A retomada das atividades econômicas reaqueceu as vendas artigos de vestuário, mas as confecções estão com mais dificuldade para produzir. É que os preços de insumos como linhas, zíper, elásticos, botões e tecidos continuam subindo e pressionando muito os custos das empresas. Além disso, há escassez de alguns produtos, como cores de linhas e tecidos. Os problemas obrigam as confecções a reverem suas estratégias de gestão e podem restringir o lançamento de novas coleções.Uma pesquisa do IEMI Inteligência de Mercado revelou que o aumento médio dos preços de insumos como tecidos, malhas e aviamentos foi de 29,3% em 2021, comparado com a coleção de 2020, problema sentido por 96 das 100 das confecções entrevistadas no País.Para 77% delas, houve falta de insumos para a produção da coleção primavera-verão e alto verão 2021/2022 e 23% apontaram problemas pontuais em materiais. Além disso, 81% das empresas informaram que os preços das peças confeccionadas tiveram reajuste por conta dos aumentos das matérias-primas: a alta foi de 11,3% na comparação com a coleção primavera/verão de 2020.Para os confeccionistas, os preços de alguns produtos quase triplicaram. “Tudo subiu de forma exorbitante. Além disso, não estamos achando tudo que precisamos: a cartela de cores disponíveis para os aviamentos foi reduzida de 150 para 60 opções”, conta a confeccionista Alessandra da Silva Ferreira. Ela dá o exemplo do zíper, cujo preço da unidade passou de R$ 0,70 para R$ 2. A linha, que custava entre R$ 1,25 e R$ 1,70, hoje sai por até R$ 3,70. O rolo de elástico, que era vendido por R$ 16, agora sai por R$ 34.Leia também:- Onda de frio faz procura por pamonhas disparar em Goiânia- Sete artistas goianos participam de exposição em Miami- Falta de remédios persiste desde janeiro na Região Metropolitana de GoiâniaAté o metro do papel kraft, usado para produção dos moldes, foi de R$ 3,50 para R$ 11. A confeccionista, que produz para lojistas, lembra que os tecidos também dobraram de preço e a saída foi abandonar a produção de peças sob medida, já que muitos clientes não entendem a necessidade de reajustes. O custo dos aviamentos também foi repassado para os clientes do atacado. “Não conseguimos mais embutir isso nos preços das roupas como antes”, destaca.O preço do algodão, que é a matéria-prima base para vários insumos de confecções praticamente triplicou de dois anos para cá. Tecidos como poliéster e viscose também estão bem mais caros. O responsável pelo departamento de compras do Grupo Sallo, Fábio Gomes Ferro, lembra que o custo destes insumos interfere em toda cadeia produtiva. “Muitos são produtos importados que sofreram influência d da alta do dólar, da Covid na China e até da guerra na Ucrânia. Os aumentos são galopantes desde 2020”, destaca.Com o mercado mundial aquecido, as confecções brasileiras ainda sofrem a concorrência das exportações de algodão. Segundo Fábio, os prazos de entrega também estão altíssimos, chegando a 90 dias. Com tantos problemas, uma saída tem sido fazer adaptações em produtos para evitar repasses ao consumidor, que já está sem poder de compra. “Mas como toda crise traz oportunidades, as empresas também estão desenvolvendo novos produtos, programando melhor suas compras e investindo em ações para reduzir os custos, o que inclui até a opção por determinadas cores”, destaca. Fábio dá o exemplo da recente escassez de embalagens, que abriu o mercado para as linhas de produtos sustentáveis.O objetivo é mitigar os impactos. Para o empresário Rodrigo Toledo de Menezes, diretor do Sindicato das Indústrias de Vestuário de Goiás (Sinvest) e proprietário da Tolledo Sports, a alta de custos se tornou um grande gargalo para os negócios. Ele lembra que, quando não havia inflação, os reajustes eram anuais. De 2020 para cá, eles chegam a ser mensais. “Temos contrato com os clientes, que não aceitam reajustes fora dele. Mas agora estamos incluindo cláusulas que permitem negociações quando há aumento expressivo de preços dos insumos”, conta.Rodrigo lembra que o poliéster subiu 110% desde 2020, além de altas até no papel e tinta para impressão de estampas nas camisetas. “Até o frete tem impactado, já que tudo vem de São Paulo”, destaca. “A principal saída tem sido aumentar a eficiência para repassar o mínimo possível ao cliente e não perder a competitividade, mas a margem está cada vez mais espremida”.