.No caso de remédios de reposição hormonal, há falta de matéria-prima ativa decorrente de problemas na logística internacional, ainda em consequência da pandemia e agravados pela guerra na Ucrânia, diz Marçal Henrique Soares, presidente executivo do Sindicato das Indústrias Farmacêuticas do Estado de Goiás (Sindifargo).Quanto aos demais medicamentos, ele elenca os fatores que provocaram a escassez no varejo. “Primeiro, tivemos um fator que nunca tinha acontecido, uma onda de gripe forte em janeiro, quando os casos em Goiás costumam ser em maior número em maio. Então, a procura muito grande de antibióticos de vias respiratórias e antigripais logo no início do ano foi uma surpresa em todo o País.”“A todo vapor”Mas Marçal afirma que a indústria segue “trabalhando a todo vapor para atender o mercado, 24 horas por dia, sete dias da semana”, o que deve contribuir para regularizar em breve a oferta diante do “aumento gigantesco de procura por medicamentos”. Sobre essa demanda acentuada, ele também aponta como causa um crescimento de “mais de 100% nos casos de dengue” como exemplo.De fato, em apenas quatro meses, o Brasil registrou quase a mesma quantidade de casos de dengue de todo o ano passado. No Centro-Oeste, ocorreu um pico na taxa de incidência da doença por 100 mil habitantes neste ano. Enquanto no País todo ela ficou em 254 casos a cada 100 mil habitantes, na região esse número subiu para 920.“A indústria não está com problema, admitimos o que era possível caber na fábrica”, enfatiza. “O setor conseguiu se abastecer com insumos e embalagens”, garante. Marçal reclama, porém, que o tabelamento pelo governo “está impossível de ser praticado”. Cita a dipirona injetável, a 70 centavos a ampola. “Não dá para fabricar nesse preço e pode forçar a parar a produção”, alerta.