O aumento do desemprego e a queda na renda familiar, causados pelas restrições após o início da pandemia, levaram mais pessoas a buscar alternativas para complementar o orçamento familiar. A venda direta de produtos porta a porta foi uma das alternativas encontradas para reforçar ou mesmo garantir algum sustento. Só no ano de 2020, o setor cresceu 10,5% e o número de empreendedores independentes aumentou 5,5%. Em Goiás, já são cerca de 120 mil consultores, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Vendas Diretas (ABEVD). Esse modelo de negócio movimenta anualmente cerca de R$ 50 bilhões por mais de 4 milhões de pessoas no Brasil. A presidente executiva da instituição, Adriana Colloca, lembra que a venda direta teve uma rápida adaptação em tempos de pandemia, pois o processo de digitalização estava acontecendo e empresas do setor já ofereciam capacitação on-line e formas de divulgar e vender produtos pela internet e redes sociais.Ela lembra que a venda direta se baseia em relações, indicação de produtos apropriados ao cliente. “Buscamos indicação para todos produtos e serviços que usamos. Assim, sendo presencial ou digital, a venda direta pode sempre acontecer”, destaca. Por isso, muitas pessoas que ficaram sem emprego ou tiveram sua renda reduzida, recorreram ao sistema para garantir o seu sustento.Segundo a ABEVD, a venda direta complementa a renda de empreendedores desde 2012 e já representa, em média, 31,3% do total. “Muitas empresas do varejo e de outros segmentos viram no sistema uma oportunidade de driblar a crise e conseguir capilaridade e proximidade com o consumidor. As pessoas perdem a confiança em grandes marcas, mas não em pessoas e indicações”, lembra Adriana.Uma das marcas que tem apostado no crescimento desse modelo de comércio é a O Boticário, que viu na venda direta a possibilidade de aumentar ainda mais sua capilaridade para além das lojas físicas. O segmento de cosméticos é o que mais cresce e já responde por 52% das vendas diretas no País. A gerente de Venda Direta e Digital do Grupo O Boticário, Débora Moraes Landim, conta que a maioria dos revendedores trabalham para complementar a renda familiar, mas boa parte já tem no sistema sua principal fonte de ganhos. A lucratividade média é de 15%, mas chega aos 30% no caso de promoções.A venda direta é apontada como a forma de empreendedorismo de mais fácil acesso, por conta da ausência de burocracia e baixo investimento inicial. Segundo Débora, no caso de O Boticário, o kit inicial sai por R$ 229. A empresa conta com três Espaços do Revendedor, que oferecem suporte para compra, apresentação e demonstração de produtos. Os revendedores também contam com material de treinamento e suporte em ferramentas digitais.“Como a marca já é conhecida e tem uma boa aceitação no mercado, os próprios consultores costumam dizer que ela já vende por si só”, destaca a gerente. Os consultores de venda direta também costumam representar mais de uma marca. A revendedora Mary Caldeira trabalha há cinco anos com a marca e foi atraída pela possibilidade de comprar os produtos com preços mais acessíveis para ela mesma usar e também conseguir uma renda extra com as vendas.Quando começou, tinha um emprego com carteira assinada e vendia muito para os colegas de trabalho. As entregas eram feiras com uma bicicleta. Há três anos, ela deixou o emprego e passou a investir mais nas vendas para manter a renda. De lá pra cá, conseguiu aumentar a clientela, dobrou a vendas e já conseguiu até comprar um carro. “Hoje tenho uma clientela fixa e não quero mais assinar minha carteira”, avisa.A Hinode Group é uma empresa com sistema de negócios focado e marketing de relacionamento, que tem 13 mil consultores no Estado, sendo 22% deles na capital. O diretor comercial da empresa, Ronie Piovezan, a define o sistema como uma plataforma de empreendedores bastante democrática, de fácil acesso. Segundo ele, somente no ano de 2020, 180 mil novos consultores entraram no negócio, que começa como um complemento de renda, mas pode ser tornar o negócio principal e uma carreira para muita gente. Isso acontece para quem amplia sua atuação para o modelo multinível, formando sua própria equipe de vendas. “É uma ferramenta de microempreendedorismo e de transformação social, que também oferece capacitação”, destaca. O ganho do consultor é de 50% em média. “Geralmente, as pessoas entram em busca de uma renda extra, mas muitos se dedicam e acabam fazendo do negócio sua renda principal”, diz Ronie.Para a presidente da ABEVD, cada vez menos pessoas terão empregos de carteira assinada e vão precisar de oportunidades de empreendedorismo com baixo risco e facilidade para começar, buscando a venda direta. Ao contrário do perfil tradicional, hoje também há um número expressivo de homens trabalhando com a atividade: 42,2% do total.