A crescente demanda mundial por fertilizantes e a alta dependência brasileira da importação destes insumos para a agricultura levaram indústrias do setor a investir em projetos para ampliar a produção interna. Em Montes Claros de Goiás, a primeira mina de potássio do Centro-Oeste, com capacidade para mais de 100 mil toneladas do fertilizante natural por ano, da Edem Agrominerais, acaba de entrar em operação. Em Ouvidor (GO), a gigante CMOC está transformando rejeitos em fertilizantes organominerais.A preocupação com o abastecimento de fertilizantes no mundo se tornou mais evidente após o início da guerra na Ucrânia, já que a Rússia é um dos maiores fornecedores mundiais e se tornou alvo de embargos. Por isso, os estudos e projetos desenvolvidos pelas empresas em Goiás estão sendo concluídos num momento muito importante para a produção agropecuária.O projeto para produção do potássico natural, que ganhou o nome de KMC (Potássio de Montes Claros), recebeu investimentos da ordem de R$ 15 milhões e gerou cerca de 40 empregos diretos. A produção inicial será de 100 mil toneladas anuais. O geólogo Luiz Vessani, um dos sócios da EDEM Agrominerais, informa que neste início das operações da mina, já há um excesso de encomendas em relação ao volume inicial. “O Brasil é o celeiro do mundo e está em franco desenvolvimento de sua agricultura, que é moderna e tecnológica, para atender a demanda mundial por alimentos”, diz.Leia também:- Produção de grãos em Goiás aumenta 10 milhões de toneladas em cinco anos- Alto custo de pastagens leva pecuarista a descartar gado no Centro-OesteOutro ponto, segundo ele, é a alta dependência do Brasil em relação ao fertilizante importado, que chegou a 95% e exigiu uma resposta da mineração. “Não estamos surfando numa onde que surgiu agora. Não esperávamos esta fragilidade estratégica dos fertilizantes no Brasil, mas tínhamos um olhar na mudança de enfoque tecnológico e ambiental da agricultura em busca de uma maior sustentabilidade”, explica Vessani. Os clientes são produtores rurais, pessoa física e jurídica.Ele explica que a exploração da jazida é fundamental para diminuir os custos para o produtor, principalmente com o câmbio desfavorável para importação de insumos. Outro benefício é para a logística, que não é muito favorável para produtores do Centro-Oeste, por estarem longe dos portos. “De qualquer forma, a operação começa num momento de grande demanda e a produção vai crescer”, avisa o empresário.Ele conta que a mina já trabalha em três turnos, inclusive finais de semana e feriados, e a capacidade instalada da planta será ampliada para entre 200 mil e 300 mil toneladas anuais até meados de 2023. Para isso, a empresa está ampliando sua licença ambiental e adquirindo novos equipamentos industriais para moagem do potássio natural, que tem seu formato modificado para ser usado como fertilizante. Serão investidos mais R$ 30 milhões e os empregos gerados devem chegar a 150. Período secoComo o potássio natural é mole, a operação de lavra do minério é afetada pela precipitação de chuvas, que eleva o custo. Por isso, o auge da extração e beneficiamento acontece a partir de agora, no período seco. Após a expansão, a estimativa é que toda produção seja vendida por conta da alta demanda atual e da busca por sustentabilidade. Segundo Vessani, a exploração tradicional esgota o solo e, com o potássio natural, a ideia é fornecer um produto com outros micro elementos que recomponham a formação química e biológica desta terra.Ele lembra que o Centro-Oeste consome quase 40% do potássio entregue no Brasil, graças à expressiva produção de grãos e cana-de-açúcar na região. Por isso, por conta da dependência externa de fertilizantes, o início da exploração de jazida de potássio em Goiás é extremamente positivo não só para o estado, mas para toda região.A preocupação com a redução da alta dependência brasileira de fertilizantes importados cresceu após a guerra na Ucrânia. Em março, a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) publicou nota comunicando ter estoque de fertilizantes só para os próximos três meses, de acordo com dados de mercado. Outro projeto desenvolvido em Ouvidor pela CMOC Brasil, uma das maiores fornecedoras de fertilizantes fosfatados do Brasil, também deve ajudar a incrementar a produção.