Um novo indicador que mede o custo de vida de famílias chefiadas por pessoas com 50 anos ou mais de idade foi criado pelo economista Arnaldo Lima, diretor do Instituto de Longevidade MAG, ex-secretário do Ministério da Fazenda e ex-diretor da Funpresp (fundo de pensão dos servidores federais). Segundo ele, a necessidade de um “índice de inflação mais aderente para fins de planejamento previdenciário” surge diante de uma “revolução da longevidade” no Brasil.Arnaldo cita que enquanto a população com menos de 50 anos cresceu 1,1% entre junho de 2012 e junho de 2022, a população com mais de 50 cresceu 35,1%, de acordo com a Pnad Contínua do IBGE.De acordo com a nova metodologia (veja quadro), a inflação para famílias chefiadas por pessoas com 50 anos ou mais de idade superou a verificada para os brasileiros em geral nos últimos 12 meses. No acumulado em 12 meses até outubro, a inflação dos longevos ficou em 7,2%, superior ao IPCA de 6,5% no mesmo período.O executivo explica que o índice considera a mesma variação dos itens que compõem o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), calculado pelo IBGE e que serve como meta de inflação, “porém ponderados pelos pesos da cesta de consumo das famílias chefiadas pelos longevos”. Trata-se de um público com hábitos de consumo distintos. A pesquisa mostra que esse público concentra mais gastos nos grupos saúde, transportes, comunicação e artigos de residência, e gastam relativamente menos com habitação, educação, alimentação e despesas pessoais.Por que criar o IPCA 50+ ou “inflação dos longevos”?O Brasil está vivendo a revolução da longevidade. As pessoas estão vivendo cada vez mais, o que gera desafios para as contas públicas, empresas e, especialmente, trabalhadores que ainda não têm reserva financeira para se aposentar. Enquanto a população com menos de 50 anos cresceu 1,1% entre junho de 2012 e junho de 2022, a população com mais de 50 cresceu 35,1%, de acordo com a Pnad Contínua do IBGE. No País, essa parcela da sociedade possui hábitos de consumo distintos, fazendo com que o impacto da inflação sobre suas despesas também seja diferenciado das demais faixas etárias. Foi buscando entender melhor essas necessidades e particularidades que o Instituto de Longevidade MAG criou uma maneira para analisar essa parcela da população de forma detalhada: o IPCA 50+, a “inflação dos longevos”.Essas pessoas estão mais ativas hoje no mercado de trabalho do que em décadas anteriores e seus familiares são muito dependentes financeiramente desses chefes de família, conforme o senhor aponta na pesquisa. Do que decorre esse perfil familiar atual?A participação no mercado de trabalho dessa população alcançou 42,0% em setembro. Entretanto, a taxa de desemprego das pessoas com 50 ou mais anos é significativamente menor (4,7% contra 8,7% na população total). O rendimento médio é dessa população é cerca de 13,9% superior à média do país.O senhor destaca a necessidade de mais poupança para o futuro e a utilização de um índice de inflação mais aderente para fins de planejamento previdenciário. Como deve ser esse planejamento?Os benefícios da longevidade exigem mais cuidado com a saúde, mais preparação para o mercado de trabalho e, sobretudo, mais disciplina para formar uma reserva financeira por meio de previdência complementar, especialmente diante das constantes alterações da legislação previdenciária.Um dos pontos mais discutidos na PEC da Transição, que visa garantir recursos no Orçamento de 2023 a programas sociais e investimentos, é o corte de verbas para o Farmácia Popular. Qual o impacto das despesas com medicamentos e saúde em geral para pessoas de 50 anos ou mais?Os benefícios advindos do Farmácia Popular não impactam o IPCA 50+ de forma direta, pois a inflação dos longevos mede o quanto essas famílias gastam com serviços privados. Atualmente, o gasto dos longevos com saúde e cuidados pessoais representa 14,7% do gasto das famílias chefiadas por 50+ contra 12,9% do índice geral.De que forma a garantia de R$ 600 aos beneficiários do Bolsa Família e da parcela extra de R$ 150 por criança de até 6 anos, como planeja o novo governo, pode ter reflexos no consumo/movimentação econômica e também na inflação?Primeiramente, é imprescindível dizer que a proteção das famílias menos abastadas é altamente meritória e o aumento do valor do Bolsa Família tem impacto positivo no consumo e na economia, pois as famílias menos abastadas possuem maior propensão a gastar do que a poupar. Porém, cabe observar se essa demanda adicional será maior ou não do que a capacidade de oferta de produtos e serviços da economia. Se for, o maior valor dos benefícios pode gerar inflação, o que levaria ao Banco Central elevar a taxa de juros, prejudicando o crescimento econômico, mas é muito difícil estimar este impacto ex-ante.A previsão é de que não se cumpra o teto de gastos em 2023. Em que medida a falta de ajuste fiscal pode pressionar a inflação em geral e, em particular, o IPCA 50+?O teto dos gastos tem impacto positivo no ajuste fiscal, mas acaba atuando somente sobre as despesas discricionárias, que representam cerca de 7% do total de despesas do governo. Logo, o mais importante é incentivar reformas fiscais, ou seja, aperfeiçoamentos legislativos que reduzam o impacto das despesas obrigatórias - que são 93% das despesas totais -, sobre a trajetória do endividamento público. Logicamente, regras fiscais que deem previsibilidade sobre a dívida impactam positivamente o crescimento de longo prazo, que é o que todos desejamos.Em relação ao contexto internacional, em que a guerra na Ucrânia prossegue sem perspectiva de acordo, que cenário se desenha para o próximo ano e como pode favorecer ou representar mais dificuldades à retomada econômica no Brasil?Quanto menor a volatilidade dos preços das commodities, que têm cotação internacional, e do dólar, menor será o impacto sobre a inflação.Leia também:- Produção de mel em Goiás cresce acima da média do País- Mega-Sena deve sortear R$ 57 milhões no próximo sorteio; veja o resultado deste sábado (26)- Montadora de Catalão promove demissão em massa; sindicato se manifesta-Imagem (1.2569226)