As plataformas de transporte por aplicativo 99 e Uber anunciaram, na semana passada, reajuste nos preços com objetivo de compensar os motoristas pela escalada no valor dos combustíveis, o que ocorreu em todo o País. Apesar disso, para os profissionais que atuam em Goiás, ainda há desequilíbrio entre os ganhos e os custos para manter os veículos e ter renda compatível para dar conta dos aumentos, em especial da gasolina.Com a guerra na Ucrânia, o preço do petróleo disparou no mercado internacional e as consequências com o aumento repassado pela Petrobras são percebidas nas bombas dos postos desde a semana passada. A gasolina ultrapassou R$ 8 no Estado. Devido a esse patamar, o representante de profissionais de aplicativos Miguel Veloso avalia que ainda foi pequena a mudança, que começou a ocorrer nesta segunda-feira (14), no preço pago pelas plataformas.“Tinha a possibilidade de fazer manifestação, mas resolvemos sentir qual será de fato o resultado final com esse reajuste.” A 99 anunciou alta de 5% no quilômetro rodado pelo motorista nas 1,6 mil cidades onde a empresa opera no Brasil. Segundo nota encaminhada para a imprensa, “o objetivo é anular o último aumento anunciado para o litro da gasolina”. Enquanto isso, a Uber informou um reajuste temporário de 6,5% aplicado nas viagens, que “também visa ajudar os motoristas a lidar com o pico de alta em seus custos”.No entanto, para Miguel e outros representantes da categoria, a alteração ocorre com atraso e pode não compensar, o que reflete ainda a dificuldade do usuário em encontrar motoristas. “Isso tende a permanecer, porque o preço alto, acima do valor dos ganhos, com viagem mínima de R$ 4,90, não compensa”, pontua ele ao lembrar que não é só a gasolina, mas tem manutenção de carro e aluguel para alguns. “No final, o trabalhador não consegue levar de fato o mantimento para dentro do lar e fica complicado.”ParalisaçãoDiante desse cenário, o diretor para aplicativos da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Dudu Garcia, diz que apesar de só existir movimentos isolados, há esforço nacional para promover uma paralisação dos caminhoneiros, no dia 29 de março, e tratativas para que os motoristas de aplicativos possam se juntar a eles para reivindicar ao governo federal a redução dos combustíveis.Ele explica que o momento é de contabilizar para ver o resultado final das contas com os reajustes realizados pelos aplicativos. “Temos de verificar ainda na prática, porque é um paliativo, uma resposta que efetivamente não acredito que atenda.” A dificuldade de contabilizar também ocorre porque nem todos os postos repassaram o aumento ocorrido na gasolina, pois o processo é gradual.Do lado do passageiro, Dudu não acredita que possa ocorrer uma queda na procura diante da crise econômica, porque já foi incorporado no dia a dia das pessoas e o serviço de transporte público ainda é alvo de muitas críticas. “O que tem de fazer é o motorista sentar e ver o que é mais viável, o etanol tem custo mais baixo apesar do consumo maior, mas é o insumo principal que faz diferença.”Em Goiás, assim como em Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso, o litro do etanol está mais competitivo do que o da gasolina, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O que passa a ser uma alternativa também para os profissionais de apps. Porém, essa diferença ainda leva tempo, como argumentam os representantes da categoria. Um dos motivos para isso é o fato de que com a chuva a procura pelas viagens se mantém aquecida e pode demorar um tempo para que os profissionais de fato percebam o quanto as alternativas ajudam a manter o serviço.Vice-presidente da Associação dos Motoristas de Aplicativo do Estado de Goiás (Amago), Rodrigo Vaz completa que a gasolina ou etanol representam até 50% da soma dos gastos. “Por isso, hoje a conta não fecha. Se colocar na pauta, o motorista não trabalha. A diferença com o reajuste pode ser de centavos”, reforça.CaminhoneiroPresidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Cargas (Sinditac Goiás),Vantuir Rodrigues explica que a situação é semelhante para os caminhoneiros. “Muitos já estão parados, sem manifestação, porque não têm como fazer o trabalho. Eu estou parado. Mas a situação sem o caminhoneiro autônomo não é boa, vai virar um caos”, alerta.Enquanto não ocorre aumento do frete diante da escalada do diesel, essa outra categoria também vive incertezas. “Não temos condições, porque trabalhamos para ganhar em real e convivemos com os preços acompanhando o dólar. Nunca vamos dar conta. Só que os caminhoneiros são essenciais”, pontua ao lamentar a falta de união.Mesmo em alta, etanol se mantém competitivoO etanol em Goiás tem se tornado alternativa à gasolina com os últimos aumentos aplicados pela Petrobras no combustível fóssil. Ainda que o biocombustível esteja há duas semanas em alta nas usinas e que tenha voltado a subir nas bombas. O presidente do Sindicato da Indústria de Fabricação de Etanol do Estado de Goiás (Sifaeg), André Rocha, avalia que há influência da oferta e da demanda. “O que está acontecendo com o nosso setor é que, de novembro para janeiro, apesar da entressafra, com queda da demanda, nós tivemos redução de mais de R$ 1 real nas usinas. Isso não é comum. Agora, estamos na fase final da entressafra.” A safra inicia em abril, mas com atrasos previstos que já são justificados pelas condições climáticas e problemas com incêndios vivenciados em 2021.Isso impactou o desenvolvimento da cana-de-açúcar. Já em 2022, os produtores não têm tido o que reclamar de chuva, sol, mas ainda precisam de bom tempo em abril e maio. “Por um lado, ainda estamos com um nível de estoque bom e não temos preocupação em faltar o produto. Mas não estamos com muito. Se tiver demanda grande, corre o risco de aumento de preço.” O etanol está mais competitivo do que a gasolina porque, em média, rende 70% do que o combustível fóssil proporciona para os veículos. Assim, ao fazer as contas, o consumidor pelo menos em Goiás, no Mato Grosso, em Minas Gerais e São Paulo percebe que há maior vantagem em abastecer com o biocombustível. O tempo que isso vai durar, não se sabe, pois há entressafra e um aumento de procura pode elevar os valores. “Mas esperamos que ocorra a substituição no País e possamos recuperar o share de venda”, conclui André.-Imagem (1.2419483)