O consumidor já percebeu que os ovos de chocolate estão bem mais caros nesta Páscoa. Além da inflação no custo das matérias-primas, como o próprio chocolate e as embalagens, a carga tributária que incide sobre eles chega a quase 40%, segundo dados do Impostômetro. Na tentativa de economizar, muitos consumidores têm investido mais em estratégias como fazer o próprio ovo em casa ou comprar ovos de acrílico e recheá-los de bombons para presentear. Um levantamento da Associação Paulista de Supermercados (Apas) mostrou que os ovos de Páscoa estão até 40% mais caros este ano em relação a 2021. Mesmo em Goiânia, a gerente da Cristal Festas, Pássima Mendes, também estima que os reajustes tenham ficado entre os 30% e 40% e atingiram não apenas os ovos prontos, mas também as matérias-primas para a produção caseira, como o chocolate e as embalagens.Com isso, a loja resolveu reduzir os pedidos: de 9 toneladas compras em anos anteriores para 6 toneladas este ano. Pelo menos por enquanto, a maior procura tem sido por matérias-primas para produção de ovos caseiros. “Além disso, as pessoas estão optando pelo chocolate mais barato, o hidrogenado”, ressalta Pássima. Enquanto o quilo do chocolate de primeira linha sai por R$ 34, o hidrogenado custa R$ 17.Os ovos tradicionais feitos de chocolate também estão sendo substituídos pelos feitos de acrílico, que custam entre R$ 9,90 e R$ 21,99 e podem ser recheados com bombons. “As pessoas estão buscando alternativas para economizar nesta Páscoa, reduzindo o impacto dos aumentos”, destaca a gerente da Cristal Festas.Mesmo com os preços mais altos, a procura por ovos de chocolate ainda é grande na Festa Radical, em Campinas. A gerente Sebastiana Braz, diz que a demanda está 30% maior que no mesmo período do ano passado. Segundo ela, com a retomada total das atividades econômicas este ano, após dois anos de paralisação por causa da pandemia, a loja incrementou os pedidos em 20%. “A procura está surpreendendo e o estoque deve acabar logo”, prevê. Mas Sebastiana informa que, este ano, também é grande a procura por matérias-primas para produção de ovos caseiros.Nos supermercados, a oferta de ovos de chocolate é cada vez menor e muita gente tem optado por barras de chocolate. O presidente da Associação Goiana de Supermercados (Agos), Gilberto Soares, informa que as indústrias têm reduzido os pedidos por contra própria, ou seja, entregam um volume cada vez menor que o pedido. Isso acontece porque o produto era repassado em consignação e os que não eram vendidos, eram devolvidos mesmo quebrados. “Com isso, os estabelecimentos faziam saldões para vender o estoque após a Páscoa e o consumidor passou a esperar para comprar nestas promoções”, explica. A estratégia da indústria foi reduzir a oferta do produto no mercado. “No ano passado, precisei de mais ovos e não consegui comprar. Hoje, meus pedidos chegam até 30% menores que antes”, conta Gilberto.Indústria goianaPara sua produção de ovos de Páscoa este ano, a indústria goiana Dianju comprou 120% mais chocolate que no ano passado, volume que superou as 80 toneladas, sendo uma parte importada. O proprietário, Divino Ismael Leite, conta que a demanda pelo produto também dobrou no mercado, já que a fabricante produz ovos com preços mais competitivos que as grandes indústrias nacionais. “Nossos ovos já acabaram em vários pontos de venda, bem antes da Páscoa”, garante o empresário.Mesmo comprando muito mais insumos que em 2021, por preços 22% maiores, em média, ele foi obrigado a interromper a produção por alguns dias por causa da falta de matérias-primas no mercado. Só as embalagens plásticas subiram quase 50%, e ele subiu os preços de seus ovos em 25%. “Tivemos problemas até com o navio que trazia matérias-primas para produção de papel chumbo por causa da guerra na Ucrânia e as indústrias brasileiras ficaram sem o insumo”, destaca. Também houve dificuldade para a compra dos suportes plásticos que sustentam os ovos.Com o aumento da procura, Divino conta que ainda não conseguiu atender todos os pedidos feitos por seus clientes. “Uma grande rede supermercadista queria dobrar o pedido inicial, de 3 mil para 6 mil caixas, mas não tivemos mais como atender”, conta. Este ano, a procura pelo produto também foi grande entre as prefeituras para o fornecimento a escolas. Na madrugada de sexta-feira (8), o empresário conseguiu receber o carregamento com as matérias-primas que precisava para retomar a produção. Carga tributária elevada gera consumo desigualOs lojistas que revendem ovos de chocolate concordam que, além das altas no custo de produção, se a carga tributária não fosse tão elevada, as vendas do produto poderiam ser bem maiores. Apesar de ser um artigo consumido numa data comemorativa específica, a Páscoa, os altos preços dos ovos restringem o acesso para os consumidores mais carentes no País. “Apesar do chocolate estar dentro do rol de produtos alimentícios, ele não é contemplado com os benefícios fiscais dos itens considerados essenciais, ou seja, que compõem a “cesta básica. Por isso, há claramente uma diferença na tributação”, lembra Giuliano Gioia, Tax Manager da Sovos Brasil, líder em soluções digitais para tributos.O presidente executivo do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), João Eloi Olenike, lembra que o princípio constitucional tributário diz que produtos essenciais devem ter alíquotas menores, enquanto os considerados supérfluos têm tributação maior. “Mas este é um princípio subjetivo, pois fica a cargo dos legisladores decidirem o que deve ser mais ou menos consumido”, destaca.Ele lembra que este princípio da essencialidade também é questionável quando se considera a alta carga tributária que incide sobre os materiais escolares, por exemplo, e até sobre os remédios. “Com isso, muitos produtos que não são supérfluos ficam caros demais para a maioria da população, que é obrigada a reduzir o consumo ou mesmo deixar de comprar”.A questão é subjetiva também em relação aos ovos de Páscoa, que deveria ser acessível para o consumo de todas as crianças do País nesta época festiva. “Mas os pais que estão desempregados ou ganham pouco não conseguem comprar para os filhos. A maior tributação é sobre o consumo, e não sobre a renda e o patrimônio, o que aumenta a desigualdade. Sobre o consumo, não há diferenciação: ricos e pobres têm a mesma carga tributária”, completa João Eloi.Leia também:- Nos últimos dois dias, procura por ovos de Páscoa surpreendeu comerciantes em Goiânia- Após divulgação de Britney Spears, venda de Ovo de Páscoa artesanal brasileiro esgota -Imagem (Image_1.2436121)