A recomendação da Rússia para que seus produtores de fertilizantes suspendam as exportações aumentou a preocupação quanto à disponibilidade e preços do insumo. O mercado brasileiro ainda está abastecido para os próximos meses, mas a oferta vai depender de quanto tempo deve durar o conflito. Mas esta situação confortável só vai até o início do plantio da próxima safra 2022-2023, que ocorre no segundo semestre. Além disso, os preços já apresentam uma nova tendência de alta e há o risco de haver uma corrida para antecipação de compras por parte dos produtores, o que poderia ajudar a inflacionar ainda mais este mercado. Cerca de 70% do fertilizantes usados na agricultura vem do exterior e a Rússia é a principal fornecedora, com cerca de 23% do total importado em 2021. O motivo alegado pelos russos para a suspensão das exportações de fertilizantes foi a dificuldade logística para o escoamento por causa da guerra. "Caso a situação persista, a redução da oferta do mercado mundial e altas de preços serão inevitáveis", alerta o coordenador institucional do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária (IFAG), Leonardo Machado.Para evitar futuros problemas de abastecimento, a ministra Tereza Cristina já iniciou negociações para ampliar as compras do Canadá, que já responde por 30% das importações de potássio feitas pelo Brasil, enquanto Rússia e Belarus exportam outros 45%. Mas Leonardo acredita que o Canadá pode ajudar a suprir boa parte da demanda brasileira, pois tem capacidade para elevar sua produção, pois contam com jazidas para isso."Por enquanto estamos relativamente tranquilos. A preocupação maior é com o plantio da próxima safra, a partir de setembro", destaca. Mas vale lembrar que os produtores costumam comprar seus fertilizantes antes disso. O coordenador do IFAG não descarta a possibilidade de haver uma corrida para antecipação das compras, principalmente por parte de produtores mais capitalizados. "Ainda não vimos este movimento. Por enquanto, eles têm apenas consultando a disponibilidade e preços dos produtos no mercado. Mas isso ainda pode ocorrer", avalia. Já o produtor de soja e milho Adriano Barzotto não acredita que o Brasil tenha problemas de oferta de fertilizantes a curto prazo, antes que o conflito termine. "Ainda temos muito tempo até a safra, cerca de sete meses. Ainda não acredito em falta para esta safra", diz.Uma das maiores preocupações é a evolução dos preços dos fertilizantes, que já havia mais que dobrado no ano passado. No porto de Vancouver, no Canadá, a tonelada do cloreto de potássio saiu de US$ 279, em maio de 2021, para US$ 680 em dezembro. Agora, o preço do insumo já passa dos US$ 700 em Vancouver.A Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) informou que o Brasil tem fertilizantes pelo menos para os próximos três meses, que o volume da reserva está acima da média dos anos anteriores e que acompanha os impactos sobre o setor. Apesar do Brasil não estar incluído na recomendação de suspensão das exportações pela Rússia, a ministra Tereza Cristina lembrou que o País não tem como receber os insumos. Isso porque o comunicado russo cita a recente suspensão do transporte de contêineres em direção ou com partida da Rússia por parte de grandes empresas de transporte marítimo, depois das sanções ocidentais. Na última quinta-feira (3), a ministra afastou qualquer possibilidade de o Brasil receber fertilizantes da Rússia e Belarus, enquanto a guerra durar e que o estoque é suficiente até outubro.Embrapa vai ajudar produtor a reduzir consumoDentro do plano nacional de fertilizantes, a Empresa Brasileiro de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) quer aumentar de 60% para 70% a eficiência no uso de fertilizantes no País e economizar US$ 1 bilhão no uso desses produtos na próxima safra. Isso será possível através da formação de uma 'caravana de apoio técnico' aos produtores rurais, chamada de Caranava Embrapa FertBrasil. A ação, que já começa no próximo mês de abril, foi montada pela Embrapa para reagir “em curtíssimo prazo” ao conflito no Leste Europeu. Os técnicos da instituição vão fornecer treinamento para produtores, cooperativas e associações. O objetivo é promover o aumento da eficiência de uso dos fertilizantes e insumos no campo, diminuir custos de produção dos produtores rurais e estimular a adoção de novas tecnologias e de boas práticas de manejo de solo, água e plantas.A meta da Embrapa é promover uma economia de até 20% no uso dos fertilizantes no Brasil, já na safra 2022/23. O presidente da Embrapa, Celso Moretti, lembrou que, para aplicar adubo, primeiro é preciso fazer uma análise do solo para ver o que está faltando. O problema é que nem sempre isso acontece. Por isso, a iniciativa pretende dar todas as orientações técnicas nas principais regiões produtoras do Brasil.O país é o quarto maior consumidor de fertilizantes, atrás apenas de Estados Unidos, China e Índia. A diferença é que estes países são grandes produtores mundiais do insumo. A Embrapa também já anunciou que quer diminuir a dependência do Brasil em relação ao mercado internacional. A meta é reduzir em 25% a demanda por fertilizantes importados até 2030.