Goiânia teve a maior média no índice de reajuste do aluguel no primeiro semestre de 2022, segundo pesquisa feita em 25 cidades, com base em anúncios na internet, pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). A capital goiana registrou 19,55%, seguida por Florianópolis, com 18,6%, e Salvador, com 15,26%. Fortaleza, Curitiba e Belo Horizonte tiveram média de pouco mais de 13%.No Brasil, a média do índice do reajuste do aluguel ficou em 9,49%, de acordo com o levantamento da Fipe, ou seja, bem acima do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), considerado a inflação oficial do país, de 5,49% no mesmo período.A explicação para esse aumento substancial, segundo o economista do DataZap, Pedro Tenório, vem da resposta positiva do mercado de trabalho depois do avanço da vacinação contra a Covid-19 no país. Esse cenário, juntamente com o aumento IPCA, permite aos proprietários acompanhar a alta progressiva do valor dos aluguéis.Além disso, muitos brasileiros deixaram de comprar a casa própria em razão do salto nos juros. A taxa básica (Selic) passou de 2%, em meados de 2021, para 13,25%. A solução então foi refazer as contas e voltar ao aluguel.No caso de Goiânia, que lidera a média no índice de reajuste do aluguel nos seis primeiros meses do ano, o vice-presidente do Sindicato dos Condomínios e Imobiliárias de Goiás (Secovi), Benjamin Ragonezi, aponta “falta de produto” diante de uma demanda crescente.“Vemos hoje grande procura de imóvel para alugar em Goiânia”, diz Benjamin, dono da Castelo Empreendimentos Imobiliários. Para ele, o principal motivo é a volta às aulas presenciais, principalmente nas universidades, o que faz com que estudantes e até mesmo famílias venham do interior para morar na capital, num movimento inverso ao ocorrido nos dois primeiros anos da pandemia (2020 e 2021).Também mudanças no comportamento das pessoas ao locar e mesmo comprar imóveis, decorrentes do período de maior isolamento para prevenir contágio pelo coronavírus, são apontadas pelo empresário como causas do preço elevado do aluguel a partir de janeiro deste ano.“Infelizmente o mercado goiano não estava preparado para esse cenário pós-pandemia”, analisa, apontando que muitas pessoas passaram a buscar casas com maior espaço e apartamentos em condomínios com opções de lazer e áreas de convívio.“Apartamento convencional não teve reajuste tão acentuado”, atesta, explicando tratar-se de “uma visão diante dos negócios no dia a dia”. Em contrapartida, cita que imóveis de médio padrão a luxuosos, mesmo mais caros, são rapidamente alugados. “Tinha um apartamento nesse padrão alugado por R$ 1,5 mil e que, ao desocupar, foi alugado por R$ 2 mil em menos de uma semana”, ilustra.Outro fator importante apontado pelo vice-presidente do Secovi é um movimento de readequação dos preços “a um patamar mais próximo da realidade, após a retomada das atividades econômicas, ao alugar ou renovar o contrato. Isso porque, nos dois anos anteriores, os proprietários evitaram reajustes ou até reduziram o preço do aluguel diante dos entraves da pandemia. “Era melhor do que ficar com o imóvel fechado”, comenta Benjamin.A estratégia é confirmada por Arlen Teixeira Nascimento, dono de dois imóveis que manteve alugado nos dois primeiros anos da pandemia sem reajustes. “Vinha mantendo os valores defasados porque estava muito difícil, só para não deixar fechado.”Nos últimos três meses, Arlen passou a ter novos inquilinos que pagam valor de mercado atual por um apartamento de 54 metros, com dois quartos no Parque Acalanto, onde a média é de R$ 600, e uma casa de 80 metros, com suíte e garagem para dois carros, no Parque Flamboyant, alugada por R$ 850.Oferta e procuraMesmo com a alta nos reajustes em 2022, Leonardo Rebouças, dono da Portfólio Imóveis, relata que a procura por imóveis para alugar em Goiânia dobrou nos últimos meses. “Com demanda muito alta, o preço sobe. É a lei da oferta e da procura”, avalia. Ele conta que participou dias atrás de um treinamento para corretores de imóveis, no qual foi apresentada pesquisa mostrando que Goiânia recebe por ano mais de 40 mil pessoas que migram do interior ou de outras capitais.O próprio Leonardo exemplifica a situação atual do mercado de aluguel de imóveis residenciais em Goiânia. Ele mora com a família em apartamento no Jardim Goiás, de 106 metros, com três quartos, sendo um suíte, alugado há cerca de um ano e meio por R$ 1,4 mil. Um ano depois do contrato firmado, o preço subiu para R$ 1,625 mil, ou seja, alta de 16%. Mesmo assim, a proprietária pediu o apartamento, porque quer vender, conta ele, acrescentando que ao procurar imóvel no mesmo setor e com mesma metragem, só encontra com valor do aluguel acima de R$ 2 mil.Contratos antigos ainda mantêm valor mais em conta para o inquilino, esclarece o proprietário da Portfólio Imóveis, porque a correção se dá pelo IGP-M (Índice Geral de Preços - Mercado), indicador usado no reajuste dos contratos de aluguéis no país, que ficou em 0,21% em julho deste ano. A taxa é menor que a registrada em junho (0,59%) e a de julho de 2021 (0,78%).Segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV), o índice acumula taxa de 8,39% no ano. Em 12 meses, o acumulado é de 10,08%. (Com Leicilane Tomazini e Folhapress)Leia também:- Goiânia é a capital com maior reajuste no aluguel no primeiro semestre de 2022- Demanda por benefícios sociais vem aumentando em Goiás- MP busca diálogo para evitar violência em ocupações na Grande Goiânia