O que a confeiteira Luciana Francisca Lima Brandão, 32 anos, aprendeu desde menina com a mãe e vem aperfeiçoando com informações na internet, tem lhe ajudado a obter renda para enfrentar as dificuldades acentuadas durante a pandemia da Covid-19. Ela faz bolos e docinhos de festa e em julho decidiu investir mais na produção destinada a clientes da vizinhança, no Setor Independência das Mansões, em Aparecida de Goiânia, onde mora em lote dividido - de um lado, ela, o marido e a filha de 9 anos, do outro, o pai e um irmão.“Produzo em uma salinha simples na minha própria casa”, descreve, explicando que antes dos riscos do novo coronavírus, trabalhava fora, deixando a filha com a mãe, que morreu há cinco meses. Pelo medo de contágio, decidiu trabalhar em casa e cuidar ela mesma da filha. Não tem sido fácil, “tem semana só com uma encomenda, e não adianta colocar o preço lá em cima, o valor do quilo é baseado no mercado local”. Luciana é uma das mulheres da Região Metropolitana de Goiânia, de baixa renda, que estão participando do programa Bora Agora #empreender, iniciativa do União GO, movimento da sociedade civil que reúne voluntários e organizações não governamentais, e da Grifa, plataforma de investimento social. A CUFA Goiás, a Goiás Júnior e a UFG são parceiras.O programa ofereceu capacitação em empreendedorismo para 20 mulheres, sorteadas dentre mais de 100 inscritas. Desde setembro, elas participaram de cinco módulos de aprendizagem - criatividade, vendas e finanças, atendimento, gestão e marketing -, o último deles realizado no sábado, dia 10. Receberam 100 reais em ajuda de custo, o material do curso e lanches nas atividades presenciais.“O aprendizado abriu muito minha mente. Do lado emocional, aprendi a valorizar meu trabalho. Eu não sabia falar não para cliente, agradava, mas acabava sendo prejudicada”, avalia a confeiteira. “Hoje, tenho mais segurança pra negociar.” Otimista, faz planos sobre os 500 reais que todas as que concluíram os módulos vão receber por meio de uma doação de pessoa física ao programa. O auxílio financeiro, chamado de “capital semente”, é para investimento no negócio próprio. “Quero comprar matéria-prima para trabalhar.” ArticulaçãoUma das fundadoras e conselheira do União GO, a empresária de segmento de marketing de experiência e eventos Juliana Veiga, 38 anos, explica que o movimento apartidário surgiu devido à crise provocada pela pandemia. O Bora Agora #empreender foi elaborado somando experiências. “Nosso papel é de articulação entre quem quer doar e quem precisa receber.”Segundo Juliana, a meta é não ficar só no assistencialismo, na filantropia, mas dar condições de maior autonomia às pessoas beneficiadas, com resultados imediatos, mas também de médio e longo prazos. As históricas desigualdades de gênero e renda no Brasil se agravaram durante a pandemia do novo coronavírus, observa a conselheira, ao enfatizar a necessidade de incentivar a capacidade feminina de empreender. Mulheres amparadas pelo auxílio emergencial precisam mesmo encontrar meios de garantir o sustento após o fim do benefício, em dezembro. Estudo da Fundação Getulio Vargas aponta que 38 milhões de brasileiros devem ficar sem assistência com o término dessa política de transferência de renda, cujos maiores beneficiados têm sido trabalhadores informais e mulheres. São elas que chefiam metade dos lares brasileiros, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As orientações para mulheres interessadas em empreender ou que já o fazem de modo informal levam em conta essa vulnerabilidade social.Para a cozinheira Maria das Dores Sena Rosa, de 55 anos, moradora no Setor Santa Genoveva, as vendas de marmitex, que faz com a irmã, devem ser impulsionadas assim que abrir um bar para servir “jantinha”. Uma das sorteadas para a capacitação em empreendedorismo, ela diz que aprendeu a investir e a usar melhor os recursos de que já dispõe. O projeto do bar, porém, foi adiado para 2021, porque a irmã sofreu fratura no tornozelo e ficará de repouso nos próximos meses. “Depois disso, vamos alugar o bar que fica na frente da casa onde ela mora.”Definir públicoOutra participante do programa, Joselma Silva de Macedo, a Zelma, de 38 anos, pretende definir melhor o público que pretende alcançar. Há um ano, ela vende em domicílio roupas infantis, femininas e masculinas que compra na Região da 44 e tem uma lojinha em casa, onde vive com o marido, uma filha e outros dois 2 filhos dele, que é caminhoneiro. O que ela ganha contribui para a renda familiar. “Aprendi muito e a monitora deve ajudar, com acompanhamento, durante um ano”, diz Zelma, confiante. Entre o que assimilou de mais importante, destaca como atender o cliente e separar o dinheiro pessoal do dinheiro da loja, “um problema que eu tinha”. Também menciona maior divulgação do negócio por redes sociais.-Imagem (Image_1.2132722)