O anúncio da chegada de uma grande indústria a um município do interior é visto como um acontecimento, diante da expectativa de geração de empregos que vão incrementar a renda e movimentar a economia local. Cidades que receberam investimentos de grandes indústrias, principalmente as que passaram a agregar valor às matérias-primas locais, atraíram mais empresas, elevaram a geração de empregos formais e tiveram um maior incremento do Produto Interno Bruto (PIB).Entre os bons exemplos no Estado, estão Rio Verde, no Sudoeste Goiano, que ganhou mais de 20 mil novos empregos com carteira assinada de 2010 até agora e viu seu PIB mais que dobrar de R$ 4,45 bilhões para quase R$ 10 bilhões entre 2010 e 2019, segundo o IBGE. Este movimento foi intensificado pela chegada de grandes empreendimentos industriais como a BRF e Cargil. “A chegada da BRF foi um marco porque várias outras empresas vieram para o município por conta dela”, lembra o presidente da Associação Comercial e Industrial de Rio Verde (Acirv), Eduardo Lobo.Ele lembra que estas grandes indústrias expandiram a produção local e agregaram valor a matérias-primas, como soja, milho, aves e suínos, e aceleraram o desenvolvimento da região, que passou a ser conhecida em todo o país. Com mais dinheiro circulando, a cidade presenciou um boom nos setores de comércio e serviços, inclusive com a instalação de shoppings e construção de condomínios verticais e horizontais de alto padrão. Desde 2010, Rio Verde ganhou mais de 70 mil novos habitantes. “Sem a indústria, a cidade seria apenas exportadora de matérias-primas”, estima. Na Região Metropolitana de Goiânia, Aparecida e Senador Canedo são exemplos de municípios que tiveram suas economias impulsionadas pela industrialização e deixaram de ser apenas cidades-dormitório. Com quase duas mil indústrias, o PIB de Aparecida saltou de R$ 5,8 bilhões para R$ 14,3 bilhões entre 2010 e 2019, período em que a cidade ganhou mais de 18 mil novos empregos formais, segundo o Ministério do Trabalho e Previdência. “Aparecida virou o maior polo industrial e logístico do Centro-Oeste, graças a sua localização privilegiada e seus cinco polos industriais em funcionamento”, avalia o presidente da Associação Comercial e Industrial do município, Leopoldo Moreira Neto. Ele lembra que a indústria local é diversificada e multisetorial, o que resultou no desenvolvimento de vários arranjos produtivos locais que impulsionaram a geração de empregos. Leopoldo prevê que este movimento de industrialização seja acelerado após o início das operações do futuro Polo Aeronáutico Antares, que abrigará um aeroporto da aviação geral.Senador Canedo mais que dobrou seu PIB em 10 anos: de R$ 1,6 bilhão para R$ 3,7 bilhões, quase um terço proveniente do setor industrial. Uma das maiores indústrias da cidade, a Cicopal veio para Goiás atraída pela produção de matérias-primas utilizadas em sua produção de salgadinhos, como milho e batata. O CEO da empresa, Victor Cardoso, lembra que o parque fabril, que hoje ocupa 40 mil metros quadrados, começou só com 10% disso e 150 funcionários. Hoje são mais de 700, sendo 85% moradores da cidade.Além da Cicopal, Senador Canedo também já abriga outras grandes indústrias, como a Sodexo do Brasil, Sapore e Sol Bebidas, que atraíram diversas empresas menores fornecedoras e prestadoras de serviços. “Hoje, a maioria dos insumos e matérias-primas que utilizamos são comprados em municípios vizinhos e aqui mesmo. Nossa maior fornecedora de papelão, por exemplo, a Jaepel, também está na cidade”, destaca Victor.Ao incrementarem seus PIBs, os municípios goianos também elevam sua fatia de ICMS no Índice de Participação dos Municípios (Coíndice) e passam a contar com mais recursos para prestar melhores serviços às populações. Rio Verde, Aparecida e Senador Canedo estão entre os 5 que mais recebem. Para o presidente da Associação Goiana de Municípios (AGM), Carlos Alberto Andrade, a industrialização é uma redenção para qualquer município, que desenvolve toda sua economia local. Por isso, eles estão sempre em busca destes investimentos, oferecendo isenção de impostos, terrenos e até apoio para construção das futuras fábricas. “A industrialização melhora a condição de vida da população de imediato, refletindo-se no Coíndice, que leva mais recursos para a cidade”, explica.Outro bom exemplo é o de Catalão, onde a economia começou a se desenvolver com as indústrias mineradoras de nióbio e fosfato nos anos 70. Esse processo foi acelerado com a chegada de grandes montadoras como a Mitsubishi e John Deere, que já empregam quase 4 mil pessoas. “Hoje, a cidade tem seis economias fortes: indústria, comércio, serviços, educação, pecuária e agricultura”, diz o presidente da CDL e da Associação Comercial e Industrial, César Alberto Safatle.O presidente executivo da Associação Pro Desenvolvimento Industrial de Goiás (Adial), Edwal Portilho (Tchequinho), ressalta que os reflexos da chegada de uma indústria começam ainda na fase de construção civil, que já resulta em geração de empregos nas obras e circulação de mais recursos com serviços de alojamento, alimentação e fornecimento de insumos para a empresa. Aos poucos, chegam novos fornecedores de produtos e serviços, e são abertos mais loteamentos para os trabalhadores. A renda injetada com o pagamento de salários aumenta a movimentação em todo comércio. “Com melhores salários, estas pessoas também passam a comprar mais desde comida a carros e utilizar mais serviços de lazer, de saúde e educação”.