As empresas goianas precisarão contratar cerca de 40 mil novos profissionais da área de Tecnologia da Informação (TI) até 2024. Em todo País, a demanda está estimada em 500 mil postos de trabalho. Mas esta ampla oferta de oportunidades tem esbarrado na falta de mão de obra qualificada e as vagas chegam a ficar disponíveis por muitos meses. Além da dificuldade para a contratação, outro desafio para as empresas do setor tem sido a retenção desta mão de obra, que está cada vez mais disputada no mercado.Este foi um dos principais assuntos discutidos no 2º Encontro de Canais de Alta Performance de Tecnologia (CAP-TI), um dos maiores eventos do setor no País, que reuniu cerca de 200 profissionais, entre empresários e técnicos da área, nesta terça (12) e quarta-feira (13), na sede da Associação Comercial e Industrial do Estado de Goiás (Acieg). O presidente da CAP-TI, Elton Almeida, lembra que o encontro discutiu as tendências em novas tecnologias para os próximos anos, compartilhando experiências.Segundo ele, Goiás é um estado central, que funciona como um hub e tem se destacado por sua economia crescente, o que tem sido acompanhado pelo desenvolvimento tecnológico. “A ideia foi usar o ambiente para alinhar conceitos e desenvolver estratégias de crescimento”, destaca. Mas Elton confirma que a falta de mão de obra tem sido um grande gargalo. Ele ressalta que as equipes de recursos humanos estão tentando definir um forma de acelerar o treinamento e a capacitação de mão de obra, inclusive utilizando o ecossistema das instituições de ensino superior. “Isso tem sido feito através da interlocução com estas instituições, para que elas alinhem seus currículos com as necessidades do mercado”, explica. O presidente da CAP-TI afirma que esta demanda por 500 mil profissionais no País ainda pode crescer.O presidente da Acieg, Rubens Fileti, lembra que, com a pandemia, houve uma aceleração de 5 a 10 anos na transformação digital dos negócios. Neste novo cenário, oportunidades e problemas cresceram de forma exponencial, como a falta de mão de obra, a demora na chegada da infraestrutura 5G e a necessidade de mais segurança tecnológica.Leia também:- Deputados mantêm estado de emergência na PEC que permite furo no teto de gastos- Goiás cria mais de 14 mil vagas de emprego no mês de maio- Valorização de imóveis novos chegou a 14% em 2022Uma pesquisa feita no fim de 2021 mostrou uma estimativa é de que o Produto Interno Bruto (PIB) do segmento de TI cresça 24,5% em 2022 e 2023. Mas os números foram revisados, devido a problemas como a inflação e a guerra na Ucrânia, e caíram para 22%. “Também há uma projeção de perda de margens nas empresas, acompanhada pela falta de mão de obra qualificada”, destaca Rubens. Há aumento médio anual de 10% nos salários na área, por demandar conhecimentos mais específicos.MigraçãoCada vez mais disputados no mercado, profissionais da área tem migrado de uma empresa para outra, atraídos por quem paga mais, por serem muito assediados pela concorrência. E esta constante mudança têm sido facilitada pelas características deste trabalho. Hoje, um profissional de TI não precisa trabalhar apenas em empresas localizadas em sua cidade de origem. “Esta é uma área que permite o trabalho à distância e a pessoa pode trabalhar para empresas de vários países, que já estão recrutando muita gente no Brasil”, alerta Elton.A expansão do trabalho remoto potencializou isso. Dono de três pequenas empresas de TI, o empresário Fábio Christino conta que pagava R$ 9 mil de salário para um profissional e o perdeu para uma empresa europeia que ofereceu 8 mil euros para ele, e para o trabalho remoto. Uma de suas empresas, da área de DevOps, que exige um conhecimento mais técnico, tem quatro vagas abertas hoje. “Não acho gente porque estou competindo com grandes grupos nacionais e até com o mercado externo”, justifica.Outra empresa de Fábio, que que trabalha com infraestrutura e atendimento a usuários, administrando ambientes de tecnologia, também está com seis vagas abertas, que vão de atendimento ao usuário a segurança da informação. O empresário lembra que tenta terceirizar a contratação com empresas de RH, divulga as vagas em redes sociais, busca indicações e ainda faz anúncios. Mas nada tem sido suficiente para preencher todas as vagas. “Já estamos recrutando profissionais com potencial em outras áreas para formá-los, até quem ainda não tem uma graduação. É uma corrida em busca do ouro”, diz.A dificuldade é tanto para contratar quanto para reter os talentos. “Quando você encontra um perfil ideal, logo pode perdê-lo para uma outra grande empresa do setor, dentro ou fora do Brasil.”Solução está na educação e na qualificação na própria empresaDiante da dificuldade para contratar pessoal qualificado, empresas resolveram investir na qualificação da mão de obra. É o caso da Consciente Construtora, que contratou estudantes da área de TI, sem experiência, para serem aprendizes. “A demanda é grande e faltam profissionais. No ano passado, tivemos uma vaga para analista de TI, com qualificação na área de desenvolvimento, que ficou seis meses aberta. Por isso mudamos a estratégia”, conta o coordenador administrativo da empresa, Ivanilson Ribeiro. Segundo ele, a ideia é formar o profissional de amanhã, ajudando o mercado também. O estudante CristhyanYury de Sousa Pereira foi contratado ainda no terceiro período do curso de Ciência da Computação. Para ele, a oportunidade ajudará a definir sua futura área de atuação. “Estou aprendendo muito aqui. Esta é uma área sem limite para o desenvolvimento profissional.”Para Ana Minuto, CEO da Minuto Consultoria Empresarial & Carreira, esta formação dentro das empresas é o melhor caminho. Ela lembra que, entre as causas para esta carência de mão de obra para TI, está a falta de interesse das mulheres pela área, ainda basicamente masculina. “As mulheres não são programadas para seguir a área de exatas e se distanciam dela ao longo da vida. Quando nascem, ganham um fogão e bonecas. Já mostram onde deve ser seu lugar”, alerta. Além disso, segundo Ana, o Brasil é um País patriarcal, programado para ter mão de obra apenas operacional, e não pensante, justamente por não ter foco na educação. “Mesmo com o alto nível da tecnologia no mundo, o Brasil ainda discute formas de conseguir profissionais capacitados para a área.Com esta escassez, programadores já estão ganhando salários de R$ 40 mil”, adverte. A CEO lembra que enquanto a demanda é estimada em 500 mil profissionais até 2024, apenas 42 mil profissionais se formam por ano, basicamente homens de classe média, com uma visão mais específica. Por isso, outro problema é a falta de diversidade nesta área.Segundo levantamento do Google, 29% das empresas consideram a área de TI a menos diversa. “O primeiro caminho é a educação, as mulheres também precisam se interessar mais pela área e as empresas têm que desenvolver as pessoas, criando projetos internos para desenvolvimento de talentos”, alerta Ana. Ela também lembra que estes profissionais têm sido muito atraídos pelo sistema híbrido de trabalho e, por isso, as empresas precisam se livrar do pensamento patriarcal de que é preciso ter o funcionário por perto para poder controlá-lo.-Imagem (Image_1.2490413)