Os novos hábitos impostos pela pandemia da Covid-19 provocaram mudanças estruturais no comportamento de compra do consumidor, que ficou mais exigente e desconfiado, mais atento à relação custo-benefício e cada vez mais multicanal. Os novos hábitos de consumo e tendências da comunicação no cenário pós-pandemia foram apresentados nesta terça-feira (30) a representantes do mercado publicitário goiano pelo presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, durante um evento de conteúdo, realizado pela TV Anhanguera, na sede do Grupo Jaime Câmara.O evento deve contribuir para o planejamento de estratégias de marketing de publicitários e empresas. Para Renato Meirelles, quatro fatores condicionaram os hábitos de consumo na pandemia: a queda na renda das famílias, a proteção contra a doença, a nova centralidade do lar e as emoções, sentimentos e percepções do contexto. Houve uma transformação de prioridades, necessidades e preferências de consumo. “Este consumidor passou a se preocupar mais com o que a marca estava fazendo pela sociedade naquele momento”, lembra.Entre as mudanças estruturais no pós-pandemia, Renato cita um consumidor que procura novos canais de venda, além do varejo tradicional. Muitas vezes, ele pesquisa internet e vai comprar na loja física. Além disso, é um consumidor que também passa a consumir mais no delivery, principalmente produtos ou serviços de compra mais recorrente. Por outro lado, a casa passou a ter uma importância muito grande no seu processo de compra. “Vínhamos numa tendência de ter apartamentos cada vez menores. Mas depois que as famílias passaram mais tempo dentro de casa, ela ganhou um papel mais relevante e aumentou a demanda por moradias maiores”, destaca.Leia também:- Goianos consomem mais turismo de luxo no País- Empresas preparam sucessão familiar mais cedo em Goiás- Lei que amplia participação das mulheres no Corpo de Bombeiros é sancionada em GoiásOutra questão que mudou é um consumidor muito mais criterioso em suas escolhas. Ao ficar mais tempo em casa, ele descobriu muita coisa que não usava mais, o que fez crescer o mercado de venda de produtos de segunda mão, através de novos sites e aplicativos. “O efeito da compra por impulso também se modifica neste consumidor”, destaca o pesquisador. Até o recente aumento da inflação modificou comportamentos de consumo, pois 76% das pessoas precisaram reduzir a compra de alguns produtos e serviços e 71% tiveram que trocar de marca, o que abriu oportunidades para marcas regionais que investem mais em qualidade. “Se o consumidor descobrir que este custo benefício é bom, não vai mais voltar para as marcas líderes.QualidadeVale lembrar que o posicionamento de uma marca não deve considerar só o preço, mas investir na percepção de qualidade. Apesar de 70% dos brasileiros observarem mais o preço hoje, só 17% aceitaram abrir mão da qualidade. Mas Renato lembra que este novo consumidor radicaliza mais na relação custo-benefício, buscando mais qualidade, mas dentro do que cabe no seu bolso. Além disso, é importante observar as tendências de consumo por classe na hora de direcionar as ações de marketing. Quanto mais básico o produto, como alimentos, maior é a participação das classes C, D e E no consumo, por exemplo. Enquanto o público de menor renda tem consumidores mais jovens e de menor escolaridade, as classes A e B têm mais pessoas de maior idade e nível de instrução.Outra mudança importante foi que as pessoas passaram a dar maior atenção à saúde e ao bem-estar, adotando novos padrões de higiene. O pesquisador lembrou que a vivência da crise também trouxe uma maior racionalidade na hora da compra, pois pagar caro nunca foi tão oneroso. “Além disso, 89% dos consumidores dizem que hoje têm mais consciência de seus direitos quando vão às compras do que há dez anos”, alerta.A crise também estimulou o fim das fronteiras entre canais. Na busca por manter seu padrão de compra, o brasileiro passou a transitar mais pelos canais, o que aumentou o poder de comparação e reforçou o nível de exigência. “Cada vez mais multicanal, o consumidor espera encontrar no varejo uma solução integrada de portfólio, crédito e relacionamento”, ressalta.Marcas podem aproveitar novas oportunidades ouvindo o clienteAs marcas podem aproveitar as oportunidades advindas de um novo contexto de consumo entendendo melhor o perfil do consumidor pós-pandemia. Por isso, o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, em palestra nesta terça-feira (30) na sede do Grupo Jaime Câmara, disponibilizou ao mercado goiano informações que só estão disponíveis a grandes anunciantes do Brasil para que as marcas regionais tenham as mesmas condições de competir com as multinacionais. “As marcas que saírem na frente ouvindo seus clientes terão uma vantagem competitiva muito grande neste cenário da retomada da economia”, destaca. Ele lembra que, hoje, as empresas tentam se comunicar com seus clientes de forma multidisciplinar. “A internet é importante para pesquisa de preços, mas para dizer que uma loja está em oferta, veículos como a televisão, rádio e jornal têm alcance maior”, alerta.Além disso, o levantamento da Locomotiva & PWC mostra um acesso desigual à internet, pois 45% dos brasileiros ainda estão desconectados ou subconectados, outros 26% estão parcialmente conectados e só 29% são plenamente conectados. “A disputa por ser a primeira marca do consumidor não é uma questão que será facilmente respondida pelos meios digitais. Por isso, a melhor solução é ter uma comunicação multidisciplinar, que ofereça conteúdo e informações ao consumidor, mas também brigue pelo top of mind, para ser a primeira a entendê-los”, explica. A expectativa, segundo ele, é de início de um ciclo de retomada econômica.-Imagem (1.2520051)