O mercado de leilões virtuais de veículos ganhou forte impulso durante a pandemia do novo coronavírus, após a proibição de eventos presenciais. Mas foi nos últimos meses, com a escassez de veículos e peças no mercado, que este player de vendas ganhou ainda mais força: o número de compradores cadastrados cresceu até 60% em algumas empresas.A compra e revenda de veículos adquiridos em leilões se tornou uma fonte de renda para muita gente e o potencial do mercado goiano atraiu mais empresas do ramo. A Copart, companhia líder na organização de leilões virtuais, presente em vários países e que vende mais de 3 milhões de carros por mês, acaba de desembarcar no mercado local em parceria com a Leilões Brasil.A empresa já contava com muitos clientes no Estado, que participavam de leilões nacionais. Agora, os pregões são realizados direto de Goiânia, todas as quartas-feiras, com mais de 300 veículos ofertados por evento.Os lotes são originados de grandes frotistas, incluindo bancos, seguradoras, locadoras de veículos e até de consumidores individuais. O presidente da Copart Brasil, Adiel Avelar, lembra que o mercado brasileiro é um dos maiores do mundo, devido à grande produção e comercialização de veículos.Segundo ele, a empresa já conta com 14 pátios em todas as regiões do Brasil e Goiás se tornou um foco por ser um polo no Centro-Oeste pela força econômica. Em todo o País, a Copart oferta quase 10 mil veículos por mês em leilões praticamente diários.“Já tínhamos muitos compradores no Estado e vendemos mais de mil carros por mês”, informa Avelar. Ele avalia que a compra em leilão é uma oportunidade e facilidade. Para participar, a pessoa faz um cadastro, recebe uma mensagem de celular para tirar uma foto para reconhecimento facial e já está apta a participar das ofertas em todo País.Este ano, o número de compradores por leilão saltou de 7 mil para 12 mil. Nos sites das leiloeiras, a pessoa acessa as informações sobre os veículos e pode vê-los de perto nos pátios antes do leilão. “Temos clientes de pessoas físicas a lojistas. Agora, fomentamos o mercado de desmontes”, destaca o presidente da Copart.Alguns compram veículos batidos, vendidos por seguradoras, para revenderem as peças, um mercado que se aqueceu na pandemia. “Muita gente perdeu o emprego e passou a comprar carros em leilões para consertar e revender para ter renda.”Segundo os leiloeiros, a estimativa de economia com a aquisição de um carro em leilão é de cerca de 30%, dependendo do estado de conservação. O comprador também paga 5% ao leiloeiro e algumas taxas administrativas, como as chamadas ‘taxas de pátio’. Avelar prevê que este mercado tenha crescido cerca de 30% este ano, um índice bem superior aos anos anteriores.A agência de leilões Leilomaster vende veículos de seguradoras e bancos em leilões praticamente diários de forma online. O titular da empresa, João Alves Barros, informa que a chegada da pandemia consolidou os leilões on-line e obrigou as empresas a investirem mais na apresentação dos carros em seus sites, por meio de fotos e vídeos. Lá, os compradores têm todas as informações sobre os lotes, incluindo o valor estimado pela tabela Fipe, e podem ir dando os lances.O valor arrematado pode ser pago à vista, parcelado no cartão de crédito ou financiado pelo mesmo banco que vende o carro. João Alves informa que alguns leilões de veículos mais novos, em bom estado, são destinados ao consumidor final. “Com o fechamento das fábricas após a pandemia, hoje faltam veículos e peças, por isso a procura cresceu.Hoje, vendemos praticamente tudo que ofertamos”. Todos os meses, 5 mil novos clientes se cadastram na empresa para participar dos leilões virtuais na plataforma, que já tem 300 mil cadastros. “No ano passado, eram pouco mais de 200 mil”, lembra Alves.O empresário Raimundo Wlysses Coelho de Sousa, há 25 anos no ramo de compra e venda de veículos, começou comprando carros batidos para consertar e revender. No início, comprava direto das seguradoras. Ele lembra que, no começo, havia uma certa desconfiança em relação aos leilões, o que acabou com o tempo. Hoje, ele compra e revende carros oriundos de sinistros em todo País, que seus clientes consertam e revendem.“Nem preciso mais visitar os carros nos pátios porque tenho todas as informações nos sites. O problema é que aumentou muito a concorrência no setor”, destaca. Ele estima que os preços vão de 40% a 70% do valor da tabela Fipe.Valorização e concorrência elevaram tíquete médioA grande valorização dos veículos seminovos nos últimos meses aqueceu ainda mais o mercado dos leilões, que já estava consolidado, na visão de Antônio Brasil, da Leilões Brasil. Segundo ele, o tíquete médio nos remates subiu bastante e o número de participantes cadastrados no segmento cresceu 32% desde o início da pandemia. “Estamos com um alto índice de liquidez, tanto na venda de veículos recuperados por bancos, quanto de sucatas”, destaca.Antônio Brasil também atribui a procura crescente à maior satisfação dos clientes e divulgação dos lotes na mídia. Entre os clientes, estão autônomos, comerciantes e particulares, que buscam valores mais baixos que os de mercado. “Antes, os compradores eram apenas donos de garagens e de oficinas. Após a pandemia, isso virou fonte de renda para muita gente sem emprego”, lembra.Para o leiloeiro, a parceria com a Copart eleva a oferta de veículos da Leilões Brasil e favorece o comprador. “Teremos um maior volume de oferta e nossos clientes sairão ganhando, com os leilões e visitações acontecendo aqui mesmo”, destaca.Muitas autônomos compram veículos com algum nível de avaria para consertar e revender depois no mercado. Os veículos se dividem em grande monta (sucata) e média monta (com danos mais relevantes, mas que se reparados ou substituídas as peças, podem voltar a circular) e pequena monta (que exigem simples reparos).Proprietário de uma revenda de veículos, o empresário Emerson Mesquita já compra e revende carros batidos há cerca de dez anos e trabalha com nove empresas leiloeiras de todo País. Mas, hoje, ele reclama que ficou mais difícil comprar por causa da entrada de muitos compradores particulares, uma alta na concorrência que fez os preços subirem de 25% a 30%. “Só empresas cadastradas podem comprar sucata, mas os veículos de média monta qualquer um pode comprar”, comenta.Reinaldo Antônio de Oliveira também compra e revende em leilões carros de seguradoras que passaram por algum sinistro, por considerar a modalidade de aquisição mais segura. Ele lembra que estes carros custavam, em média, 50% do valor de mercado.Mas, hoje, com o mercado bem mais aquecido, este índice subiu para até 80%. O conserto das avarias também ficou bem mais caro nos últimos meses, o que reduziu bastante os ganhos no negócio. “Antes, o lucro chegava a 50%. Hoje, caiu para menos da metade disso.” -Imagem (Image_1.2374463)