O setor industrial é o que mais consome energia elétrica em Goiás, o que traz preocupação com o cenário de crise hídrica e aumento no preço do insumo. Isso porque o resultado é uma pressão no custo fixo das indústrias, o que tende a ser repassado para o preço dos produtos e chega ao consumidor final. O que já ocorre na prática.Para demonstrar o impacto em itens importantes, a Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace) fez um levantamento. A partir de dados repassados por indústrias brasileiras, ele mostra que o insumo representa 48% do valor do leite, 34% da carne, 28% da cerveja e 10% dos materiais de construção e do açúcar.“Energia elétrica tem um peso direto na cesta da inflação, além disso, ao longo do tempo o aumento da energia se traduz em aumento de custos na produção de todos produtos e serviços que consumimos, e isso também leva a impactos adicionais”, diz o gerente de Energia Elétrica da Abrace, Victor Iocca.Diante do cenário, ele defende que é preciso uma modernização no setor, mas “as últimas decisões do Congresso Nacional foram no sentido de aumentar ainda mais o peso da luz”. Ele se refere especialmente à lei, sancionada este mês, que permite a desestatização da Eletrobras, que responde por 30% da energia gerada no País.Na análise da Abrace, a MP de número 1031/21, que foi transformada na Lei 14.182/2021, pode trazer aumento de até 20% na conta de energia para o setor produtivo. O que seria refletido em mais altas na ponta para a população. Segundo Victor, a saída seria retirar subsídios da conta de luz e modernizar as tarifas para que os consumidores possam participar mais ativamente da operação do sistema.“O setor produtivo, após a construção pelo governo de mecanismos que incentivem a redução voluntária do consumo, possui flexibilidade na sua operação e deseja contribuir em programas de redução da demanda justamente para enfrentarmos essa crise hídrica sem grandes impactos.” Enquanto isso, o Ministério de Minas e Energia (MME) diz que a capitalização da Eletrobras faz parte do processo de modernização do setor.O MME afirma que deve ocorrer uma redução da volatilidade de preços na tarifa de energia causada pelo risco hidrológico e há expectativa de redução tarifária para consumidores cativos estimada entre 5% e 7%. Reflexo localO setor industrial goiano é responsável por quase um terço da energia consumida no Estado. Em análise da Federação da Indústria de Goiás (Fieg), com o encarecimento que já ocorreu com a crise hídrica, como aumento da bandeira vermelha de patamar 2 em 52%, as empresas tendem a não consumir menos. O que ocorre é a alta do custo fixo e repasse para os produtos.“O setor naturalmente já tem essa preocupação. Para indústria 4.0, trabalhamos e incentivamos a eficiência energética nas empresas para que possam economizar o máximo”, pontua o vice-presidente da Fieg, André Rocha. Desde troca de lâmpadas à geração distribuída, as estratégias tendem a ser mais indicadas e incentivadas exatamente em momentos de maior pressão no insumo.“Empresas que têm condição de repassar o custo irão repassar, logicamente que à medida que o mercado aceita. Faz muitos meses que há essa pressão.” Goiás é 4º com maior tarifa para a atividade industrialGoiás é o quarto Estado com a maior tarifa de energia elétrica para a atividade industrial no Brasil. Isso em relação aos valores do ano passado. Esse preço impacta a competitividade e pode dificultar a atração de empresas, como explica o vice-presidente da Federação das Indústrias de Goiás (Fieg), André Rocha. “Quando há custo alto, os setores repassam para o preço e alguns não dão conta”, pontua.Conforme levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), entre os segmentos mais dependentes e que a energia tem maior peso estão os ligados à construção civil, como fabricação de cimento, de produtos cerâmicos e metalurgia. Como nesse caso, o receio é de que setores que já enfrentam desafios com alta de outros insumos, diante da crise causada pela pandemia de Covid-19, acrescentem mais custos que pouco podem administrar.“Pode gerar um ciclo vicioso de empresas impactadas, por isso é importante todo tipo de comunicação na necessidade de investimento em eficiência energética e hídrica para não sofrer as consequências”, afirma André ao lembrar que o assunto foi debatido em reunião do Fórum Empresarial do Estado. Além da energia, a falta de chuva também preocupa pela disponibilidade de água para produção e transporte de produtos por hidrovia.Apesar do governo federal descartar risco de apagão, há expectativa de novas altas. Além do alerta, o setor privado tem questionado impostos e encargos que compõem o custo das tarifas de energia. Outro aspecto cobrado é em relação à qualidade do serviço de distribuição. Quedas e tensão abaixo do necessário ainda geram prejuízos com reflexo nos equipamentos e mais custos para manutenção das indústrias no Estado.-Imagem (1.2289488)